sábado, 17 de novembro de 2007

Termómetro da Raiva

Diz-nos a T que a vingança é prato que se come frio...
Não sei, tenho pensado muito no equilíbrio entre cobrar ou esquecer. Ignorar ou abster-se de punir afrontas, desde que, evidentemente, tenham alguma importância, pode traduzir uma falta de coluna verbal, o idiferentismo que torna suspeito um indivíduo de não ter sentimentos, logo de ser incapaz de se manter fiel aos bons de que se reclame. Mas conservar no gelo, sem a dignidade da Ira, um ódio persistente também não faz o meu estilo, até por tender a adivinhar nesses uma dedicação exclusiva a tal obsessão, igualmente os tornando impotentes para melhor sentir. Li muito novo o conto de Poe «O Barril de Amontillado» e toda aquela espera e aquele remoer, culminando no emparedamento em vida, me chocaram. Pela desproporção, é certo. Mas não será a espera prolongada com um fito revanchista atallho certo para a perda de justeza na medição destas "dívidas"? Apesar de terrível, a Morte do Bastardo, em «A Ilustre Casa de Ramires», já não me deixa travo tão amargo, quer pela magnitude da crueldade punida, quer pela proximidade temporal da reacção. Contudo, estipular prescrições temporais também é perigosíssimo para a Justiça e tranquilidade que nos tornem dignos.
Claro que nestas brincadeiras não há desses dramatismos. Mas na medida em que participam dos grandes quadros mentais, reagir a frio pode ser, não direi saltar do fogo para a frigideira, antes, seguramente, fazê-lo para o Frigidaire. Razão suficiente para oferecer um à Nossa Amiga, onde possa guardar os rancores à espera de vítimas no ponto. Além de permitir requentá-los, preserva do barulho dos embates automobilísticos.


E não resisto a recordar a aventura de Hogarth, o qual, depois de haver sido preso em França, porque tido por espião, veio a pintar este The Roast Beef of Old England, ou A Porta de Calais, terra do acontecimento, colando ao re-sentimento anti-britânico que perseguia tudo o que viesse das Ilhas a tal frialdade vingativa, mas expressamente partilhando esse padrão de conduta com a obra exposta. Cada um de nós saberá se prefere o rosbife quente ou não.

17 comentários:

T disse...

Gosto de morno , com esparregado e batatinha nova, se faz favor. Entrega ao domicílio?
Quanto a congelar o rancor, tal não se torna necessário. Não sou assim tão complicada. Mas claro que me vou vingar desta alfinetada!
Bj

T disse...

Já está:)
Bj

O Réprobo disse...

E, para me ser agradável, não se pode juntar couves de Bruxelas?

Ai a Speedy T! A caminho!
bj.

T disse...

Pode. Também gosto. E Ervilhas e cenoura. E arroz. Risos
Bj

O Réprobo disse...

Muito saudável comunhão.
O.

T disse...

O?

O Réprobo disse...

Outro.
B.

T disse...

Osculemo-nos?

O Réprobo disse...

Boa alternativa, ehehehehehehe.
Bj.

T disse...

Paloncito:)
Bj

O Réprobo disse...

Essa é muito boa! A minha Mãe, de cada vez que eu dizia um disparate, chamava-me, carinhosamente, "palonças", ao que parece, termo em uso na aldeia da minha Avó Materna.
Bj.

T disse...

Qual era a aldeia?
O

O Réprobo disse...

Um lugarejo cujo nome não quero recordar no Concelho da Lourinhã.
Bj.

T disse...

Hummmmmmm. É da Lourinhã:)
bj

O Réprobo disse...

Ém da Terra da Loba, não me diga que agora deixou de gostar do bicho...
Mas também "sou" de Lisboa, transmontano e de Turim...
Bj.

T disse...

Gosto do bicho sim. De qual deles está a falar?
Bj

O Réprobo disse...

Ora, do canídeo selvagem que se presta a lobices, coisa individualizante, por certo. O bicho-homem, apesar dos pesares, é mais compatível com transbordos amor aos felinos.
Bj.