terça-feira, 25 de setembro de 2007

Razões da Escrita

Figura de Pompeia

Ando há vinte anos a perguntar-me por que razão não enveredei pela escolha profissional de jornalista. Nisto veio, hoje, ao meu encontro a resposta, graças à sagacidade de Sainte-Beuve. Não se é jornalista só porque se escreve, de quando em quando, artigos nos jornais. É jornalista aquele que está pronto a escrever sobre qualquer assunto, a todas as horas e a todos os instantes. Com efeito sempre procurei as notícias do dia, mas não conseguiria redigir linha de jeito sobre as que não elegesse. Daí também a minha admiração pelos Profissionais da Imprensa, sempre expostos ao imperativo ditado de fora, apesar de me encontrar consciente de que bom relacionamento numa redacção pode minorar as dificuldades com a sensatez distributiva dos temas. Nesse sentido, o bloguismo é o contrário: mesmo para os que metodicamente abordem o Actual, há sempre a escapatória da arbitrariedade - e não já mero arbítrio - criativa, com o cúmulo, ilustrado por este mísero post, de se acabar a falar do menos urgente dos temas, a personalidade do próprio escrevinhador. O que leva à velha similitude com o diário, esse género confessional a que uma vetusta ironia deu o mesmo nome que se encontra em tantos orgãos de Comunicação Social. E que dificilmente atingirá, quando se limita a espelhar e espalhar o seu autor, a mesma capacidade de interessar que uma impressão de leitura, na medida em que um livro é uma clarabóia para o Exterior, uma abertura ao que supera o círculo herméticamente cerrado da própria mesquinhez. Num certo sentido, o contrário do onanismo inteletual.

8 comentários:

Ricardo António Alves disse...

Foi o que me ensinou o Daniel Ricardo, na prelecção que me fez no «Se7e», à laia de boas-vindas. Um jornalista tinha de escrever sobre tudo: política, economia, futebol e até comboios...

O Réprobo disse...

Meu Caro RAA,
essa dos comboios devia trazer água no bico. Já mestre Hitch lembrava, em entrevista aos «Cahiers...», que os comboios, então entrando em túneis, se prestam sempre a símbolos fálicos.
Abraço

Anónimo disse...

Nos blogues tenho encontrado pedaços de escrita encantatórios,de que retiro um prazer encontrado por vezes também em crónicas de jornais,onde o autor pode dar asas à sua criatividade em moldes que se aproximam,ainda que dentro de certas limitações,penso eu,da liberdade do blogger;já o jornalista que tem de reportar os factos do quotidiano,vê a sua escrita muito limitada,e imagino que para muitos profissionais que se encontram enquadrados por tais balizas,esses condicionantes,ter que"escrever sobre qualquer assunto",por mais desinteressante que seja, sejam frustrantes.
Beijo

Anónimo disse...

Sirva el presente comentario para felicitar al Sr. Réprobo, otros destacados blogueros lusitanos y sus comentaristas: el prestigioso Diccionario María Moliner, ha incluído el término "Blog", dos años después de su irrupción en la Net. Ab.

O Réprobo disse...

Querida Cristina,
também há alguns Jornalistas que coseguem transmitir sensações de semelhante poder na respectiva prosa. Talvez a diferença que sente seja pensada, para não fazer interferir demasiado a subjectividade livre na configuração dos factos cuja transmissão do conhecimento é a missão inicial.
Beijo

O Réprobo disse...

Meu Caro Çamorano,
parabéns estendidos a Ti, pois que este nicho blogosférico, logo uma quota-parte do mundo agora consagrado no léxico oficial, é Obra (magnífica) Tua.
Abraço

Ricardo António Alves disse...

Nããã, pobre Daniel!

O Réprobo disse...

Ehehehehehehehehe!
Ab.