domingo, 27 de maio de 2007

Para o Despertar de Mme Bomba

Otelo e Desdémona, de Alexandre Marie Colin

Prosseguindo,
de tanto ouvirmos dizer que "o ódio é a cólera dos fracos", tendemos a interiorizar a última como prova de força. No fim de contas esta vazão da Ira, que é o que nos interessa, é sempre uma diminuição do Homem, ainda que para o alheamento dominante possa ser um auxiliar que o torne palpável. Bacon já dizia que "um homem irado que abafa as suas paixões pensa pior do que fala e se lhes soltar a rédea falará pior do que pensa". Desperta pois reacção ambígua, como conduta irreflectida é lamentada, como ausência de cálculo - e mais, da sua necessidade - é enaltecida. Os mais militantes dos ateus tentaram ver na Ira o solitário pecado que as Escrituras expressamente atribuem a Deus. Porém o Santo Padre, quando ainda o não era, já explicou a imagem como pura consequência da opção humana que afasta do ideal da Perfeição para zona em que a consequência esteja omnipresente.
Quando um destinatário de uma qualquer ira é condenado pelo espectador aquela que sobre ele recaia pode despertar tanto o sentimento de que foi merecida como o de que nem tal valia a pena. E tanto pode o entendimento firmar-se no desprezo que lhe seja creditado, como na estima que se nutra pelo que perdeu o domínio de si. No fim de contas a abstractização dos Sete Pecados Capitais, como a generalidade de raciocínios deste tipo, é ilegítima, porque só o caso concreto justifica e conduz adesões e condenações.
Um Bispo americano sentenciou a Ira como "auto-imolação". Mas sabe-se como o sacrifício também frequentemente ganha valor...
Como podereis ver, Acedia é que não abunda por cá: o humor é sempre mais estimado, eficaz e... indesculpável do que uma vociferação.

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