Real... mente?
Visão do Autor por Werner Horvath
Leitura de «A Realidade É Real?», de Paul Watzlawick. Interessante passeio pelas respostas que cada ser vivo dá, enquanto condicionadas pelos dados que lhe foram especificamente disponibilizados, partindo dos estudos psíquicos mas não se atendo às raias desse campo. A propósito dos efeitos contraproducentes que injecções industriais e repentinas de modernidade podem ter em civilizações que não passaram pelos encadeamentos da nossa, surge um trecho que me parece extrapolável para cada indivíduo na sua relação com o Mundo e informação que absorve:
Ter à disposição, subitamente, um conhecimento muito superior que lance o nosso pensamento milhares de anos para a frente sem o benefício de uma aquisição coerente e gradual de todos os passos intermédios, poderá ter consequências verdadeiramente chocantes. As experiências clínicas demonstram-nos que a súbita exposição a informação de magnitude esmagadora tem um de dois efeitos: a vítima ou fecha a mente à nova realidade e se comporta como se nada se passasse ou abandona totalmente a realidade. A última hipótese é a essência da loucura.
É a overdose de abordagens do que o rodeia que pode levar a sucumbir, desde que deixe de conseguir dar emprego a toda essa oferta excedentária, um pouco o risco que corremos com a Internet, mas também com as leituras tradicionais e com a televisão. Esse sentido é um pouco diferente do alerta de Eliot, poetica e dramaticamente formulado, com uma diferença verbal que não é inocente. Quer nos «Quatro Quartetos», quer no «Assassínio na Catedral», se encontram frases diminuidoramente traduzíveis por a espécie humana não consegue suportar demasiada realidade. Aí, contudo, o risco mental não reside tanto na Razão superlotada de grãos a ordenar, mas na estabilidade moral e da conformação com o seu estatuto, pois o Real refere-se em primeira linha à concreção humana que desilude e a via escapista - mas não alienante - que permite a salvaguarda do equilíbrio é a Arte.
Leitura de «A Realidade É Real?», de Paul Watzlawick. Interessante passeio pelas respostas que cada ser vivo dá, enquanto condicionadas pelos dados que lhe foram especificamente disponibilizados, partindo dos estudos psíquicos mas não se atendo às raias desse campo. A propósito dos efeitos contraproducentes que injecções industriais e repentinas de modernidade podem ter em civilizações que não passaram pelos encadeamentos da nossa, surge um trecho que me parece extrapolável para cada indivíduo na sua relação com o Mundo e informação que absorve:
Ter à disposição, subitamente, um conhecimento muito superior que lance o nosso pensamento milhares de anos para a frente sem o benefício de uma aquisição coerente e gradual de todos os passos intermédios, poderá ter consequências verdadeiramente chocantes. As experiências clínicas demonstram-nos que a súbita exposição a informação de magnitude esmagadora tem um de dois efeitos: a vítima ou fecha a mente à nova realidade e se comporta como se nada se passasse ou abandona totalmente a realidade. A última hipótese é a essência da loucura.
É a overdose de abordagens do que o rodeia que pode levar a sucumbir, desde que deixe de conseguir dar emprego a toda essa oferta excedentária, um pouco o risco que corremos com a Internet, mas também com as leituras tradicionais e com a televisão. Esse sentido é um pouco diferente do alerta de Eliot, poetica e dramaticamente formulado, com uma diferença verbal que não é inocente. Quer nos «Quatro Quartetos», quer no «Assassínio na Catedral», se encontram frases diminuidoramente traduzíveis por a espécie humana não consegue suportar demasiada realidade. Aí, contudo, o risco mental não reside tanto na Razão superlotada de grãos a ordenar, mas na estabilidade moral e da conformação com o seu estatuto, pois o Real refere-se em primeira linha à concreção humana que desilude e a via escapista - mas não alienante - que permite a salvaguarda do equilíbrio é a Arte.
2 comentários:
Dentro desta área, o meu amigo conhece o austríaco Arthur Schniltzer? Adoro!
Não lhe conheço a obra estritamente clínica. Li algumas das obras em que a psicologia é entretecida com a ficção, afinal o destino dos melhores exemplares de uma e de outra, ainda que os autores sejam menos lestos em asumi-lo.
Abraço, Caro Capitão-Mor
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