quarta-feira, 7 de novembro de 2007

A Inércia Desprotegida

Ainda o Confrade Jansénico pega no protesto do Je Maintiendrai contra a promoção de uma oliveira a memorial de célebre matança de judeus, pondo em equação os conhecidos costumes vandalizadores dos alfacinhas. Do facto a guardar memória não direi mais, para além de considerá-lo uma vergonha da Democracia. Foi a ralé excitada por dois agitadores Dominicanos do Baixo Clero que, provocada, caiu na desproporção assassina; contra a direcção da Ordem, que expulsou os instigadores e o Rei, que os enforcou. Essa e outras acções populares, precedentes e menos lembradas, viriam a estar na lamentável cedência, embora admita que com propósitos de contenção, que foi a importação do Santo Ofício. Mas a oliveira é que não lembra ao Mafarrico, pois, apesar de na tradição judaica também simbolizar, desde Noé, a Paz, ganhou uma carga diversa, a partir do momento em que se deu a Cruz da Salvação como feita da madeira dela e de cedro, vindo a ser usada como emblema da repressão do Judaísmo, precisamente.
Claro que não é exclusuvo lisboeta o atentado contra as estátuas. Talvez por mais conhecida, a que é dada como recordista do sofrimento é a Pequena Sereia de Copenhague. Quem sabe se a explicação não residirá em despeitos sem conta, por serem ignorados pela que se sentou à espera do seu amor?
Sem essa desculpa temos a persistente amputação dos braços da Verdade da estátua de Eça, que obrigou à substituição por uma réplica em bronze. Quem assumirá que não gostaria de ser abraçado por ela? Ter-se-ão em tão má conta? E já António Arroyo protestava contra esse vício, escassos meses após a inauguração do monumento. A menos que os mutiladores não consigam identificar a figurada... Um velho criado da família dos Condes de Resende, donde provinha a Mulher do Escritor, levado a conhecer a imortalização pétrea, ter-se-á descoberto e exclamado: lá o Patrão, está bem. Mas nunca pensei que a Senhora D. Emília se prestasse a estas coisas... Ao Sr. Manuel, porém, nunca ocorreria estragar a escultura.

Claro que sob o ponto de vista estético a estatuária desta urbe à beira-Tejo plantada deixa muito a desejar. Excepção feita à equestre de D. José, como unanimemente se reconhece. Também esta não escapou e a barbárie da plebe está na origem da retirada célebre do medalhão pombalino do pedestal dela. Sabe-se como não gosto desse tirânico ministro. mas não acho nisso razão para apedrejarem a efígie, quando não conseguiram fazê-lo ao original. E foi a razão da remoção desse pormenor iconográfico, não uma sanção acessória da Viradeira. Tantas foram as pedras e bolas de lama que as vítimas do valido atiraram diariamente e durante tanto tempo ao poderoso decaído, que o senado da Câmara mandou retirá-lo, substituindo-o pelas consensuais armas citadinas, não fosse alguma pontaria desastrada atingir, por engano, o Soberano. Mais tarde, já mortos ou em vias disso os protestatários, D. Pedro IV, para agradar ao neto Saldanha, lá mandou repor a imagem.
Ou seja, atacar os símbolos é sempre sinal de impotência.

6 comentários:

Anónimo disse...
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O Réprobo disse...

Vê só o triunfo do Caudilho, Meu Caro Filomeno: tantos anos depois, o esforço desesperado dos adversários para o terem Vermelho!
Abraço

Inês Ramos disse...

Aaaaaaahhhh... como eu gosto dessa estátua! Sempre que por ali passo fico a deliciar-me olhando-a.
:-)

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
O Réprobo disse...

Querida Inês, vou ver se descubro um post que escrevi sobre a dita, com o leão debaixo do cavalo correspondente à versão projectada e a alusão às cobras que ainda hoje afugentam os pombos que as julgam verdadeiras, caso único em Lisboa.
Consta que Pombal, avisado da substituição do seu rosto pela barca que trouxera o corpo de . Vicente, teria exclamado "agora é que este país vai à vela!".
Beijinho

O Réprobo disse...

Atenção, Inês, o Filomeno, um Grande Admirador da Bela Orquidea, não diz isto a qualquer pessoa.
Beijinho