quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Fogo no Gelo

Sem lá nunca haver posto os pés, sempre tive um fraco pela Finlândia, cuja composição homónima de Sibelius aqui se ouve. A bravura que fez suar o Exército Vermelho, a paixão pelo Atletismo, etc. e tal. Daí que mereça especial cuidado a abordagem dos tiros que emsombraram a tranquilidade de uma escola deste hoje pacato País. A informação sobre o autor é tão abundante como contraditória. O perpetrador da façanha é dado ora como um garoto normal, ora como um perigoso indivíduo associal, fanatizado pelo manejo de armas, ou ainda como uma vítima de assédios e outras malfeitoras de condiscípulos seus. A confusão habitual que revela a incapacidade coeva de explicar a violência adolescente em meios pouco propícios à vitimização da Juventude, a qual desenvolve uma insana obsessão de negar a tendência inata da adolescência para o Mal.
Interrogam-se agora as boas almas sobre o que pode ter falhado no sistema escolar que permitiu tal aberração. A ser verdade a admiração simultânea por Hitler e Estaline que o protagonista do caso nutriria, talvez a resposta devesse assentar nas cadeiras de História e de Introdução à Política, que não foram capazes de o instruir sobre a impossibilidade lógica de servir dois amos, nem de lhe revelar Calígula, Heliogábalo, Tamerlão ou a repressão da Vendeia, certamente exemplos do Passado muito mais adequados a inspirá-lo.
O facto de ter tirado uma licença e entrado num clube de armas também não abona grande coisa em favor da tese da associabilidade, muito melhor servida por em eventual adquirente ilegal de armamento, como de um auto-marginalizado em extremo a quem repugnasse pertencer a associações integradas.
O mal-estar vem todo, a meu ver, de o facto não ter ocorrido na sociedade Norte-Americana, tida por violenta e com episódios paralelos, de recorrência no mínimo sazonal. E, bem assim, da herança rousseauneana, que continua a comover-se com os estragos que considera a vida numa sociedade organizada provocar na inocência, se não do Homem, ao menos na juvenil. Sem abrir os olhos para o facto de que essa fase da vida é a mais perigosa por, justamente, ser aquela em que é mais fácil excepcionar-se da moralidade resultante da oposição entre o Bem e o seu contrário. E também a que desenvolve a sede de notoriedade a qualquer preço, o que a gabarolice postada no YouTube ajuda a confirmar. Mas a Comunidade, cega, encara sempre como "brincadeiras" qualquer aviso prévio destas tragédias.
Só espero não ter de ler, como no sucedido há dois anos num estabelecimento de ensino norte-americano, internautas solidários, dizendo que ninguém deve julgar o assassino e que ele tinha feito muito bem em cumprir o seu destino. Já chegou uma vez.

6 comentários:

Ricardo António Alves disse...

Formidável Sibelius!
Olha, vai ao voice mail.
Até amanhã.

PA disse...

Desculpe a ousadia, mas coloquei-o naquela corrente do livro mais à mão para citar.

O Réprobo disse...

Meu Caro RAA,
obrigadíssimo, já fui e cá Te espero.
Abraço

O Réprobo disse...

Meu Caro Príncipe Valente, nada a desculpar, eu é que me desculpo, pois já entrei nela, pegando na deixa das «Monstruosidades do Tempo e da Fortuna». O RAA, logo acima, também já me voltou a desafiar. Se der alguma coisa aproveitável ainda botarei faladura.
Abraço

Anónimo disse...

Caro Paulo,
vim só agradecer os dedos cruzados!
Já estou em casa, e agora só tenho de respeitar as ordens médicas, repousando.
Beijo

O Réprobo disse...

Linda Menina! Vingue-Se e crie um blogue. Desde que não desapareça deste, evidentemente.
Convalescença rápida e beijos de todos nós.