segunda-feira, 28 de maio de 2007

Os Idos de Maio

Em 1926 o movimento militar que se preparava no dia que hoje comemora o aniversário queria coisa diferente dos pronunciamentos sucessivos que a República conhecera. Os primeiros preparadores foram os conspirados de sempre, muitos com honestíssima intenção, mas por isso mesmo inspirando desconfianças aos quartéis, neste caso sombras fiéis dos sentimentos do País, esgotado pelas divisões das facções. Aos vetos de guarnições a nomes conotados com esta ou aquela tendência, substituiu-se um entendimento dominante de que, para liderar, era preciso coisa diferente. Se a absoluta independência não era fácil de achar, ao menos que um prestígio universalmente reconhecido no País lhe desse os foros da imparcialidade. Estavam condenados triúnviros de várias bandas, com a emblemática situação de um dos mais entusiastas opositores ao triste estado de coisas que se vivia, Sinel de Cordes, ter de ver o desfile vitorioso à paisana, entre a assistência que vitoriava. Primeiro escolhido para encabeçar a mudança, o duplo Herói da Ocupação de África e da Grande Guerra, Alves Roçadas, na fotografia. Com a doença que o extinguiria a miná-lo, teve de ser outro. Gomes da Costa também servia, pela sua participação no C.E.P. e por ter repetidamente recusado encabeçar golpes, que nestas coisas são os que têm currículo de renitência que melhor se posicionam, pois a maioria não gosta, para o efeito, de quem ferve em pouca água. Um último terceto se confeccionou. Cabeçadas era o veterano putchista e o primeiro marcado para sair. O General vindo do Norte cumpriu o seu papel espectacular, mas a Chefia do Futuro estava reservada em breve a Quem, sem antes se ter sublevado, o fazia agora, por, como o País, não conseguir suportar mais a tirania da desordem, tendo, inclusivé, recusado acusar os seus Pares revoltosos.
Era uma cabeça equilibrada, nem demasiado brilhante para se substituir aos políticos, nem demasiado desprovida, para não reconhecer a necessidade de a Um confiar a governação, ainda que não comprometido em desmandos anteriores.
Não pude deixar de, neste 28 de Maio, lembrar um Carmona como expoente da esperança contra o momopólio do Poder à conta dos partidos.

14 comentários:

Anónimo disse...

«(...) Cabeçadas era o veterano putchista e o primeiro marcado para sair (...)».

Desculpe, não percebi ...
É Cabeçadas duas vezes herói no 5 de Outubro e no 28 de Maio ? Um «arrependido» do 5 de Outubro (o do "sinal" do Adamastor) que se assume primeiro Primeiro-Ministro da Ditadura Militar ? Quem foi este homem afinal ?

O Réprobo disse...

Qual é a dúvida?

Anónimo disse...

Caro Réprobo, a "dúvida" que o Anónimo coloca é sobre o carácter de Mendes Cabeçadas.
Como sabe, tal como Machado dos Santos, e nos nossos dias Otelo Saraiva de Carvalho, são homens de espírito fraco, sem preparação cultural e cívica, que andam ao sabor da corrente, e depois cometam os actos mais difíceis de explicar, tendo em conta os ideias revolucionários por que dizem lutar.
Boa Noite

O Réprobo disse...

Eu não julgo o carácter do homem, aqui. Veterano putchista lhe chamei, pois é dado biográfico, já que participou em várias conspirações antes da que possibilitaria a Revolução Nacional. Que muita gente no Exército não o queria - e não só por ser marinheiro - também está nos livros e foi borda fora ainda antes de Gomes da Costa.
Boas Noites

Anónimo disse...

E foi muito bem!!! Também sabe que ele estava em conluio com o presidente da República. Só mudava o Chefe do Governo, sendo Cabeçadas empossado nesse cargo.

O Réprobo disse...

