A Vertigem da Bala
Um Dezembro O trouxe, outro O levou. Nada sobraria da República Nova, porque o Presidente só foi também Rei no génio do Poeta. Morto, não havia sucessor legal para pôr.
Hoje há tipologistas da Política que o dizem protofascista. Não foi coisa que se parecesse. Onde Mussolini fundou um movimento, mais tarde um partido, para conquistar o Estado, Sidónio recebeu-o das mãos de uma oficialidade jovem, romantizada nos Cadetes que formava, cansada de ser instrumento de conúbios satânicos entre Democráticos e Evolucionistas, copistas descarados até na designação da União Sagrada da França governamental-revanchista. Paes não era expansionista, nem vanguardista, apesar de favorável a reformas sociais opostas à repressão costista não assentava num sindicalismo alinhado previamente. Procurou o apoio das foças políticas do Regime que se opunham ao sistema jacobino: os Unionistas donde ele próprio provinha, os amigos de Machado Santos, desgostosos com o que a obra dera. Uns logo o traíram, os outros não contavam suficientemente. Voltou-se para os Monárquicos, os quais, com o sacrifício de ideais por amor ao País que sempre os entorpecerá, aceitaram colaborar, numa lealdade recíproca.
O único traço que se poderia apontar de paralelo com o que triunfaria em Itália na década seguinte era o apoio dos Combatentes. Mas de diferente natureza. Enquanto que nos veteranos transalpinos sobressaía a amargura de um esforço nacional expresso no seu sangue e insuficientemente recompensado, por cá grassava o sentimento de revolta por se verem atirados, sem preparação nem enquadramento, para as sangrentas trincheiras de um morticínio que não visava o interesse de todos, antes procurava proporcionar boa figura aos tiranetes que nem a fraternidade maçónica evitava que fossem troçados por essa Europa fora. Os Desgraçados, privados, por incompetência e indisponibilidades, da prevista e necessária rotação das unidades, bem cantavam:
Ó Grande Sidónio Paes,
Director da Revolução,
Não nos deixes sofrer mais.
Rende a nossa guarnição
Idolatrado pelas Mulheres como só D. Miguel o fora antes, tombou no Rossio num 14 de Dezembro, vítima das balas de um assassino que seria subvencionado pela Maçonaria, através do próprio Grão-Mestre, Magalhães Lima. Nada que espantasse. Já tinha havido o Regicídio e anos de crimes sem conta. Dizem que só à primeira vez é que custa. Aos facínoras nem essa, suponho. Diante do corpo, no velório, o Ministro Norte-americano acreditado em Lisboa proferiria o que tantos mais tarde diriam de Salazar:
Era um Homem demasiado grande para o país
Verdade, mas para aquele em que nos tornámos, no Passado foi diferente.
Hoje há tipologistas da Política que o dizem protofascista. Não foi coisa que se parecesse. Onde Mussolini fundou um movimento, mais tarde um partido, para conquistar o Estado, Sidónio recebeu-o das mãos de uma oficialidade jovem, romantizada nos Cadetes que formava, cansada de ser instrumento de conúbios satânicos entre Democráticos e Evolucionistas, copistas descarados até na designação da União Sagrada da França governamental-revanchista. Paes não era expansionista, nem vanguardista, apesar de favorável a reformas sociais opostas à repressão costista não assentava num sindicalismo alinhado previamente. Procurou o apoio das foças políticas do Regime que se opunham ao sistema jacobino: os Unionistas donde ele próprio provinha, os amigos de Machado Santos, desgostosos com o que a obra dera. Uns logo o traíram, os outros não contavam suficientemente. Voltou-se para os Monárquicos, os quais, com o sacrifício de ideais por amor ao País que sempre os entorpecerá, aceitaram colaborar, numa lealdade recíproca.
