sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Atracções da Desagregação

Promete a Equipa do Corta-Fitas distribuída evocação das séries televisivas mais marcantes. Como tenho por indiscutível ser a melhor de sempre «Brideshead Revisited/ Reviver o Passado Em Brideshead», um dos raros casos em que o filmado é superior ao todavia excelente livro, aqui ficam umas palavras, não como substituição, mas à laia de aperitivo do que o talento de qualquer Deles nos possa trazer.
Um Jeremy Irons suficientemente novo para que os tiques parecessem contrapartida da falta de à vontade num meio diferente do seu tenta compensar a inexistência de uma família própria, reduzida a um pai (Sir John Gielgud) cheio de indiferença, demasiado ostensiva para não ser caricatural, mas sobejamente brutal para não ferir. Procura compensar(-se) através da intimidade com os elementos de uma aristocrática Casa da minoria católica inglesa, uma classe fechada sobre si por séculos de isolamento, em que, paradoxalmente, a homossexualidade era notoriamente abundante.
A proximidade com Lord Sebastian Flyte, um condiscípulo, - Anthony Andrews no papel da vida - levá-lo-á à propriedade de Brideshead. A partir daí a sua procura da felicidade, através da substituição do que lhe falta esbarrará na decadência da solidez do lar do Grande Nome. Descobrirá que lhe não pertence, quer pela vertente religiosa, mantida de pé pela mãe do amigo, quer pela união absoluta de uma atracção para além da camaradagem (Sebastian), quer pelo fracasso final da sua eventual porta de entrada nesses cumes sociais (Julia).
A chave, porém, residirá no conhecimento dos separados Marqueses de Marchmain. Ele, Olivier, divertindo-se com o facto de o jovem ter "tendência para se apaixonar pelos seus filhos" e, nessa Itália em que com outra Mulher se exilava, dando pistas da libertação que procurara fugindo daquela com quem casara. A Contraparte, Claire Bloom, na cena que encima, revelando a tragédia de uma Mulher que perde os três Homens que mais amara na vida, o Irmão mais chegado, o do amor carnal e o filho preferido, o qual por completo eclipsara a fatuidade sem magnetismo do primogénito, Bridy. A sua obsessão falhada por controlá-los tem tonalidades da tragédia shakespeareana em que os actores da geração menos nova desta série resplandeceram. E nem é essa que pode ser levada a mal pelo Narrador ou pelo público, mas sim aquele auto-controlo igualmente maníaco que transforma a Religiosidade, deformada a partir da perda da Alegria, num tirânico automatismo condicionado pela elegância.
O resto é o tom, o das perdas e memórias de período anterior a um cataclismo bélico, o do mergulho na atmosfera de desunião, essa patética fragilidade de todos os que não nos conseguimos livrar de certa superstição entranhada ao ponto de ganhar contornos de realidade: a de que o tempo das descobertas é aquele a que sempre voltamos.

15 comentários:

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

#Reviver o Passado em Brideshead" � inesquecivel. Da� n�o querer voltar a ver. O que me ficou da s�rie est� nesse lugar priviligiado, que � a mem�ria - para qu� tirar a magia?

Eu penso que a aura de J.Irons ficou para sempre marcada com esse papel. Vc viu " A beleza roubada"? - ele � um moribundo com muita espiritualidade.

beijinho

ps- o que � o corta-fitas?

�ltimo reduto disse...

Podes juntar-te à minha mãe! Eu não sou grande apreciador... :)

Mas vou tratar do tema.

Abraço.

O Réprobo disse...

Querida Júlia,
dou-Lhe razão, pois quantas vezes os revisionamentos não mitigam as nossas adesões? Neste caso, porém, o risco é menor, até porque a complexidade dos pormenores é difícil de fixar à primeira. Mas claro que o choque da impressão inicial é irrepetível.
Não vi o filme que diz, mas reconheço facilmente que ficaram sempre marcas em Irons, os tais tiques de que falava. Há um filme com ele que preenche o imaginário de vários Amigos meus, mas que abomino - um em que ele interpreta dois gémeos, obstetras, com uma panóplia de instrumentos inventados que parecem auxiliares de tortura...
O Corta-Fitas? Grande Blogue colectivo, linkado aqui ao lado. Não coloquei a ligação no texto porque não consigo fazê-lo nos posts do youtube,
Beijinho

O Réprobo disse...

Meu Caro Pedro,
a Senhora Tua Mãe tem gosto refinadíssimo. O do Filho também costuma sê-lo, mas tirou férias, neste caso.
Abraço

Anónimo disse...

Experiência

Anónimo disse...

Meu caro:

Como deves ter percebido, já estava a ver que não conseguia postar um comentário.

Sei que sabes do que falo a seguir. A minha ausência da lista de comentadores do teu blogue não se deve a esquecimento, nem a falta de amizade. É precisamente o contrário.

O medo de me viciar de forma irreversível, de novo.

Mas hoje não resisti. Falas de uma das melhores séries de sempre da televisão. Estudante de Direito, falhei apenas um episódio, quando fui ao aniversário do poeta e jornalista Paulo Fidalgo (Síntese Poética da Conjuntura), meu colega de turma nesses idos de 82 ou 83.

Tenho andado a ganhar balanço para rever em DVD.

Mas últimos dias de directas e contra-directas (não eleições, mas sonos trocados) não me têm permitido bloguear como habitualmente.

Parabéns pelos teus rosinhas terem chegado à Liga dos Campeões.

Aquele abraço de grande estima.

Sonia Baby Forever!

Anónimo disse...

Meu caro:

Em http://www.lusavoz.blogspot.com/ achará coisas decerto interessantes para si.

Cf. especialmente comentários aos postais de 26 de Julho e de 3 de Setembro.

O Réprobo disse...

Meu Caro Luís,
mágica série, que Te faz regressar a este convívio O comentário por prazer, ou comunhão de fruições, tem sempre a propriedade extra de não nos deixar obrigados a intervir quando não nos inclinamos a tal.
Mas deixar-me-á sempre obrigado aos Amigos que assim me distinguem.
Abraço apertado

O Réprobo disse...

Voo para lá. Ser falado em tal Templo de Sabedoria é distinção inigualável e, decerto, imerecida.
Abraço

Anónimo disse...

Grande série,indeed!Também ando à procura do DVD.

E,Paulo,o que se lhe oferece dizer sobre a tal discussão animadíssima,e esclarecedora,lá n"O Pasquim",que também eu já vinha acompanhando,com muito interesse?
Beijo

O Réprobo disse...

Querida Crustina,
já lá fui. Estou a pensar se opino em post, ou em comentário.
Beijo

T disse...

Eu tenho em DVD:)
Foi a minha primeira compra nessa área, há uns 5 anos...ou 4? ou 3? O tempo voa. Beijinho Cristina, Paulo e Julia

O Réprobo disse...

Ah, Privilegiada!
E eu que me tenho de contentar com uma mera fita, tipo K7, como escrevem os experts em SMS´s...
Bjinho

T disse...

Posso gravar-lhe se quiser.
Beijinho
Ai o Igac:)

O Réprobo disse...

Obrigad�ssimo, n�o diga duas vezes, ehehehehehe!
Bjito