terça-feira, 28 de agosto de 2007

Imagens da Leitura 10

Mundos Escritos de Rob Gonçalves
O chamariz publicitário Vá Para Fora Cá Dentro, pensado para promover a preferência nacional das férias, sempre me pareceu atingir o seu alcance pleno se aplicado ao acto de ler, que transporte a localizações distantes sem abdicar do uso do que é próprio, admitindo que o leitor não tenha a sua massa cinzenta completamente adormecida. Como turistas no espaço geográfico acabamos por prescindir de parte de nós, ao escaparmos a rigidez que no nosso habitat, de onze meses em doze, nos impomos. É no trajar, é no falar, é na postura, sobretudo a dos pés, é no cuidado com os espaços públicos, é na alimentação. Não queremos dar conta, pobres de nós, de que a sede de conhecer os outros se acha comprometida pela adaptação sazonal das povoações à degradada condição que encarnamos, não funcionando com a normalidade e identidade da maior parte do ano, até pela debandada de metade da população, muitas vezes a melhor, que as descaracterizam. Procurar conhecer mundos diversos através do que lemos é muito mais compensador. Intensificamos as aplicações da atenção, não a dispersando, podemos contactar com o melhor que outras paragens produziram e inteirar-nos do que os olhos treinados, de dentro ou de fora, nelas viram mais digno de nota, quotidianamente. E não sentimos a necessidade de desligar o raciocínio, o descanso é fornecido pela variação do volume e focagem dos temas sobre os quais nos debruçamos. É a diferença entre torrar e procurar saborear.

2 comentários:

Anónimo disse...

Quase de acordo.
Mas se é verdade que podemos viajar através da leitura,também é certo que essa se torna,fatalmente, uma actividade demasiado"misantrópica" :)
O viajar no terreno traz a vantagem,sob pena de padecer de claustrofobia,quase a sensação de falta de ar,de contactarmos com gentes,que,afinal,acaba por ser outra forma de leitura.
Mas já concordo que essa necessidade de estar com outros depressa dá lugar à urgência de estarmos connosco e com os livros.é importante que saibamos encontrar o nosso próprio equilíbrio.
Beijo

O Réprobo disse...

Ehehehehehehe, é a recorrência de uma conição deixada para trás, Cristina. Devo dizer que, embora o meu sedentarismo se venha acentuando e tornando crescentemente roncante, também tenho ao longo da vida visitado alguns lugares de maior interesse pessoal. Queria sobretudo estabelecer a potencialidade de a leitura se constituir em suporte de Voltas ao Mundo.
Bj.