Um Facho Apagado?
O Miguel Castelo-Branco deixou um postal com cujas linhas gerais concordo mas que me suscita uma dúvida. Entre os intelectuais "fascistas" que elenca, para fazer o paralelo com Hergé, cita T. S. Eliot. Duvido que o fosse. Decerto que teve palavras elogiosas para com o Duce, mas desde que a experiência Fascista tivesse lugar em Itália. Como solução universal pugnou antes da Guerra por um monarquismo de sabor maurraseano, mas cuja maior fulgência terá recebido pela intermediação brilhante e meteórica de T. E. Hulme. A sua postura durante a grande perturbação foi irrepreensível, mesmo do ponto de vista dos governos dos dois países a que pertenceu. Foi, certamente, antes do conflito, um anti-democrata. Mas mais por amar a epopeia construtiva que se pudesse opor à desolação revolucionária que devastava os espaços por onde passava, deixando rasto para a sensibilidade expressa em poemas como a «Waste Land»; não por qualquer vitalismo e eticizado amor ao perigo e ao movimento remotamente tributário de Nietzsche e genealogicamente filiado em Marinetti e... Mussolini. Depois da conflagração, mais suavizados as adesões e os engajamentos, não encontrou afinal por que renegar o monarquismo que em política fora o único credo de que se afirmara, a par do anglo-catolicismo em Religião e do classicismo em Literatura.
Penso que foi toda a vida um conservador lúcido, sem cedência ao liberalismo, ainda que este se apresentasse morigerado pela idade. Tive durante muitos anos a tentação de o ver como um Dr. Johnson nos princípios, edulcorado por algo de Henry James nos comportamentos, sendo certo que a agressividade do primeiro e o artificialismo das boas maneiras do outro se esterilizavam e potenciavam mutuamente. Por essas e por outras é que Pound dele disse, quando o amigo lhe salvou a pele: "O Sr. Eliot faz sempre o que se deve fazer". Mas com génio, acrescento.
Penso que foi toda a vida um conservador lúcido, sem cedência ao liberalismo, ainda que este se apresentasse morigerado pela idade. Tive durante muitos anos a tentação de o ver como um Dr. Johnson nos princípios, edulcorado por algo de Henry James nos comportamentos, sendo certo que a agressividade do primeiro e o artificialismo das boas maneiras do outro se esterilizavam e potenciavam mutuamente. Por essas e por outras é que Pound dele disse, quando o amigo lhe salvou a pele: "O Sr. Eliot faz sempre o que se deve fazer". Mas com génio, acrescento.
4 comentários:
O "post" do Miguel suscitou-me a mesma questão. Queria ter escrito algo semelhante, mas o Réprobo fê-lo com muito mais brilho que eu conseguiria.
Mais um "post" para recordar.
O Corcunda
Nada como "isto"para espicaçar a curiosidade,e procurar saber,pelos vários meios ao alcance, qual o pensamento do Poeta.
Beijo
Mestre Corcunda,
não comparemos uma florzinha minha com a dimensão doutrinal e sistemática que celebrizou o Autor do Pasquim. Mas ter Tal concordância deixa-me com convicção reforçada de trilhar o caminho certo.
Abraço
Cristina,
tarefa exigente, tal a complexidade das fontes a que foi beber. Vale que o próprio nos deu um ror de pistas, por muito que nos insurjamos contra interpretações autênticas das obras...
Beijo
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