quarta-feira, 30 de maio de 2007

Barbas de Molho

Aniversário do nascimento de de Pedro O Grande. Altura que parece boa para sublinhar a indissociabilidade desejável na ligação da Coroa à Tradição. Na Rússia, que ele à força e por influência estrangeira de favorito e de viagens reformou, não havia, como cá e em França, o historial de aliança entre o Poder Real e o Povo contra os abusos dos poderosos que quisessem subverter a ideia da Nobreza, edificada ao longo de séculos, pela reintrodução de uma aristocracia que justificasse tipologicamente o nome. O que lá existia era, apesar do despotismo potencial de cada átomo da terratenência, uma intimidade entre Senhores e Servos, repousando estes nos seus amos para não serem absolutamente escravizados pelo Czar. O conhecido episódio do corte das barbas não vê proclamada com igual êxito a sua significação. Foi a resposta expressa do soberano a um protesto dos Nobres pela centralização, traduzida em medidas substantivas, bem como na meramente formal abolição da fórmula dos decretos "Decide o Príncipe e os Boiardos concordam...". Foi o começo de uma tragédia que se repercutiria no Século XX. Ao lançar-se nessa prova de força que procurava opor ao tépido levantamento motivado pela quebra da tradição governativa, acabou por separar os hábitos da elite, em breve domesticada na Corte, que não voltou à ortodoxia capilar facial, enquanto que as classes humildes campesinas, mal Pedro entregou os seus dias ao Criador, libertas dos impostos que ele sobre cabelos do rosto e banhos lançou, logo regressaram às pilosidades cujo corte tinham por sacrílego. O remanescente dos menos favorecidos em breve viria formar o embrião de um proletariado urbano, sem raízes ou afectos, a base da Reestruturação, para falar à Gurvitch - de 1917. O outro hábito introduzido pelos estrangeirados que passaram a rodear o Trono igualmente contendia com as convicções religiosas dos "não-conformistas" mais fanatizados, o que não melhorou a situação. Era o tabaco.
Um último pormenor: muitos de nós se chocaram com o descaramento com que as autoridades Soviéticas decidiam ser quem lhes não obedecesse cegamente "psiquicamente perturbado". Pois também esta perversão decisória teve origem no mesmo protagonista. Um dos entretenimentos dele era determinar quem era louco ou não, passando o diagnosticado a ostentar um trajo identificativo e a ser obrigado a comportar-se como tal!
Pelo que se impõe dizer, quando haja desvio à Tradição Política, "Se vires as barbas do vizinho a arder põe as tuas...

2 comentários:

cristina ribeiro disse...

Obrigada,meu Amigo.
Beijo cheio de gratidão.

O Réprobo disse...

Gratidão DA Cristina? Trocámos de papéis?
Beijo