sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Imagens da Leitura 13

A Leitura de Molière de Troy

A leitura partilhada é hoje, tal como foi ontem, propiciadora de fortalecimento das relações estabelecidas entre as pessoas. No entanto, perdido o hábito de a família se reunir para ouvir um dos seus ler, passou-se ao incremento do que já existia fora dos penates tranquilos que facilitam a assimilação. Hoje, quase exclusivamente, o intercâmbio das preferências literárias é mais um ramal do processo de progressão e conhecimento nas relações amicais ou amorosas. Assim, em vez de interpretar o papel da semente lançada no solo adubado da calma instituída, passou a ser o adubo - mas não o estrume - que ajudará a tornar fecundo um solo recém-adquirido. E nesta diferença vai residindo muito do fundamento de, fora do meio profissionalmente ligado ao livro, diminuir a capacidade de aproveitamento do lido, apesar dos progressos nominais da alfabetização. A instrumentalidade na solidificação de laços entre estranhos que querem deixar de o ser, por muito desejável que se evidencie, joga de forma diversa com as disponibilidades e expectativas. O proveito virá dos entendimentos que gere nas sintonias e atracções pessoais, em vez do entendimento facilitado pela atmosfera adquirida e menos dinâmica do lar. É a diferença entre um digestivo e um tempero.

12 comentários:

Anónimo disse...

Muito a propósito desta sua reflexão sobre a leitura partilhada enquanto "adubo que ajudará a tornar fecundo um solo recém-adquirido",lembro-me de ter visto uma bela pintura(agora não posso conferir a sua autoria,porque estou longe dos meus livros)de Paolo e Francesca,que fixa o momento em que eles estão a ler a aventura amorosa de Lancelote do Lago.
Hoje,parece-me,a leitura tornou-se num acto solitário.Não sei se com vantagens...
Beijo

Ricardo António Alves disse...

É verdade, meu caro. E tu és um mestre generoso nessa partilha. Abraço.

Ricardo António Alves disse...

PS-boa série. Ab.

Anónimo disse...

E quanto à partilha da mesma no lar,só mesmo na literatura...
Hoje não só o tempo então consagrado a tal é ocupado de forma mais imediatista,como se impôs um estilo de vida onde não há lugar para essa comunhão de interesses.
Beijo

T disse...

Beijinhos ao Paulo, à Cristina, à Júlia e a Terpshicore que me vou de férias:)
Ainda vá venho espreitar mas despeço-me já oficialmente. Talvez não ceda à tentação e venha cá espreirrtar, quem sabe. Até daqui a uns dez dias.

Anónimo disse...

Querido Paulo


Só se os intervenientes não tiverem a capacidade de pensarem pela sua própria cabeça, é que o "entendimento" passará oelas sintonias e atracções pessoais.

Para mim ler, felizmente, sempre foi um acto solitário e bem me aproveitei e aproveito dele.


beijinhos

O Réprobo disse...

Não tenho presente a pintura, Cristina, mas vou investigar. Claro que há uma componente de solidão muito importante na Leitura. Porém penso que nos recrutamentos dos afectos as revelações das eleições de escritos que cada um faz ainda desempenham papel importante.
Beijo

O Réprobo disse...

Olha Quem voltou, o Grande RAA! Já desparasitado o blogue e repousado o Dono? Sempre com palavras amigas...
Obrigado, hoje acabará, conforme previsto.
Abraço

O Réprobo disse...

� Desertora T, boas f�rias e melhores leituras. Vamos sentir uma falta danada da Presen�a Vivificante que tanto ajudou esta p�gina a superar o Agosto fatal.
Beijinho

O Réprobo disse...

Querida Marta, não vejo necessariamente como diminuições da personalidade as aproximações que tomem por base a harmonia de gostos e o agrado emergente de revelações. A menos que se seja daqueles espíritos de contradição que só admitem estimáveis as descobertas que fazem por si e que, no limite... chegam a desprezar os que com eles concordam.
Beijinho

Anónimo disse...

Olá Paulo!
Lembrava-me que tinha visto essa pintura em Munique,há já uns anos,pelo que fui agora procurar entre as "recordações"dessa viagem,e descobri que se trata de um quadro de Anselm Feuerbach.
Claro que essa comunhão só pode ser uma mais valia,sem que tal signifique o ter de se abdicar da leitura solitária-como dizia há dias,noutro"Imagens de Leitura",consoante o objecto em presença variará a atitude a do leitor,em cada momento.
Beijo

O Réprobo disse...

Já a encontrei, Cristina, obrigadíssimo. É de facto, um exemplo feliz da interacção entre a envolvências e a aplicação.
Beijo