quinta-feira, 26 de abril de 2007

Explicação dos Pássaros



Os resultados da primeira volta das Presidenciais francesas suscitaram uma série de análises em Portugal que, quanto a mim, não se debruçam sobre o essencial. Aos meus olhos este seria a medida em que os dois finalistas rompem com a prática política anterior e não a dose em que a continuam, pois não era crível que um oriundo de partido integrado viesse a operar transformações radicais no quadro constitucional. Desta expectativa modesta, não só Madame Royal afrontou os barões partidários que contra ela concorreram, como propõe uma modificação por cá pouco falada, mas que merece reflexão - a criação de um mecanismo análogo ao do impeachment para o Chefe de Estado, acabando com a impunidade e irresponsabilidade que actualmente o favorecem. Depois dos três últimos titulares do cargo, a política gaulesa precisa disso como de pão para a boca. E esta fronda anti-abusos dos poderosos pode ser a chave do sucesso da candidata. Resta saber se o tom do seu discurso celebrativo da passagem ao segundo turno, fastidioso e lido à maneira de uma colegial, a beneficiarão, cativando a simpatia do generalizado sentimento contra os políticos, à Bush, ou se a farão passar por incapaz.
Já Sarkozy tem o problema do cobertor, claro, no puxar para o candidato gaulista o eleitorado da UDF, o que não pareceria difícil, por ser coisa a que este está mais do que habituado. Mas é aqui que entra Bayrou, o qual, ao não apoiar nenhum dos seus vencedores rivais e anunciar novo partido, parece querer transformar a UDF num fiel da balança, tal e qual os Liberais alemães durante muitos anos e não no comparsa menor de uma coligação, como foi durante grande parte da V República. Mesmo a façanha máxima da história da agremiação, a eleição de Giscard, passa hoje por malfeitoria indisputada, quer pelo que se revelou o eleito, quer por só ter tido sucesso graças ao apoio de Chirac contra o candidato proveniente do seu próprio RPR, Chaban-Delmas.
E é aqui que Sarko se pode jogar como revel ao Sistema, pois o desvio que fez de um partido que o Chefe de Estado cessante sonhou como transformador da herança de De Gaulle em consolidação do Chiraquismo, inclusivé na vertente que o salvaguardasse de responder perante a Justiça por falcatruas suspeitadas, pode modificar toda a ratio da UMP e da ética política francesa.
Claro que os malefícios dos partidos continuam, inquebrantáveis. No que toca à honradez dos intérpretes é que os actuais presidenciáveis têm uma palavra a dizer.
Pobre França, quanto caiu!

7 comentários:

Anónimo disse...

»Pobre França, quanto caíu!»

Se fosse só a França, meu Caro!

Mas boa análise, como sempre.

Abraço.

O Réprobo disse...

Carlos Portugal, cfom a denúncia nopróprio nome,
Ah pois, bem sabemos os passarões que por cá temos. Em França o que choca é que, depois da repugnância das opções políticas, se conseguiu ainda mergulhar na literalidade mafiosa, com os assessores do Padrinho, Tiberi, Juppé & C.ª.
Abraço

Anónimo disse...

Bueno, el Cardenal Richelieu también era francés......¡Nada nuevo bajo el Sol!

O Réprobo disse...

Bem, Caro Çamorano, e se pensarmos na venalidade de Chirac e sus muchachos, relembrar Mazarino também não parece descabido...
Abraço

Anónimo disse...

Amigo Paulo: "muchachos" ciertamente "talludos".......Ab.

O Réprobo disse...

Ehehehehehehe!
Abraço

Anónimo disse...

Sarkozy, amigo de España