quarta-feira, 9 de maio de 2007

Jogos de Câmara

O Casal e a Caverna de Jorge Estrada

A voracidade televisiva por desaparecimentos de crianças pode encontrar as legitimações que queira. Desde logo a de mobilizar os telespectadores para participação no esforço de as encontrar. E não sou inocente ao ponto de não saber que as declarações certas, pretensamente deixadas escapar pelas Polícias e difundidas pelos Media, podem confundir os raptores, embora duvide da inteligência para o efeito necessária em todos os nossos jornalistas. No caso da pequenina inglesa, que com todas as forças espero que apareça sã e salva, surge, no entanto, uma dúvida forte - a atenção das televisões seria igual se não fosse a telegenia dos pais e o encanto que se desprende das fotografias da desaparecida? Casos anteriores que também concitaram coberturas obsessivas parecem desmenti-lo. Mas nesses não se verificou o autêntico namoro dos cameramen com as vantagens da mãe desesperada, focando-lhe artisticamente ora os olhos, ora a boca, em zooms que quase se diriam poéticos... O mal é que este triunfo do Belo sucede na coutada que deveria pertencer ao Útil.
Tenho para mim que todo o interesse dispensado pela Comunicação Social às infelicidades infantis é tentativa apressada de se limpar da parcialidade inacreditável que na questão do aborto a maioria dela demonstrou, em prejuízo dos mais novos de todos...
*
Outra face da exposição mediática é a nova da publicação de desentendimentos privados entre Ségolène Royal e François Hollande, na sequência da candidatura Socialista derrotada. Tanto barulho à volta da possibilidade de a sua relação pessoal transpirar para as posições públicas de ambos e afinal o que se verifica é que os posicionamentos oficiais que desenvolveram obrigou a uma suadeira que pode comprometer a esfera da privacidade! E é sempre a indiscrição das reportagens que, à custa das famílias, alegremente se promove, escudando-se no dever de informar, mesmo quando o que sobressaía era o de o fazer menos.
Ainda bem que os réprobos vão tendendo para a obscuridade!

Royal Couple de Samuel Bak

3 comentários:

cristina ribeiro disse...

Caríssimo,
no caso em presença,penso que o que mais importa neste momento é que tudo se faça para trazer de volta a menina,que a estar viva ainda,deverá estar a passar horrores.
Mas compreendo-como não?-a revolta da mãe do Rui Pedro,desaparecido há anos,que,ainda há pouco se indignava ,na televisão, com a passividade da Polícia na procura do filho.
Mais uma vez se prova que o Mundo está em queda livre...
Beijo

O Réprobo disse...

E para além da diferença de coberturas, Cristina, é o quase comprazimento artístico delas que me choca.
O Mundo? Olhe para a imagem que serve de rodapé a esta pobre página!
Beijo

O Réprobo disse...

À Verdade & História:
Como Vos compreendo!
Mas a República que se despromova honrando as mãos sujas de sangue ainda que em estrita função dos méritos literários. Devo dizer que considero os de Aquilino indiscutíveis e dignos de tributo, embora me pareça total ausência de sensatez misturar um integrante de bando de assassinos com os restos mortais de muitos Familiares dos Assassinados.