quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Para Quedas

Aniversário do registo oficial da patente do paraquedas, por André Garnerin, que tinha passado a alimentar a curiosidade das multidões, depois de ter sido o divertimento de Imperadores. O processo que usou, largar-se de um balão que deixava entregue à sua sorte, é uma metáfora de tanta fraqueza humana tentada pelo mergulho no vazio que, concomitantemente, leva a pôr de parte o que o eleva. O engenho tnha sido concebido para se evadir de uma fortaleza onde estivera como prisioneiro. Fica outra nota: quando a necessidade potencial é generalizada, pela expansão da aeronáutica, transforma-se a prática num desporto de evasão. Uma transigência para com o mundo da segurança, em que os instrumentos desta e apetência pelo risco se sentam ao colo um do outro.

2 comentários:

Anónimo disse...

Este desejo de voar tão antigo encontrou aqui uma bela imagem . Estes primeiros tempos das artes aéreas e aeronauticas por vezes tinham a inocência da beleza sem premeditação. Pode ser uma inocência cruel, numa segunda vista e assim a imagem como O Réprobo argutamente evidencia tem a outra cara de Janus. E a metáfora hélàs é verdadeira, descartamos a mão amiga desde que deixamos de precisar dela . Por isso chegar à nobreza de ser é ars longa,talvez longa demais para uma só vida.
Fica-se a simpatizar com aquele balão abandonado, em queda, considerado inútil, descartável como tanta gente de idade e de experiência, que é posta de parte e atirada para depósitos de idosos chamados com ironia perversa: lares.E nasce a pergunta: porque terá o Progresso que caminhar sobre o cadáver da sociedade e da cultura que julga temerariamente que ultrapassa?

O Réprobo disse...

Belíssimo tratamento do tema, Caro Anónimo. Nada tenho contra progresso real. A invocação programática dele é que costuma, não só carecer de correspondência factica, como ser pretexto para marginalizar quem não quadra nos cânones da crista da onda. Donde, sim, o balão inspira dó, uma variante mais dos muitos abandonos de antigos patronos ou protectores de que está cheia a vida pública, ao ponto de gerar aquela ironia "por que será que ele me ataca tanto? Não me lembro de lhe ter feito bem algum...". Mas veja a multidão: só tem olhos para o que é novo!