segunda-feira, 10 de setembro de 2007

A Felicidade Introuvable

Foi num Dez de Setembro que o anarquista Lucheni matou, com um estilete durante horas imperceptível, a Imperatriz Isabel da Áustria, a Sissi das histórias românticas. Se a Anarquia infunde hoje alguma simpatia, porque contraponto estrénuo ao estado de coisas demo-burocrático que nos rege, a obsessão contra a Realeza de fins de Oitocentos não gerava senão repugnância; e partia de equívocos originados pelas ideias feitas - e das piores, como activo tentame de denegar continuidades ditosas aos inimigos identificados como desfrutando-as. O assassino diria no seu julgamento que "pensava ter morto uma das Felizes deste mundo", ao que o presidente do tribunal que o julgava respondeu ter ele liquidado uma desesperada. A vida da Falecida, assaltada pelas tragédias familiares, havia muito tinha perdido o brilho da Esperança, abafado pelo romantismo incipiente dos ímpetos que a levaram a um casamento programado para a Irmã e que não conseguiu impor vida fora no que toca ao ambiente, apesar da constância da paixão do Imperador. Plenamente empenhada na fuga ao formalismo, a sua simpatia húngara em breve resvalava para a que tomasse por objecto os dois factores que acabariam com a felicidade dos Povos do Império, as erupções nacionalistas e as liberalizantes. Falta de afeição pelo dever de ofício da Coroa, muito bem apanhada por Cocteau - que Nela se inspirou - e por Antonioni, em «L´Aigle A Deux Têtes» e no decorrente «O Mistério de Oberwald». Neste dia ligado à celebração de diários cumpre recordar como a própria se viu: Perambulo solitária sobre a Terra há tempo, alienada da vida e do prazer; não tenho e nunca tive alma que me entendesse. Vício de época e de feitio que apenas vê amor nas erupções e manifestações exclamativas, sem o identificar na constância do serviço do Outro. Sempre o individualismo a tomar o lugar que por direito é da Individualidade.

7 comentários:

Anónimo disse...

Nem tudo que reluz é ouro.
Nem tudo o que parece é.
As telhas dum telhado encobrem muita miséria.
As aparências iludem.

Beijo

Anónimo disse...

Mas,Paulo,ao vermos a Romy Schneider,até parecia um conto de fadas.
Beijo

Anónimo disse...

gostei do texto
Sissi sempre exerceu um fascinio sobre mim desde que conheci alguns dos seus palacios e a sua passagem pela Madeira

Cumprimentos.

O Réprobo disse...

Querida Cristina,
não há coisa mais transversal do que a infelicidade, como não há pior voto do que negar a isenção à parte da gente que aparenta escapar-lhe, por não ser esta fuga estendida a outros.

A Romy fez um grande trabalho ao trazer uma história ao monopólio das luzes, onde a História coloca pazadas de sombras.
Beijo

O Réprobo disse...

Caro(a) Anónimo(a),
é verdade que a Pérola do Atlântico foi caminho de exílio, forçado ou auto-imposto de Soberanas de Viena. A Imperatriz Zita também por lá se terá refugiado, rezando as lendas familiares que a assistiu então um médico meu vago parente.
E para Palácios, Habsburgos e Wittelsbach´s, que cocktail!
Igualmente

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

pensei que Sissi tinha estado na Madeira para curar a tuberculose. Era uso na época "curar" a tuberculose na Madeira, devido ao clima húmido. Nunca a tive como feliz.

O Réprobo disse...

Querida Júlia,
a saúde terá influído, mas foi uma etapa de longa viagem de afastamento que ela se determinou da Corte.
Beijinho