sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

O Fim de um Mundo

A Queda de Faetonte de RubensNão sei quantos dos meus Leitores terão a angélica pachorra de ficar acordados até às duas e tal da matina para verem a diarreia de um asteróide. Eu não. Concordo que a recorrente associação ao Fim do Mundo, desta feita, oferece indícios suspeitos: estamos no dia do ano em que nasceu Nostradamus, o qual previu um reino de terror vindo do céu. O corpo celeste chama-se Faetonte, o tal que por imperícia e vaidade, não foi capaz de conduzir o carro do Sol, incendiando parte do Firmamento e do Globo e dando origem ao Deserto da Líbia, sem o qual um certo coronel não seria concebível...
Mas não me convencem - se for realmente o último momento, não terei hipóteses de contá-lo aos netos. Se não for, escuso de embarcar numa burla. Prefiro tirar do episódio mitológico uma lição de amizade para com os animais, já que Hélio, a solar divindade, aconselhara o seu imprudente filho a não chicotear os cavalos.
De resto, pode ser que a ocorrência não marque o Fim do Mundo, mas o Fim de um Mundo. E esse teria sido o dos estados nacionais no Ocidente europeu que integramos. Por curiosidade, este fenómeno astronómico toma o nome de chuva de estrelas, em Português. Lembram-se de como é a bandeira da União Europeia?
E não se vislumbrando Zeus que fulmine a carripana pirómana, adequa-se igualmente aos autores da triste proeza o epitáfio do condutor desbragado do mito grego:
Aqui jaz Faetonte: Na carruagem de Febo ele correu;
E, se muito fracassou, muito mais se atreveu

6 comentários:

Anónimo disse...

Caríssimo Amigo:

Não tem realmente que se preocupar; a centúria de Nostradamus que refere o «rei de terror» vindo do céu reza assim:

«L’an mil neuf cens nonante neuf sept mois,
Du ciel viendra un grand Roi deffraieur
Rescusciter le grand Roi de’Angolmois
Avant que Mars regner par bonhneur X.72»

Ou seja, refere explicitamente o ano de 1999, sétimo mês, Julho, portanto. Já passou.

As versões adulteradas que têm circulado na Internet, claramente para provocar temor, e distrair as pessoas dos desmandos que os tiranetes reinantes sem coroa andam a praticar à tripa-forra, não têm qualquer validade.

É, aliás, curioso verificar a obsessão que certos indivíduos do «sistema» têm pelos «fins do mundo» por meio de um meteoro, estando sempre a citar ad nauseam o hipotético fim dos dinossauros... Se calhar, essas alimárias são os indignos descendentes desses monstruosos répteis. Não sei se serão de sangue frio, mas que são répteis moralmente, lá isso são...

E as «estrelitas» vão cair do trapo azul, lá isso vão...

Um grande abraço.

O Réprobo disse...

Meu Caro Carlos Portugal,
é, o espírito de pré-catástrofe costuma ser conveniente àqueles que pretendem exercer um domínio, por ameaçador ou assustado que seja, sobre os espíritos dos outros. Muitas vezes chegam a forçar-se e a acreditar na iminência do fim, talvez para semear algum calor à sua volta.
O que me dá tema para outro postal.
Felizmente que não foi ontem. É-me indiferente deixar este mundo, que já pouco aprecio. Mas ser-me-ia penoso não ter podido ler o comentário que o Meu Amigo teve a bondade de redigir.
Grande abraço
PS: Um chefe de seita, William Miller, previu o fim do mundo após ter testemunhado uma chuva de estrelas, a que chamou o "Grito do Céu". Na Europa de hoje teria muito por que urrar, na verdade.

Bic Laranja disse...

Diareeia de asteróides aplica-se com propriedade ao trapo azul. Determine-se e mande-se publicar. Cumpts.

O Réprobo disse...

Obrigado, Caro Bic. Em edição digital até poderá garantir-se que no Céu volte a estar tudo azul...
Abraço

Xantipa disse...

Por acaso vi alguns pingos dessa chuva de estrelas... estava em viagem e as estrelas cruzavam os céus à minha frente. Muito bonito.

O Réprobo disse...

Bem, lá perdi eu espectáculo, Querida Xantipa. Saltando um pouco, por que será que o local preferido dos meteoritos, para aterrarem, é a Sibéria? A princípio pensei que fossse simplesmente a extensão que tornava mais provável essa localização dos embates, mas talvez haja outra explicação.
Beijinho