sábado, 21 de abril de 2007

O Direito de Usar Armas

Fabricando Aristocracia, de Darwin Leon


Foi sem surpresa, mas com o desacordo habitual, que verifiquei recair a tónica maioritária das análises do último morticínio escolar estadunidense no debate sobre a restrição ou não do mercado de armas. Ninguém se deu ao trabalho de recordar que o sonho americano colhe o que semeou: generalizou o direito de andar armado, como reacção aos que na Europa o tinham, encontrando-se estes, no entanto, proibidos de trabalhar, pois era funcional a sua razão de existir: defender a Comunidade. Ao permitirem a todos acumular o sucesso profissional com a lei da bala que facultasse ao mais rápido no gatilho afirmar-se, foi criada uma nova concepção de aristocracia, fazendo reviver as antigas, mas rebaixando o conceito com o caminho do materialismo concorrencial, coisa alheia ao espírito enformador da noção de Nobreza no Velho Continente, colaboração com o Poder e não seu livre exercício. Claro que era o caldo de cultura ideal para os deserdados e desequilibrados reagirem com desesperos lúgubres. E quando as duas características se reúnem num só indivíduo, que alvo mais fácil do que os universitários, proto-elite aspirante ao sucesso, mas sem possuir ainda os meios de pagar guarda-costas e fechadíssimos condomínios protectores?

4 comentários:

Flávio Santos disse...

Bem visto, meu caro. E o mesmo se pode dizer de boa parte dos países do continente americano, do México ao Brasil.

O Réprobo disse...

Muito Caro Fsantos,
esses países da América Latina vivem o insanável drama de se forçarem a admirar as origens e enformações políticas norte-americanas enquanto se condoem do predomínio do dominador continental e do insucesso que se diagnosticam na relação com ele. Poderíamos desejar que neles o catolicismo corrigisse algumas das pechas originárias do ressabiamento do vizinho de cima, infelizmente é a ética calvinista que, como ideal, faz furor entre as classes letradas respectivas, apesar de manifestos sonoríssimos em contrário...
Abraço

Flávio Santos disse...

Sim, mas também a forma como muitos senhores da terra impuseram a lei da bala, no século XIX, ajudou a criar o actual estado de coisas, tornando-se "normal" resolver problemas ao tiro.

O Réprobo disse...

Oh, sim, Caro FSantos, o triunfo da jagunçada!
Abraço