segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Bota-Abaixo

Vem Sir Derek Jacobi juntar a sua voz a uma conglomeração de desconfiados que quer à viva força que Shakespeare não tenha escrito todas as obras que lhe são atribuídas. Presume-se que ficariam de fora as melhores, claro. A coisa está longe de ser novidade. Têm sido inúmeros os nomes a beneficiar desse pretenso testa de ferro, nem escapando Isabel I, o que criaria, a ser credível uma só dessas hipóteses, dificuldades similares. Por isso Delia Bacon, na foto, avançou a fantasia agora retomada, de uma sociedade que juntasse os melhores espíritos da época. Tão fanática se mostrou nesta pré-concebida tese, que foi pioneira no método cada vez mais actual de adaptar as provas à ideia de partida, em vez de concluir em face do que a investigação lhe trouxera. Tanto que chamava sempre ao Bardo "esse impostor do Will". Não admira que, com contenção verdadeiramente puritana, Hawthorne tivesse dito que a demanda da vida dela lhe prejudicara o juízo, uma vez que a verdade parece dá-la é como inilidível consequência de uma perda da razão.
A tal ponto que a escola que deixou pretendeu ver num dos escritos shakespeareanos a mensagem escondida eu nunca escrevi o que assinei. Este delírio motivou um casal de ex-criptógrafos de uma agência de informação norte-americana a descobrir na mesma obra um outro código que diria eu, W. Shakespeare, sou o autor de todas as minhas obras.
O argumento da origem social é nulo. Quantas obras gloriosas não são provenientes de meios modestos? Esopo e Epucuro nunca poderiam ter produzido, claro. O conhecimento da vida das elites era naturalíssimo num director teatral que era celebrado e privava com a Aristocracia. Não referir a terra natal talvez se fique a dever ao facto de Veneza, Verona, a Roma de César, a Escócia Medieval serem cenários mais apetitosos do que um honrado mas pacatíssimo vilarejo inglês...
E depois, não se diz como figuras públicas tão diferentes se teriam conseguido coordenar nessa unidade, sem qualquer falha, se não de harmomia, ao menos de confidencialidade! Ná, estamos uma vez mais é diante do despeito negador do génio de um só.

4 comentários:

Anónimo disse...

"Inilidível" é uma palavra de facto deveras fascinante...

Anónimo disse...

Estava a par da polémica há muito gerada em torno da Obra do nativo de Stratford-up-Avon; desconhecia,porém, essa da mensagem escondida,mas bem apanhada:))
Beijo

O Réprobo disse...

Caro Portugal...,
e muito treinada, então...

O Réprobo disse...

São uns pândegos, Cristina.
Beijo