O Elogio da Censura
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Pensei em tempos escrever um conto sobre um escritor pouco popular e algo ocioso que, sabendo-se "filtrado" se dedicase à investigação da vida e pessoa do responsável pelos riscos eliminatórios, numa curiosidade meramente intelectual que se viesse a transformar em amizade. Contudo, num País em que o "infame Estado Novo" oferece as memórias de uma convivência entre os coronéis de lápis azul e os jornalistas com parágrafos retirados, em que se ia, muito além da cordialidade, até ao quase pungente pedido de desculpas por cada supressão, achei que não teria unhas para imaginar algo que trouxesse novidade de monta.
E é assim que me ponho a imaginar como será o encarregado da vigilância dos pobres escritos que aqui deixo. Mas, olhando com atenção para o mapa-mundi da frequentação da página, constato, com melancolia, que faltam os países com maior propensão para essa específica modalidade de público, Birmânia, Paquistão, Irão, Arábia Saudita, nenhum consta. Está visto que, ao contrário do Profeta, a figura do Maldito só o consegue ser na sua terra!
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