A Propriedade de Si
Abençoado dia este que tem mais do que um aniversariante ilustre. Também Paul Valéry, o mais diferente que do anterior se podia imaginar. Outro de que é de bom tom prezar mais a prosa do que a realização poética, embora nos seus dias a celebridade, seguida de vinte anos aparentemente sabáticos, lhe tenha advindo de versos célebres. Na heterogénia produção que se seguiu teve êxito em conseguir passar a aspiração a encontrar a liberdade nos cumes temáticos mais elevados que o intelecto pode abordar, sem aprisionar na racionalidade dos filósofos o sistema criativo que não o encerre em servilismos de programas ou cumplicidades. De tanto exibir a sua encarnação da lucidez necessária acabamos por acreditar que poderia, se quisesse, ser um grande da Filósofia, só não acontecendo assim por os desprezar um tanto. Não se percebe tanto é como seria compatível tanta elevação libertadora com as obrigações da rotina académica, das solidariedades implícitas numa obediência maçónica, ou até do cigarrinho alcandorado a imprescindível bordão e traindo o papel submisso de prazer.
Remetendo-nos sempre para os grandes arquétipos de espiritualidade universalizantes do Passado, de Leonardo a Pitágoras, somos candidamente induzidos a acredtar que só Valery os pode emular, hoje. Há que dar o desconto, no grande Paul há sempre a descontar a auto-suficiência, até na intervenção política, como na defesa que fez de Salazar, coincidente com a imagem sublinhada pelo Regime, do Homem obrigado a exercer o poder contra a sua vontade. Mas sem inocência ou adesão, transpira sempre a nota de superioridade auto-reconhecida do prefaciador célebre, condescendente para com essa contingência de um político, um degrau abaixo da sublime condição do Pensador, por uma vez concordante em descer até ele o olhar...
Valéry foi muito grande, mas não pela mitologia que construiu de si, a da exacta dimensão da capacidade especulativa concretizada, ícone vivo da alforria da alma pela assinatura de um discurso sem jargão ou masmorras conceptuais. Foi-o pela magistral esgrima da língua, enfim um aspecto formal, mesmo se menos construído por escola, aparentável com os princípios do Simbolismo que na maturidade fez gala de ter ultrapassado.
Remetendo-nos sempre para os grandes arquétipos de espiritualidade universalizantes do Passado, de Leonardo a Pitágoras, somos candidamente induzidos a acredtar que só Valery os pode emular, hoje. Há que dar o desconto, no grande Paul há sempre a descontar a auto-suficiência, até na intervenção política, como na defesa que fez de Salazar, coincidente com a imagem sublinhada pelo Regime, do Homem obrigado a exercer o poder contra a sua vontade. Mas sem inocência ou adesão, transpira sempre a nota de superioridade auto-reconhecida do prefaciador célebre, condescendente para com essa contingência de um político, um degrau abaixo da sublime condição do Pensador, por uma vez concordante em descer até ele o olhar...
Valéry foi muito grande, mas não pela mitologia que construiu de si, a da exacta dimensão da capacidade especulativa concretizada, ícone vivo da alforria da alma pela assinatura de um discurso sem jargão ou masmorras conceptuais. Foi-o pela magistral esgrima da língua, enfim um aspecto formal, mesmo se menos construído por escola, aparentável com os princípios do Simbolismo que na maturidade fez gala de ter ultrapassado.
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