domingo, 28 de outubro de 2007

O Recurso ao Vodu

aqui referi a fixação em que cai muito candidato a descobridor da Literatura, no sentido de negar uma autoria shakespereana verdadeira às suas obras. A notícia que agora surge, dando conta da impugnação de autenticidade de célebre retrato seu, parece assim estranhamente aparentada às práticas haitianas que pretendem, por tratos numa efígie, alcançar efeitos no representado. Associações com o programado fim de negar a verdade da correspondência da assunção das obras primas teatrais e poéticas, como a Shakespeare Autorship Coalition cujo logotipo se junta, ancorariam assim as esperanças de ganho da sua causa no êxito da arguição da falsidade do retrato, esperando a consequência da desmistificação da assinatura.
Quanto ao problema concreto, nestas coisas de Arte há que proceder como nas de homicídio: sem corpo a acusação é difícil. E seria estranho que a verdadeira pintura, segundo a tese trocada, não aparecesse, como se estivesse na posse de algum demónio semelhante ao do «Senhor dos Anéis», contentinho da vida por ser o único a contemplar o seu tesouro, o Anel do Poder, nesse caso.
Para além disso, os responsáveis pela guarda do retrato deram uma explicação alternativa para as diferenças esgrimidas pela acusadora, que assentariam nas variações de luz. E, como nos filmes de tribunal norte-americanos, quando é apresentada uma explicação logicamente aceitável que concorra com a da acusação, não se pode condenar.

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