terça-feira, 23 de outubro de 2007

Curvas da Prosperidade

Que fado o da Gioconda! Tudo o que era artista irreverente a repintou, mutilando-a, por ser tida como emblema do Classicismo, não se querendo reconhecer-lhe na sua pureza a imagem de marca de toda a pintura. Esta foi-lhe admitida pelos artistas sem plasticidade que se debruçaram sobre ela, dos críticos aos exotéricos. Nunca pude impedir-me de pensar que o tão propalado "mistério" do sorriso se deveria a um esquecimento da dentadura aquando da pose, como reforçaria esta descoberta de Gellin e Segal.
Da mesma forma a atenção que as respectivas pilosidades despertam, fosse num penteado mais retorcido, do género imaginado por George Gestaldo, ou nas diminutas expressões de sobrancelhas e pestanas. Não me parece que cole a tese agora aventada de restauros involuntariamente alterantes. Quadros destes eram retocados com cuidado que não se compadecia com esquecimentos. Vejo como mais natural a varição de visual da Dama, que, à semelhança Das de hoje, nem sempre quereria aparecer com o mesmo enquadramento capilar dos olhos, o que, desde a Roma Antiga, proporcionava às Senhoras de Qualidade expedientes para se transformarem, possuindo escravas gregas especializadas.

Interrogado sobre o tema, nunca acertaria no facto ora apurado de ser o Inglês o europeu em que a obesidade atinge, correntemente, maiores proporções. Apesar da apregoada excelência da dieta mediterrânica, à base de legumes, bem como dos abusos do beefsteak e da cerveja, prefiguraria os mais british dos Britânicos com silhueta esguia antes do que latinos e alemães, por exemplo. Mas talvez haja uma explicação independente dos hábitos da fast food: conhecida a deficiência da culinária das Ilhas de Além-Mancha e a correspondente apetência por experimentar as dos outros países, sem excepções significativas, essa condição de globetrotters da paparoca pode dar à luz protuberâncias de tomo.
Simplesmente, a complacência, se não o prazenteiro tom, com que a ironia contra si virada se faz retratar no John Bull comilão, ignorando os perigos iminentes aqui na encarnação francesa desenhada por Gillray, neste momento histórico tão ameaçador pode bem fazê-los acreditar que o mais evoluído estádio da Espécie seja como segue:

8 comentários:

Anónimo disse...

Cervantes calificó a las inglesas de su época como "Notomía de huesos" (Todavía no había nacido Lucy Pinder, claro).........Ab.

Ricardo António Alves disse...

O da frente lembra-me alguém... Ab.

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

Querido Paulo,

resta-me a consolação de que nunca evoluirei - sou magrela.

:-))
beijo

Anónimo disse...

Eu nunca entendi o fascínio pela Dama! Lamento mas é um quadro que não me fascina em aspecto nenhum, devo ser uma "bestinha" mas nespes...
Nem mistério lhe encontro, acho q não sorria com os dentes de fora porque estavam estragados ou faltava algum (o q na época era normal)... Nã, não me diz nadinha!!!!

O Réprobo disse...

Meu Caro Filomeno,
no tempo dela Diana Dors também disfarçava bem o esqueleto, parece-me...
Abraço

O Réprobo disse...

Meu Caro RAA,
mas aposto que não por abuso de fast food!
Abraço

O Réprobo disse...

Querida Júlia,
Quantas pessoas conheço que não dariam os olhos para partilhar essa estagnação na cadeia, ehehehehehehee.
Beijinho

O Réprobo disse...

Querida Luar,
no próprio Leonardo há quadros que me parecem infinitamente superiores. São os azares que fazem os ícones e as projecções de preocupações interiores dos críticos na tentativa de combinar sagacidade e sintonia com o público que determinam os êxitos duradouros, muitas vezes.
Lá está, a dentadurazinha olvidada, ehehehehehe.
O que me dá uma ideia, embora seja mau a lançar correntes. Cada bloguista dizer qual o quadro que é O da sua vida. Quer começar? Eu já escrevi no Misantropo que o meu era «Lanzas» de Velazquez.
Beijinho