sábado, 4 de agosto de 2007

O Final Suplente

A Declaração de Amor de Jean François de Troy

A reacção contra o fatalismo da escola Romântica, que só se confessava sentir bem fingindo assumir-se desditosa, fez com que toda a dificuldade a vencer nas lides do coração terminase com o nó a que se convencionou filmicamente chamar final feliz. Difundindo-se assim a excepção do fundamento matrimonial residente no Sentir exacerbado, espicaçava-se a vontade para aí direccionada com os óbices que precedesssem, pois desde sempre se soube que o acicate de uma relação ganha com as barreiras levantadas no percurso. Eliminava-se a nociva sentimentalidade da "paixão exemplar na morte terminada", salvando-se a eternidade do sentimento. Mas foi sol de pouca dura. O matrimónio não conseguiu suportar durante muito tempo o peso da nova tarefa que lhe cometiam. E, assim, desabou, como instituição, deixando na missão de única perenidade afectiva a parcela de memória que há numa desilusão. Paradoxalmente, ao desmentir a parte de felicidade que integra a expressão happy end, sublinhando o vocábulo final, em anunciado e diferido momento, reconheceu-se o quão certa estava a mais lacrimosa das correntes artísticas na detecção da infelicidade íntima. E massificou-se o conceito, antes restrito à elite.
Escreveu Carlos Drumond de Andrade

BALADA DO AMOR ATRAVÉS DAS IDADES

Eu te gosto, você me gosta
desde tempos imemoriais.
Eu era grego, você troiana,
troiana mas não Helena.
Saí do cavalo de pau
para matar seu irmão.
Matei,brigámos, morremos.

Virei soldado romano,
perseguidor de cristãos.
Na porta da catacumba
encontrei-te novamente.
Mas quando vi você nua
caída na areia do circo
e o leão que vinha vindo,
dei um pulo desesperado
e o leão comeu nós dois.

Depois fui pirata mouro
flagelo da tripolitânia.
Toquei fogo na fragata
onde você se escondia
da fúria de meu bergantim.
Mas quando ia te pegar
p´ra te fazer minha escrava,
você fez o sinal da cruz
e rasgou o peito a punhal...
Me suicidei também.

Depois (tempos mais amenos)
fui cortesão de Versailles,
espirituoso e devasso.
Você cismou ser freira...
fiz tudo para impedir.
Pulei muro de convento
mas complicações políticas
nos levaram à guilhotina.

Hoje sou moço moderno,
remo, pulo, danço, boxo,
tenho dinheiro no banco.
Você é uma loura notável,
boxa, dança, pula, rema.
Seu pai é que não faz gosto.
Mas depois de mil peripécias,
eu, herói da Paramount,
te abraço, beijo e casamos.

5 comentários:

Anónimo disse...

Paulo, já foi ver a sua caixa de correio?

E, Paulo, diga-me por favor o título do texto de Je Maintiendrai que refere no seu texto anterior.
Maria

O Réprobo disse...

Querida Maria,
confesso que ao fim de semana descuro um tanto o mail. Vou já lá.
Desgraçadamente não tenho aqui à mão o link do texto Jemaintiendraiesco sobre os Sebastianistas, mas a Cristina Ribeiro já se encarregou de pedi-lo ao Autor.
Beijinho

Anónimo disse...

Paulo,
juntamente com os textos de "Je Mantiendrai",ainda tive a ventura de poder ler um texto seu que não conhecia(só mais tarde descobri "O Misantropo").Há momentos assim...
Beijo

Anónimo disse...

Meu Amigo,
não resisto a trancrever uns brevíssimos trechos do livro que estou a ler.
Camilo Castelo Branco preferia a Póvoa para ir a banhos(embora se canssasse muito rapidamente,fugindo para Seide),e ia"quase sempre no mês de Setembro"(...)"Foi Camilo um grande auxiliar do Visconde de Azevedo na organização da sua biblioteca(...)Conta-se que quando algum amigo pedia ao Visconde algum livro de empréstimo,este punha-o à descrição,mas só dentro da biblioteca e à sua vista«porque-dizia ele-há três coisas que não se podem emprestar:a honra,os livros e a mulher»".
Beijo

O Réprobo disse...

Querida Cristina,
é, também meti a minha foice nessa seara. Mas com o único mérito de despoletar a lição do Caríssimo e agora temporariamente retirado JM.
Tenho aprendido à minha custa que segundo item elencado pelo Visconde entra nessa categoria, sob pena de perda absoluta, igual à que atingiria as outras.
Beijo