sábado, 3 de novembro de 2007

E Agora, Uma Coisa Completamente Diferente

Os Media vêm passando o tempo a falar da OPA fracassada do BCP sobre o BPI, do risco de lhe suceder a inversa e, finalmete do projecto de fusão amigável. O réprobo não abordou tão magno tema porque nada percebe de banca e não quis bancar o sabichão em matéria onde facilmente se atolaria. Mas, aplicado à Coisa Pública, muito mais interessante que empresas particulares, por grandes que sejam, foi precismente o que se passou com as relações entre Portugal e Castela. Depois de fracassadas as ofertas públicas de aquisição hostis de um lado e de outro, convencionou-se a osmose amigável, concretizada com o casamento da Primogénita dos Reis Católicos, D. Isabel, com o de D. João II, o Príncipe D. Afonso. Foi o enlace celebrado e 3 de Novembro de 1490,
razão mais do que suficiente para dela falar hoje. O resto da História é conhecida, a queda do cavalo, o plano frustrado, as desinteligências do Príncipe Perfeito com a Sua Extraordinária Mulher por querer alçar ao Trono, contra a Lei do Reino, o seu Bastardo...
O Povo, porém, que nessa altura ainda fixava o essencial, por não ter concursos televisivos desviantes, fixou nos célebres romances que reproduzia a impressão da viuvinha tão jovem. Fê-los nos da Guarda, não há muito musicados e editados discograficamente. Mas também na Ilha da Madeira, o meu preferido, que aproveito para dedicar a Leitores que tenha na Pérola do Atlântico, naturais ou por adopção:

Já casada estava eu
Bem sete meses havia,
E passou um pombo negro
Que más novas me trazia.

- Novas, Senhora, vos trago
Más novas, de grande mal;
Que morre vosso marido,
Infante de Portugal!
Caindo com seu cavalo
Nas ribas do arenal

............................

E daí pus-me a chamar
Tendo ouvido o meu recado.
- Ide lá físico mestre,
Ide já aparelhado
Com vossa lanceta de ouro
Sua liga de brocado;
Dai-lhe a sangria pequena
Não se sinta o coitado.

E lá me fui de carreira;
As damas me acompanharam;
Mas, por muito que corressem,
As damas não me avançaram.
Os meus ais, quando cheguei,
O meu infante acordaram.

- A que vindes cá infanta!
Estou aqui, ´stou a acabar;
Ficareis menina moça,
Cedo vireis a casar.

.............................

O meu infante morreu,
Infante de Portugal,

Ali perto das águas frias,
Nas ribas do arenal.

À atenção dos analistas, há que contar com os acidentes que impedem projectos.

10 comentários:

Anónimo disse...

Los Magníficos Reyes Católicos (Isabel y Fernando) no tuvieron suerte con su descendencia.........¡De lo que pudo haber sido y no fue......!

O Réprobo disse...

Pois, Caro Filomeno, também Joana e outras loucuras...
Abraço

Anónimo disse...

El pueblo español siempre guasón: Pelicula "Juana la loca....de vez en cuando....."

O Réprobo disse...

Ahahahahahahh!
Ab.

Bic Laranja disse...

Formidável! Não conhecia os rimances; muito certa, muito certa, a observação que o povo fixava o essencial.
A moral da história é sublime, Mas esses papalvos cheios de projectos julgam que sabem tudo...
Cumpts.

Anónimo disse...

El hombre propone y Dios dispone......No mandé a luchar a mis naves contra los elementos......

O Réprobo disse...

Ora ainda bem que o Amigo Bic grafou na forma antiga. Andei eu, ontem, hesitante, umas boas duas horas, entre escrever assim, ou "romances", como ficou. Ai de mim, optei pela clareza, em detrimento do sabor.
Mas, na verdade, outrora as pessoas viravam-se para o qe importava a todos, não tanto para os negócios privados, que eram motivo menos bom para o estro popular. Ainda a vida amorosa, despertava quadras de malandrice. A malandrice da quadra, leia-se bolsa, não estimulava por aí além o amor aos versos.
Abraço, Caro Bic

O Réprobo disse...

Meu Caro Filomeno,
é um tema vetustíssimo, primordial até, na Literatura Grega Antiga, o dos planos bem congeminados, desfeitos pelo Destino. Édipo, as interpretações sibilinas erróneas...
Ab.

Anónimo disse...

Literatura de Cordel ?

O Réprobo disse...

Não exactamente, não se tratava de folhetins elaborados pela lumpenintelectualidade para consumo popular, Meu Caro Filomeno, mas de genuína expressão do Povo.
Ab.