By The Book
A vontade de responder ao Mário, no comentário sobre o Mundo de Tintim, um pouco abaixo, era muita. Cedendo porém à Preguiça, ao Pecado Capital que melhorou a minha vida - e sem livros, Madame Bomba, ai que heresia, salva-me a leitura do Vosso belo texto -, em vez de correr à estante, um piso abaixo daquele em que estaciono, atirei-me à net para descobrir o redactor do jornal luso que abordara Tintim. Descobri-o aqui, no original, como dado pelo RAA, vertido para o nosso idioma. É, rectifico, no «Tintim no Congo».
O que me interessa para agora é a ilustração que dá da ideia de povo muito formal que tanto Estrangeiro de nós faz. Atente-se na fatiota do nosso patrício e nos tratamentos que dirige ao dono do Milu. Julgo que os subscritos invariavelmente endereçados a "Excelentíssimos Senhores" terão feito das suas, sendo já resultado da supressão do " Ilustríssimo" dantes acrescentado. Mas seremos caso único? Não escarrapacham os Ingleses muitos "Esquire" a torto e a direito? Dir-se-á que somos imbatíveis na generalização. E aí calo, aceito e digiro.
Pois já os nossos Amigos Espanhóis se passam com a massificação de "Senhoras Donas" que nos é característica. Para Eles "Dona" adequa-se a pouco menos do que Infanta.
Não creio que a questão incida sobre o cerimonial instituído, apesar de a persistência do Estado Novo em manter o fraque e a casaca em certas cerimónias que havia muito tinham sido simplificadas noutros países poder contribuir para compor o quadro. Não é, isso não, o traço em apreço apontado à regras do poder público, caso em que nos levaria para terrenos próximos da infirmação do pensamento de Jünger, segundo a qual países com maior espectacularidade no Teatro do Poder tendem a ser os que maior requinte encontram, igualmente, nas punições máximas, casos da China e da Espanha históricas.
Como não penso que sejam as relações entre os particulares as que hoje em dia trarão à colação a problemática, com as novas gerações a tutearem-se abundante e precocemente. Julgo que a questão se põe é no atendimento ao Público dos agentes intermédios da Administração. E a explicação encontro-a simples: tivessem outras nações súbditos tão abusadores como tendemos a ser e também encontrariam essa defesa da distância...
No entanto talvez seja mais do que isso e mais antigo. O Abade de Jazente, que ando a reler, já a sabia toda:
TU, VÓS, SENHORIA E EXCELLENCIA
Aquelle Tu e Vós, quando algum dia
havia em Portugal sinceridade,
acabou, começando a nossa idade
a dar a uma Mercê a primazia.
Depois foi-se exaltando a fidalguia,
e entrou tambem na plebe essa vaidade;
e tomando a Mercê de propriedade
a nobreza subiu a Senhoria.
Não parou inda aqui tanta loucura;
porque vai já querendo uma Excellencia
quem tinha a Senhoria por ventura.
Mas sabeis o que causa esta demencia?
faz com que os críticos vão á sepultura
fazer-lhe anatomia na ascendencia.
Princípios da decadência de que nos não livramos.
O que me interessa para agora é a ilustração que dá da ideia de povo muito formal que tanto Estrangeiro de nós faz. Atente-se na fatiota do nosso patrício e nos tratamentos que dirige ao dono do Milu. Julgo que os subscritos invariavelmente endereçados a "Excelentíssimos Senhores" terão feito das suas, sendo já resultado da supressão do " Ilustríssimo" dantes acrescentado. Mas seremos caso único? Não escarrapacham os Ingleses muitos "Esquire" a torto e a direito? Dir-se-á que somos imbatíveis na generalização. E aí calo, aceito e digiro.
Pois já os nossos Amigos Espanhóis se passam com a massificação de "Senhoras Donas" que nos é característica. Para Eles "Dona" adequa-se a pouco menos do que Infanta.
Não creio que a questão incida sobre o cerimonial instituído, apesar de a persistência do Estado Novo em manter o fraque e a casaca em certas cerimónias que havia muito tinham sido simplificadas noutros países poder contribuir para compor o quadro. Não é, isso não, o traço em apreço apontado à regras do poder público, caso em que nos levaria para terrenos próximos da infirmação do pensamento de Jünger, segundo a qual países com maior espectacularidade no Teatro do Poder tendem a ser os que maior requinte encontram, igualmente, nas punições máximas, casos da China e da Espanha históricas.
Como não penso que sejam as relações entre os particulares as que hoje em dia trarão à colação a problemática, com as novas gerações a tutearem-se abundante e precocemente. Julgo que a questão se põe é no atendimento ao Público dos agentes intermédios da Administração. E a explicação encontro-a simples: tivessem outras nações súbditos tão abusadores como tendemos a ser e também encontrariam essa defesa da distância...
No entanto talvez seja mais do que isso e mais antigo. O Abade de Jazente, que ando a reler, já a sabia toda:
TU, VÓS, SENHORIA E EXCELLENCIA
Aquelle Tu e Vós, quando algum dia
havia em Portugal sinceridade,
acabou, começando a nossa idade
a dar a uma Mercê a primazia.
Depois foi-se exaltando a fidalguia,
e entrou tambem na plebe essa vaidade;
e tomando a Mercê de propriedade
a nobreza subiu a Senhoria.
Não parou inda aqui tanta loucura;
porque vai já querendo uma Excellencia
quem tinha a Senhoria por ventura.
Mas sabeis o que causa esta demencia?
faz com que os críticos vão á sepultura
fazer-lhe anatomia na ascendencia.
Princípios da decadência de que nos não livramos.
2 comentários:
Excelentíssimo Amigo
Mil milhões de mil Obrigados!
Agradeço-Lhe.
Mário
Meu Caro Mário,
Ora essa! E mantendo a conversa, as escolhas tintinófilas qe fez, na casa dos nossos Amigos, também são excelentes, como era de esperar.
Abraço
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