quinta-feira, 11 de outubro de 2007

De Perder o Sono

O Sonhador de Paul Kerr

Esta noite sonhei-me num avião, sonho mais persistente do que é costume, pois nem o chuveiro diluiu a memória dele. Algo digno de exame, a obsessão humana em encontrar no Onírico significados que influenciam a vida! Aristóteles terá definido a Esperança como o sonho de um homem que acorda, o que projecta no Futuro a produção mental. Outros, menos positivos procuraram valor profético, ou seja uma submissão da vontade humana a um ditame superior. E, para a Burguesia que se quer tranquilizar pagando, psicanálises de várias ordens tentam extrair razões ancoradas no Passado para se ter dado no que se deu, normalmente coisa pouco agradável, ou não se estaria ali. Sempre a descer, pois, na medida da decadência da Vontade, a tal que Ouspenski via insatisfatoriamente explicada pelas mil e uma escolas explicadoras.
Entretanto, para os meios populares - que não têm a bolsa ou a inclinação remetentes para consultórios, dão-se chaves para todos os gostos. O meu aeroplano seria, segundo Herbert Hespro, indício de estar prestes a ser chamado a feitos honoráveis que me cobrirão de glória. Será para tão breve o sucesso da minha tentativa de restaurar a Monarquia?
Sigo para a complexificação aventada por Soliatán Sun, a instaurar moderação: Se sonharmos com um aviador no seu avião, isto refere-se a algo muito complexo que temos em marcha, de que dependem muitas pessoas. Que se passa com o avião ou com o aviador dos nossos sonhos? Atravessa uma zona de tempestade? Sobe para um nível mais seguro? Está descendo em voo picado? Pressente-se uma catástrofe? As vicissitudes do avião dos nossos sonhos indicar-nos-ão se essa coisa complexa na qual navegamos na vida real, criada pela força de pensamentos interligados, corre bem ou corre mal. Bem, lembro uma aterragem perfeita na pista desejada. Quid Juris?
E Sybil Leek oferece perspectivas de satisfação mais personalizadas: Boa sorte inesperada, com alguns acontecimentos invulgares. À cautela vou meter dois euritos no Euromilhões...
Todas estas buscas de sentido me fazem voltar a uma indecisa hermenêutica da frase de Píndaro, segundo a qual o Homem é o sonho de uma sombra. Alusão à nossa lamentável inconsistência? Ou, pelo contrário, a exaltação de uma qualidade, a solidez, que o pobre vulto destituído dela desejasse? Ou ainda antecipação de Berkeley, imaginando a marcha da Humanidae como o sonho de um Ser Espiritual?
Qualquer resposta vai dar ao que me parece inegável - a concepção do sonho como meio de aumentar a importância do que, abstraindo de nos pensarmos à sua luz, seríamos.

8 comentários:

T disse...

Eu sonho muito com avionetes. Em vôo planado. E com o vale de Santarém. sei lá porquê.
Na próxima vez anoto os pormenores e remeto ao Dr Fraude:)
Beijinho

O Réprobo disse...

Com estas afinidades ainda nos vão acusar de lobismo de localização aeroportuária...
Bjinho

T disse...

Eu prefiro na Ota.
Beijinho

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

eu nunca sonho a dormir, só sonho acordada.Garanto-vos que são os melhores sonhos!

Gostei muito deste post.Beijinho aos dois

O Réprobo disse...

Já se adivinhava, Querida T. Um dos maiores reivindicadores dessa situação é o Presidente da Edilidade em cujo vale o Seu sobrevoo onírico acontece, ao que se vê... Há realmente algumas ligações do sonho à exterioridade.
Bjinho

O Réprobo disse...

Querida Júlia,
uma experiência tristemente célebre conduziu um gato à beira da loucura, através da interrupção dos períodos de sono em que sonhava. Tenho a certeza que o mesmo aconteceria se nos coarctassem os momentos em que, despertos, o fazemos.
Beijinho e, como costuma, B.Q.

Capitão-Mor disse...

Será que sonhou que me vinha fazer uma visita para uma perseguição às belezas tropicais!? Ah,ah,ah!

O Réprobo disse...

Meu Caro Capitão-Mor,
esse sonho entra na categoria do sonhar acordado, de que falava a Júlia
Abraço