domingo, 25 de novembro de 2007

Eça (a) Descoberto

Leitura de um simpático livrinho da BN sobre o sempre acrescentado conhecimento que escritos ecianos proporcionam. São aqui noticiados, descritos e biografados manuscritos de vária ordem, entrados na posse de quem deve, a mais oficial das Bibliotecas. Há de tudo, desde artigo de imprensa, cartas consulares inéditas, um peça de fundo em tempos atribuída a Oliveira Martins, versões parcelares da «Ilustre Casa...», «A Cidade e as Serras» e de «O Primo João de Brito», esboço do Basílio célebre, todas elas tesouros para as edições críticas. Enriquecem um texto de Isabel Pires de Lima, comprovativo de que se suspendeu uma boa investigadora para ficar com uma má Ministra, no próprio dia em que a recepção pela Confraria Queirosiana e a demissão do dever de aquisição de arte importante o reiteram. Também um interessante paralelo entre a ficcionada guarda dos escritos de Fradique Mendes e a conservação e chegada à luz do dia, para publicação, dos de Eça, devida a Carlos Reis. E um relato, pelo Meu Amigo Manuel Vieira da Cruz, da aventura da abertura do cofre onde outros se encontravam, justificando um Banco pelo mecenato que outrora cabia aos Príncipes, concretizado na doação subsequente.
Do Autor de «Os Maias» em 25 de Novembro chegado a este Mundo, de que conservou um momento passado através de estilo e equacionações anda hoje frescos, o que é particularmente difícil num ironista, não resisto a transcrever trechos de uma das cartas, aquela em que exprime desagrado por Newcastle:
Com efeito, meu caro Amigo, nunca invejei tanto o poder de Nero - que - quando embirrava com uma cidade lhe mandava tranquilamente deitar fogo. (...)nunca pensei que o coração humano - que não tem mais de quatro polegadas quadradas - poderia conter tantas toneladas de rancor. (...) Aqui tudo é mau - o clima, a sociedade, os costumes, os passeios, os conhecimentos, a moral, os jornais, as mulheres, os criados - etc. - tudo é mau a única coisa boa que há - são os trens de caminho de ferro - ... quando partem daqui. Quando chegam, são odiosos. Quase soa a variação sobre o dito do Dr. Johnson acerca da Escócia, de que a melhor coisa que lá havia eram as estradas para Inglaterra...
Como parece uma versão diversa da conhecida carta a Ramalho, a aplacar a susceptibilidade dele, a tríplice escolha que na mesma missiva dá entre besta, burro e alimária para qualificar o empregado da chancelaria, quando, no ponto epistolográfico mais conhecido, punha em tom de brincadeira à vontade do freguês burro ou camelo.
Enfim, exercícios de erudição que são verdadeiras ofertas cultuais a um Autor de Culto que não é monopólio de um grupo restrito.

2 comentários:

Anónimo disse...

Meu Caro Eçafim (Eça-Afim),

Parabéns pela recensão, digna duma "Revista de Portugal".
Falta dizer que a exposição «Aquisições Queirozianas», a que o catálogo respeita, pode ainda ser visitada na BN, pois foi «prolongada até 31 de Dezembro».

Com um abraço,

Áurea Pluma.

O Réprobo disse...

Caríssima Pena d´Ouro,
que boa nova nos dás a todos. Ficam pois os Leitores avisados dessa faculdade extra de visitar uma importante mostra queirosiana.
Quanto aos elogios, mérito há em Eça e Nos Que assim nos revelam a sua obra, não em mim.
Abraço apertado