Sim, isso correu e o próprio deu crédito à suposição, ao confessar a amigos e estranhos que fora enganado. Os Avós de dois Amigos meus entraram no número dos confidentes.
Só há uma coisa que me faz espécie, embora não tenha certezas. Por que é que ele, então, aceitou o que, tecnicamente, era a chefia do Estado. Antes da chegada dos que arrancaram do Norte e presidencialização de G. da Costa, ele desempenhou a função, no que, mal comparado, tem algum paralelo com a situação de Teófilo Braga, à frente do Governo Provisório da República...
Boas

Anónimo disse...

Há dois dados biográficos relativamente a Mendes Cabeçadas ; a dúvida é esta :
Há um Mendes Cabeçadas, Comandante do Adamastor que, do Tejo, dá o "sinal" para se desencadear a revolução republicana.
Há OUTRO Mendes Cabeçadas, passadoas 16 anos, que se assume como o primeiro Primeiro-Ministro da Ditadura Militar em 26.
Quem redige o programa político de Gomes da Costa senão os Monárquicos do Integralismo Lusitano ? O que foi feito desse programa político ? O que aconteceu a Gomes da Costa ?
Revolução Nacional ? Onde está hoje ?
Voilá donc ...

Anónimo disse...

«(...)O erro trágico do processo de transição democrática na Roménia - como na Sérvia, no Montenegro e na Bulgária [e em Portugal, digo eu, CAB] - deveu-se à pressão conjunta que uniu a sempre desinformada política externa norte-americana aos nostálgicos do comunismo e aos grupos ultra-nacionalistas, impedindo que nesses países se retomasse a solução aplacadora consubstanciada na restauração monárquica. (...)»
(MCB, Combustões)

O Réprobo disse...

Como dois Machados Santos, o "Herói da Rotunda" e o que tentou corrigir a alça, fazendo com que acabassem com ele?

E dois Basílios Teles, o que queria acabar com o parlamentarismo e pensou que a República era o caminho, como o desiludido isolado?

Ou dois Sidónios Pais, o maçon ministro do Fomento da fase inicial (talvez por confusão com iniciátca) da República, transformado em Presidente-Rei quando viu o que os jacobinos eram?

A esperança é um capital de alto risco, quando não se tem séculos de tradição servido-lhe de adubo. E claro que não me parece que as influências integralistas tenham sido as preponderantes na intervenção do Exército, por muito que alguns dos Tenentes fizessem por se doutrinar. Havia uma pluralidade de forças coligadas, tudo o que era oprimido pelos herdeiros costistas. Creio que junto da hierarquia, por essa época, ganhou destaque o rumo proposto por Henrique Trindade Coelho, que como ministro e diplomata não terá deixado saudades.

Por essas e por outras não sou "ultra-nacionalista". E a Revolução Nacional, deram cabo dela os internacionalistas que a tomaram de dentro e de fora. Mas não enquanto Salazar mandou.

Anónimo disse...

Uma referência para o "desaparecimento" de SG Buiça da Blogosfera.
Em lados opostos, SG Buiça é sionista, somos anti-sionistas, foi sempre um adversário Leal e correcto, por exemplo a antítese do Fernando Araújo, mal-educado e não tão culto como se arroga.
Caro SG Buiça, volte, pessoas coerentes como Você é que fazem falta.
Cumprimentos.
PL

Unknown disse...

Mas... Já leu o livro de Junho? Não leu? Vai comentar? Quer Chá com Scones?
Só postar! Só postar!Ai!

http://absolutamenteninguem.blogspot.com/

O Réprobo disse...

Caro Zé Ninguém, obrigado pelo desafio. Li o livro há muitos anos, mas nada impede de reconverter o alvitre em sugestão de releitura, afinal o que mais importa, segundo Borges. E se me ocorrer alguma coisa que julgue menos incapaz, não hesitarei em escrevinhar en su sitio.
Abraço

cristina ribeiro disse...

Meu Caro,
já sei a quem pedir o livro,no caso de o não encontrar! :)
Beijo

O Réprobo disse...

Nada me dará mais prazer. Este, no entanto, foi tão reeditado que não deve ser difícil de encontrar.
Outro