A Propriedade de Si

Remetendo-nos sempre para os grandes arquétipos de espiritualidade universalizantes do Passado, de Leonardo a Pitágoras, somos candidamente induzidos a acredtar que só Valery os pode emular, hoje. Há que dar o desconto, no grande Paul há sempre a descontar a auto-suficiência, até na intervenção política, como na defesa que fez de Salazar, coincidente com a imagem sublinhada pelo Regime, do Homem obrigado a exercer o poder contra a sua vontade. Mas sem inocência ou adesão, transpira sempre a nota de superioridade auto-reconhecida do prefaciador célebre, condescendente para com essa contingência de um político, um degrau abaixo da sublime condição do Pensador, por uma vez concordante em descer até ele o olhar...
Valéry foi muito grande, mas não pela mitologia que construiu de si, a da exacta dimensão da capacidade especulativa concretizada, ícone vivo da alforria da alma pela assinatura de um discurso sem jargão ou masmorras conceptuais. Foi-o pela magistral esgrima da língua, enfim um aspecto formal, mesmo se menos construído por escola, aparentável com os princípios do Simbolismo que na maturidade fez gala de ter ultrapassado.
Sem comentários:
Enviar um comentário