quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Alquimia das Sensibilidades

Em 7 de Novembro de 1946 terminava a hibernação cinematográfica de Jean Cocteau, com a estreia de «La Belle et La Bête». A razão que me leva a gostar tanto do Autor é a utilidade que dá à sua convicção da própria genialidade, tão intensa como a de Dali, mas menos lúdica e algo irónica: ousar a tomada de temas clássicos, que outros, para se protegerem, recusariam, com medo de se chamuscarem em tratamentos melosos, como este, da silenciada injustiça na distribuição da Beleza e inerente acção sobre os Direitos do Desejo.
Cocteau consegue fazer que "trechos impossíveis", como os diálogos entre a Bela e o Monstro, por si só à beira da hilariedade que os dramalhões despertam, numa era de retracção do sentimentalismo expresso, logrem manter a carga dramática. Muito por culpa, evidentemente, da qualidade de cenarista com que envolve os mundos estanques aumentativos do peso as personagens e que fazem de nós, à vez, reedições do produtor e da sua Mulher - os desconfiados de que a obra seja para esquecer e a emoção visionante que a faz andar para a frente. O não sei quê que muitos outros davam para ter, tanto como La Bête o aspecto que lhe permitisse possuir La Belle. Um sonho acordado, definido pelo Próprio.

14 comentários:

Terpsichore Diotima (lusitana combatente) disse...

Que assunto tão sério! E tão bonito!

_______________________________


E eu ontem tinha a cabeça a andar tão à roda que só agora notei o nome que vossa excelência deu ao meu retrato ...(de ontem!). :)
Apesar de tudo, tá um belo retrato.

Fui logo buscar uma fotografia mais grave, a ver se me CORRIJO!!

((Não são só os homens que têem que se transformar de bestas em príncipes!) :)


_______________________________



Conhece vossa excelência o esquema que Dali fez dos artistas dando-lhes valores de zero a vinte? (coisa boa para se por lá no Kalokagathia - mas enfim, não há tempo). É magistral, aquela lista.

_______________________________

Cumprimentos respeitosos

Terpsichore Diotima (lusitana combatente) disse...

No comentário anterior coloque-se a palavra ''bestas'' entre aspas e compreenda-se que se refere à universalidade da simbologia referida no filme, se faz favor.
Beijinho

O Réprobo disse...

Ulrstríssima e Queridússuma Terp:
Vossa Graça não havia notado a maldade Jezebélica? Bem, bem, posso dizer é que a nova representação transmite uma "gravitas" adequada à circunstância.
O Cocteau tratava todos estes assuntos sérios com uma ligeireza na aplicação própria que talvez tenha ficado dos Surrealismos, mas com uma retoma da letra dos textos que em profundidade transcende as subversões destas escolas. Ainda não percebi se pela aura vanguardista, ou se pelas roupagens em que dissolve as expressividades datadas, nele resulta como em ninguém mais, no Século XX.
Beijinho

T disse...

Há um fio erótico condutor poderoso. A cena em que o Monstro bebe das mãos da Bela é bem explícita nesse aspecto.
E gosto deste cenário meio conto de fadas, meio surreal que envolve o filme.
Boa evocação:)
Bj

Capitão-Mor disse...

Um dos filmes preferidos da minha mãe! Já o vi há uns anos e acho-o extremamente tocante...
Abraço!

O Réprobo disse...

Completamente, Querida T, com ele a perguntar se não repugna à Belle...
Mais intensa só a resposta à questão do porquê dos seus lamentos.
-...por ser Bête.
Beijinho

Terpsichore Diotima (lusitana combatente) disse...

Paulo,
Tens correio na caixa de mail.
Terp

O Réprobo disse...

É bom sabê-lo, Meu Caro Capitão-Mor. Nem esperaria diferente da Sua sensibilidade.
Abraço

O Réprobo disse...

Vou já lá Musinha.
Bj.

Terpsichore Diotima (lusitana combatente) disse...

esta mensagem é ''privada'' para a T:

E ainda te atrevias tu a queixares-te de seres ''queriduxa''??

Tu já viste o que é chegar a esta idade (maturidade, inteligência, comprimento de cabelo, etc etc etc) e depois ser chamada de


''Ulrstríssima e Queridússuma'' ???

:))))

Terpsichore Diotima (lusitana combatente) disse...

E depois sabe logo muito bem quando ultrapassou as marcas, e disfarça com Musinha...

:)

O Réprobo disse...

Mensagem para benefício dos leitores:
no comentário anterior onde ficou "marcas" leia-se "teclas".
Pedimos desculpa por qualquer inconveniente.
Ass.: a gerência

Terpsichore Diotima (lusitana combatente) disse...

Caro Réprobo:
Seria possível transmitir à gerência que as desculpas foram totalmente aceites?

Ass.: Musinha, agradecida.

O Réprobo disse...

Querida Terp,
Uf,já se temia por cá uma inspecção daquela entidade com sigla parecida com organismo de integração económica oriental!
Beijinho grato