domingo, 2 de setembro de 2007

O Atavismo da Destruição

2 de Setembro é dia propício para desmascarar a sede de sangue e de cinzas em que se fundam as Democracias tendendo para Repúblicas. No de 1642 os Puritanos do mesmo parlamento que tentava, concomitantemente, extinguir poderes do seu Rei mandou fechar os teatros ingleses, a começar pelo Globe de Shakespeare, a maior glória literária nacional. A motivação era dupla - por um lado arrasar a alegria e a elevação das Artes, por outro afrontar um domínio, o cultural, protegido pela Coroa. Era o triunfo das verborreias instiladas contra tudo o que pretendesse levantar os olhos do chão, que se congratulava com o facto de em Inglaterra as Mulheres não poderem pisar o palco, mas não se contentava com tal; e que, com o infame Gossom pretendera abolir a própria poesia, ele, um protegido de Sidney, reiterando uma vez mais a omnipresença da ingratidão contra os benfeitores e pondo em xeque alguns simpatizantes da causa, Milton, por exemplo.
Mas quem atenta contra o espírito em breve exige o corpo. No Século seguinte, em França, corria 1792, tiveram lugar os tristemente célebres Massacres de Setembro, nos quais quase 1500 inocentes foram vitimados pela fúria sanguinária despoletada por Marat e pelos meios facultados por Danton, através das tenebrosas visitas domiciliárias. Era o entendimento da Liberdade e Fraternidade que considerava uma ocorrência necessária à campanha eleitoral em curso para a Convenção a resposta às exigências de morticínio em assembleia formuladas expressamente por Tallien e C.ª. Nesse evento que deu ao verbo enlargisser uma triste e nova significação, a da entrega das vítimas à populaça excitada, fica a memória da pobre Princesa de Lamballe, morta ao recusar jurar o ódio à Rainha que literalmente lhe exigiram. O seu corpo profanado e mutilado é a marca de fogo do carrasco aposta nos ombros infames da Democracia.
Estes tristes precedentes deveriam servir para afastar qualquer pessoa de Bem desta maldita invenção, hoje instituída. Será certo que, no momento, não se praticam com normalidade, tais atropelos. Mas não condenar sem esmorecimento essas origens e abdicar de demarcar-se delas define o ódio latente nos dominadores de hoje e a falta de escrúpulos que os faz gozar proventos emanados da hediondez aqui lembrada. Por isso digo uma vez mais: essa gente não é a minha.

2 comentários:

Anónimo disse...

Caríssimo Amigo:

Muito bem escrito, este seu postal, como sempre.

Realmente, desde a minha juventude que a minha sede de justiça e liberdade com Honra esbarrou com os «ideais» da «Liberté, Égalité, Fraternité». Analisando as estruturas e as práticas «democráticas» ao longo da História, pondo temporariamente de parte a praxis de «sangue e cinzas» (como o Amigo muito bem a classificou), tudo o resto tem um amargo sabor a engano, a falsidade; é um edifício cuja estrutura não tem lógica, e que se adivinha estar ali para esconder tenebrosas realidades. Platão bem anatemizou a democracia, na sua República.

Sou monárquico, como sabe, e continuarei sempre a sê-lo; nunca pensaria em consciência trair o sangue da minha Família, trair a memória de todas as demais Gentes honradas que construíram Portugal. Não se trata de moda política, de ideologia; considero-o uma questão de Honra. Honra para com a minha Pátria, a minha Família e, por último, para comigo mesmo.

Os verdadeiros Ideais não se vendem, nem se trocam. É a sua praxis que os classifica; e a desta gentalha demo-crática é pavorosa, mesmo nos dias de hoje. Corre-lhes no sangue os horrores praticados pelos seus antecessores, um verdadeiro culto do mal, da submissão abjecta de terras e gentes, da morte, enquanto apregoam o contrário (não é Satanás o mestre da mentira?). Faço eco das Suas palavras: «essa gente não é minha!»

Um grande abraço.

O Réprobo disse...

Muito obrigado, Carísimo Carlos Portugal. Fosse todo este bouquet de tropelias um conjunto de acidentes, como os sucessores hoje querem fazer crer, já seria mau, pois a única atitude digna seria a renúncia a essa herança. Mas não é. Faz parte da essência de qualquer revolução que assente no binómio panfletários/excitantes-populaça/sistema nervoso. E não pode haver maior oposição àquela estimável, ordeira e legitimista Grei de que tão bem falou.
Abraço apertado