quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Influências da Civilização

Um Dandy de Tissot

Quer o Confrade Jansenista que acreditemos ter vivido uma fase Dandy. Daria de barato essa possibilidade, caso a definição comportasse apenas a componente de liderança dos hábitos e admiração alheia. Mas já se não pode aceitar, sabendo-se dos elementos de superficialidade e volubilidade geralmente associados ao conceito. E menos se admite, compenetrando-nos da origem do termo, o nome popularizado de uma moeda do tempo de Henrique VIII, daí estendido para designar tudo o que é muito visto e tem escasso valor. Não O conheci em fase anterior da vida, porém há abundantíssimos sinais na blogosfera que são como o algodão: não enganam.
***
E, a propósito de um congresso a realizar em Aveuro, mão amiga fez hoje chegar ao meu mail a notícia de que sou um perigliófilo. Não conhecia o vocábulo e fiquei apreensivo, tão pouco tranquilizadoras são certas filias de hoje em dia e arriscada me aparecia a parte inicial da palavra. Estou habituado a que me dêem como bibliófilo, apesar de ser comparativamente imerecida qualificação. Afinal, tudo se resumia à minha outra condição de coleccionador - a de pacotes de açúcar.
Donde parti para uma lúgubre reflexão acerca do coleccionismo. Não versando a Arte, logo o Belo, em que medida a aplicação da curiosidade à acumulação de determinada categoria de objectos não acabará por substituir à inicial sofisticação informadora do propósito uma concentração atentatória da atenção ao Humano no seu todo, capaz de transformar em mania esterilizadora o que poderia ser pretexto para engrandecimento interior? No que se assemelharia ao Dandismo, ambos distraindo da profundidade univesalista, embora por diversas vias.

O Coleccionador de Degas

12 comentários:

Anónimo disse...

Bela pintura.Gosto muito de Degas,nomeadamente das suas Bailarinas.
Tenha lá paciência, Paulo, mas este coleccionador parece dedicar-se ao ajuntamento de coisas bem mais interessantes do que pacotes de açúcar(embora tenha de reconhecer que há-de ser uma bela amostra dos costumes, e da publicidade, ao longo dos tempos-da qual se tem vindo a revelar, juntamente com a T, um profundo conhecedor-).
Beijo

O Réprobo disse...

Querida Cristina,
sem dúvida, mas pareceu-me divisar nele o mesmo carácter taciturno que detecto em muitos destes sistemáticos ajuntadores: a concentração no objecto da sua eleição, desdenhando a observação e comunicação, bem como a monomnia canalizada para a ansiedade em encontrar os exemplares que lhes faltam.
Obrigado pelos elogios. Ninguém dirá que um hábito destes não torna um pouco mais doce a vida.
Beijo.

Terpsichore Diotima (lusitana combatente) disse...

Cara Cristina, e Paulo
Já observei que o autor destas Afinidades, e uma interpretação menos perspicáz do significado de uma imagem, não são ''coisas'' que coexistam.

Nós gostamos da pintura, (comunhão que me leva a vir para aqui ''meter-me''...e endereçar-me também à Cristina) mas Degas não gostava daquilo que caracteriza o colecionador! :)
Quanto a mim o elemento pictórico central que Degas usou para tal exprimir é o olhar do homem. Acompanhado de vários outros elementos perfeitamente usados, e discerníveis.
Estou outra vez impressionada com esta obra que não conhecia, e com o saber que se esconde por de baixo da pele de grandes artistas.
A capacidade do Paulo para entender do que falam os pintores - é obra!

Beijinho aos dois.

O Réprobo disse...

Querida Terpsichore,
sem dúvida, o olhar, como a postura acabrunhada do "retratado", excitaram a minha interpretação da negatividade que penso exalada desta visão do coleccionador. A própria forma como ele manipula objectos do seu passatempo se assemelha à clássica figuração do avarento com o ouro...
Degas era Grande. E não são as pobres lembranças que aqui trago que revelam méritos.
Beijinho

Anónimo disse...

Terpsichore,concordo consigo quando diz que Degas não gostava do lado sombrio(será que interpretei bem a sua ideia?)"que caracteriza o coleccionador":pude visitar, na National Gallery, de Londres, uma exposição temporária com quase toda a pintura e escultura do artista, e dela ressaltava uma obra maioritariamente luminosa,embora aqui e ali se encontrasse esse lado mais cinzento,como por ex.em "O Absinto", onde ressalta o olhar desesperançado da mulher.
Mas neste quadro, no tal olhar, que refere,encontro claramente aquilo que o Paulo define como caracterizador do coleccionista ansioso e pouco comunicador,devotado, quase exclusivamente, ao "objecto da sua eleição"
Beijos aos dois.

O Réprobo disse...

E já falámos aqui de «O Absinto», lembro-o bem, Cristina.
Beijo

Terpsichore Diotima (lusitana combatente) disse...

Deve ter sido bonita a exposição, Cristina. Sim era isso que eu queria dizer, e também como o Paulo acrescentou (sobre o avaro). Só que eu me referia àquele coleccionador particular e às características representadas - não AO coleccionador.

Também lembro o absinto. Estou a gostar deste lado mais profundo do Degas.

Obrigada!

O Réprobo disse...

Querida Terpsichore,
O Degas era muito mais do que a maior parte dos críicos dele tiram, quanto a mim. Postei no blogue anterior um opinanço sobre ele que vou tentar descobrir, embora seja um tanto agulha em palheiro.
Beijinho

Terpsichore Diotima (lusitana combatente) disse...

Valerá a pena o esforço, caro Paulo! Serei toda olhos! :)

O Réprobo disse...

Vamos a ver. Escrevi tanto lá e sem etiquetas! Nem lembro como intitulei!
Beijinho

Terpsichore Diotima (lusitana combatente) disse...

Demonstrei o meu interesse, mas
da minha parte não há qualquer razão para te incomodares, por favor!...
Poderás escrever uma outra vez, ou não, quando e se quiseres, e... o escritor...sabes onde está :)

O Réprobo disse...

Obrigadíssimo por me pores à vontade, Querida Terp. Vamos a ver o que se consegue.
Beijinho