quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Exercício de Licantropia

Estereótipo de Lauri Svedberg

Nunca tendo praticado Rugby, desde pequenino que nutri um certo gosto pela modalidade. Talvez porque nesses tempos de iniciação o melhor Desporto que a TV dava era composto pelas transmissões do Torneio das (então) Cinco Nações, com os apaixonados comentários de Cordeiro do Vale, Alguém que exalava perdição pela modalidade, um pouco como o Coronel Matias no Hipismo, ou até João Coutinho, no Basquetebol. Mais tarde novas visões daquela prática me foram facultadas pela devoção absoluta, literariamente servida com génio, de Antoine Blondin e Kléber Haedens. Acima de tudo sempre me ficou a noção, por um Colega Universitário traduzida, em frase antiga que sempre reiterava - tratava-se de um jogo de brutos praticado por Cavalheiros, onde o Futebol muitas vezes é um jogo de Cavalheiros praticado por brutos.
Avesso que sou a ver no Desporto outras realidades que não as que nele se esgotem, por achar que embarcar nisso é fazer o jogo dos poderes que dele se servem, não posso, todavia, deixar de denunciar uma indignidade e lamentar uma fraqueza.
A primeira - que em mérito última é - passou-se na última edição do programa televisivo «Eixo do Mal», onde os intervenientes troçaram da participação dos Lobos, o Quinze Nacional que ora se bate com os melhores. Eram três os vectores do desinspirado escárnio: os nomes porventura ilustres dos Seleccionados, a maneira fervorosa como entoaram o Hino e as diferenças pronunciadas nas derrotas que lhes foram infligidas. Ou seja, velhíssimas pechas da Esquerda, os fumos de inveja social, como o desconforto perante a União em volta dos símbolos da Pátria. Mas a terceira ainda é pior, porque define a falta de qualidade dos intervenientes, não já a de um campo ideológico. Não prezar a progressão, o cerne da prática desportiva, é bem típico desses amigos do Progresso, o género de gente que só se cala quando há medalhas, como bons materialistas que se revelam. E, se essa superação que leva a um patamar superior é aferível mais patentemente nas marcas, de Atletismo e Natação, por exemplo, a ascensão a um grupo restritíssimo como o dos participantes no actual certame raguebístico é critério seguro de equivalente aperfeiçoamento, impossível de verificar-se no meio boleiro, em que, independentemente das qualificações, é mais fácil todos jogarem contra todos.
Um tanto desculpável, por outro lado, mas não credora de aprovação, é a alegria com que Alguns Bloguistas que estimo, entre eles Amigos também fora da Blogosfera, se demarcam dos gostos predominantes na Colectividade, relegando para as "massas acéfalas" o apreço pela bola, reservando para os Eleitos o culto do melão. Não penso devermos procurar motivos de afastamento dentro do Todo Nacional, já basta o que basta. E amarmos um sector desportivo não obriga a denegrirmos os outros, nem a promovermos uma pontinha de snobismo pela consideração em voz alta de virtudes não estritamente atléticas dos praticantes.
Seja como for, perante os estereótipos dos televisionados opinion makers, que tentaram apresentar os Lobos como indesejáveis, confesso que contra a Itália me irmanarei a eles, seguindo a letra do Exemplo Franciscano.

6 comentários:

Anónimo disse...

Sr. Réprobo, considero esse programa «Eixo do Mal» um atentado à inteligência. Por tal, desdo o segundo programa que deixei de o ver. Pelos vistos continua na mesma.
Sinais dos tempos.

T disse...

Eu subscrevo o Senhor pl. O Eixo do Mal é o expoente do ressaibiamento e mediocridade nacional. Vi esse programa en passant e concordo integralmente (para variar) com o que o Paulo escreve.
Já joguei em miúda e adorei. Um bocado esmurrada, cheia de esparadrapos e tal, mas era muitissimo divertido. Éramos das poucas equipas de râguebi do pais, na altura.

O Réprobo disse...

PL,
caisa alguma irritação, de facto, mas logo ultrapassada pela percepção de ser programa completamente falhado.

O Réprobo disse...

Querida T,
é bom ter notícia de que nem sempre desagrado. E ainda mais agora, sabendo-A uma Mulher dessas armas. Uuuuuui, que medo, vou passar a ter muito cuidadinho para não ser placado.
Bjinho

T disse...

A história reporta-se a quando era miúda e azougada, a mais minorca de todas as jogadoras.
E eu concordo mais vezes consigo, ora.
Beijinho

O Réprobo disse...

Uuuuuuuuuuf! Mesmo não sendo das mais pesadas é um alívio.
Beijinho