domingo, 11 de novembro de 2007

Restos de Vergonha

Foi 11 de Novembro, a data do Armistício que pôs termo à mais nefasta de todas as guerras, a Grande, de 1914-1918, que os Franceses escolheram para inaugurar a permanência cultual ao seu Soldado Desconhecido, aderindo à tradição das Ilhas Britânicas. Devo dizer que conhecendo os locais de homenagem correspondentes de Itália, Reino Unido e Portugal, se abstrairmos de serem ou não nossos os Caídos, julgo a mais tocante a da Abadia de Westminster, sem o triunfalismo francês, o cenário prejudicial italiano, ou a história triste da intervenção e importação da nossa Sala do Capítulo, na Batalha. Com efeito, a nossa participação europeia no conflito não se justificava e foi decidida por caciques jacobinos para prestigiarem um regime que bem precisava, não se importando com o sangue que derramariam, ou com a renitência dos Aliados em aceitar o irresponsável oferecimento em que insistiram.
Na altura da criação da homenagem ao Combatente, por cá, optou-se então pela originalidade de duas sepulturas, uma para um Desaparecido na frente europeia, outra para um da africana. Como que procurando contaminar de dignidade decisória de um sacrifício necessário à defesa de território a exigência irresponsável que levou a derramamento de sangue inútil para a Pátria.
Prestar culto á Sinédoque de um Homem que é, por sua vez, a de todos os Mortos no Conflito traduz-se nos restos de vergonha que fazem inclinar-se perante os Restos da Honra.

2 comentários:

Bic Laranja disse...

Haverá algum dos nossos vivo? O tio do prof. Saraiva faleceu já. Dizia humildemente que não fugiu em La Lys porque não podia; tinha uma perna esfacelada por um obus alemão. Capturaram-no mas sobreviveu até aos cento e tal anos. Família longeva.
Cumpts.

O Réprobo disse...

E, Meu Caro Bic,
há a triste memória do Comandante Inglês que diz terem os portugueses chegado a roubar as botas dos bifes para fugirem mais depressa.
A culpa não foi dos pobres soldados, muitos dos quais tinham grande coragem, mas de um governo que se apressou em atirar para uma fogueira exigente rapazes sem preparação ou enquadramento adequados à guerra das trincheiras.
No ano passado ainda vi um Combatente, num daqueles programas da manhã, familiares, da TV.
Abraço