sábado, 14 de abril de 2007

(pat)ÉTICA

Saturado de ouvir republicanos de várias bandas com a boca cheia de ética, dei comigo a remoer um solilóquio de Ética Monárquica, pela tensão com as vigências que é subsumível ao título, enquanto estas o são pela incongruência relapsa. Lembrei-me da famosa frase de Raul Proença, "A República, para os «bons republicanos», é um regime em que não há um Rei a governar - e em que eles se governam". Claro está que as aspas deitadas visavam excluir dessa ironizada bondade Autor e leitores que lhe fossem simpáticos, reduzindo aos adversários internos dentro dos adeptos dessa circulante Forma de Estado o odioso da promoção do interesse próprio.
É porém evidente que na própria essência significante da teorização republicana está presente essa chaga. Se não reduzida ao menor denominador comum do latrocínio, ao menos, mascarada pela fatiota vistosa da participação cívica, a arrogância de confiar no juízo próprio para se ir propondo, ou fazer vingar procuradores de si, quer dizer, marionetas nobilitadas pela magia que se quer dar à palavra "mandato".
O que importa de todo proscrever é a soberba que acredita ter direito a escolher agentes e caminhos nas funções soberanas da Comunidade. Restrita a escolha a partir de baixo às pastas técnico-sociais, num nível concelhio, muito bem, desde que o sufrágio se não desenrolasse com base em listas partidárias, devendo a escolha recair formalmente perante o indivíduo X ou Y. No que toca à Política Externa, ao que resta das Finanças, ao que sobrevive da Justiça de da Defesa e aos restos da Segurança a única atitude que dignifica um indivíduo é a disponibilidade para servir, se chamado por Quem está acima e não foi eleito, o contrário da ambição ao penacho e/ou ao poder, sempre visível nas altercações deprimentes que precedem o discurso "unitário" final da apresentação dos candidatos de cada facção. É esta a única Ética que em política merece o nome - a que não briga para se elevar, mas se eleva esperando uma chamada legítima, já que não-proveniente de um qualquer congénere que tenha vencido pelos mesmos caminhos ínvios.

2 comentários:

cristina ribeiro disse...

Meu Caro,
A cada dia que passa-e o decorrer do tempo traz-nos muitas vezes a descrença naquilo em que antes acreditámos-,vou perdendo a fé que tinha na "ética"daqueles que,através dessa"participação cívica",são alçados ao poder.
Não que,idealmente,tivesse deixado de acreditar nessa participação;mas a realidade dos nossos dias
tem-se encarregue de fazer com que nela descreia,a ponto de duvidar se não será uma utopia:bela,mas inatingível;algo em que queremos muito acreditar,mas de concretização impossível.
Confesso que me custa ter que encarar esse "fracasso",mas depois penso que ,um dia,talvez ela seja possível,como terá sido já,noutros momentos da História,sob a Monarquia,é certo:estou a pensar concretamente em João Franco,que foi eleito pelos Vimaranenses do Séc.XIX.
Pode ser-dizem que a esperança é a última a morrer-que o desgaste deste novo rotativismo a isso conduza.

Beijo

O Réprobo disse...

Caríssima,
há verdadeiramente fés que não merecem Quem algum dia as cultivou. O paralelo com o Rotativismo da Monarquia, também eleiçoeiro, tem toda a razão de ser. Mas onde Eça dizia que "há governos que estão gastos, impõe-se a constatação de que, presentemente, é o próprio regime que se apresenta coçado. Ou surrado, o que espero venha a mostrar-se também noutra acepção, mais justiceira, que a coisa não vai lá com meros paliativos, embora plenos de boa intenção, como o de João Franco.
Beijo