O único traço que se poderia apontar de paralelo com o que triunfaria em Itália na década seguinte era o apoio dos Combatentes. Mas de diferente natureza. Enquanto que nos veteranos transalpinos sobressaía a amargura de um esforço nacional expresso no seu sangue e insuficientemente recompensado, por cá grassava o sentimento de revolta por se verem atirados, sem preparação nem enquadramento, para as sangrentas trincheiras de um morticínio que não visava o interesse de todos, antes procurava proporcionar boa figura aos tiranetes que nem a fraternidade maçónica evitava que fossem troçados por essa Europa fora. Os Desgraçados, privados, por incompetência e indisponibilidades, da prevista e necessária rotação das unidades, bem cantavam:
Ó Grande Sidónio Paes,
Director da Revolução,
Não nos deixes sofrer mais.
Rende a nossa guarnição
Idolatrado pelas Mulheres como só D. Miguel o fora antes, tombou no Rossio num 14 de Dezembro, vítima das balas de um assassino que seria subvencionado pela Maçonaria, através do próprio Grão-Mestre, Magalhães Lima. Nada que espantasse. Já tinha havido o Regicídio e anos de crimes sem conta. Dizem que só à primeira vez é que custa. Aos facínoras nem essa, suponho. Diante do corpo, no velório, o Ministro Norte-americano acreditado em Lisboa proferiria o que tantos mais tarde diriam de Salazar:
Era um Homem demasiado grande para o país
Verdade, mas para aquele em que nos tornámos, no Passado foi diferente.
23 comentários:
http://diasquevoam.blogspot.com/2007/03/o-doutor-sidnio.html
É..a morte dele mudou tudo. Um bj
Querida T,
fui ver o belo postalinho. S.P., além de lente de Matemática era Major de Artilharia. Acontece, por vezes. Um Grande Professor da disciplina, que muito me influenciou e ao TSantos era Coronel da Arma.
Acima da sua predilecção pela Ordem coloco o espírito anti-faccioso, que, naquela época, era tão raro. Enquanto não se escreve a biografia que deseja, sugiro as «Memórias Sobre Sidónio Paes», de Rocha Martins, donde tirei a fotografia do Cadáver. E as memórias de um dos seus principais colaboradores, Teófilo Duarte.
Beijinho
Essa foto saíu na Ilustração Portugueza. Lembro-me bem dela.
Bj
Bela evocação, meu Caro Réprobo. D. Carlos, D. Luís Filipe, García Moreno, Sidónio, etc. - obstáculos no caminho da Maçonaria que não pestaneja em derramar sangue.
Abrs.
"Era um Homem demasiado grande para o país".
Não é necessário acrescentar mais nada...
Carrero Blanco, Sa Carneiro......
Querida T,
impressionante na serenidade, não é?
Beijinho
Além das vítimas que fizeram, mesmo sem ter havido derramamento de sangue, como João Franco ou Paiva Couceiro...
Beijo
Meu Caro Euro-Ultramarino,
dizem vários testemunhos que Sidónio confidenciava que não tinha ilusões quanto à fatalidade de o Avental o tentar matar, pela sua qualidade de ex-maçon. Tinha era esperança de que falhassem. Mas continua a haver muito quem goste de se inscrever nessa linhagem...
Abraço
Meu Caro Capitão-Mor,
concordaria inteiramente se tivesse sido dito "para este país". Porque nem sempre foi assim e uma Nação é o seu Activo e a sua História. Se bem que, como diz o Amigo Bic, nas últimas horas tenhamos passado à História, em exclusividade.
Abraço
Querida Cristina,
já falei do magoadíssimo tom na recusa de João Franco ao Rei D. Manuel II, no sentido de recusar o Real Convite para regressar à Política. Muito dele vinha, claro, de saber que com a sombra das otganizações secretas deste jaez qualquer obra ficarria comprometida.
Sobre Couceiro, no livro do R. Martins que citei à T, vêm algimas revelações interessantes, quer no período imediatamente seguinte ao atentado, quer antes.
Beijinho
Meu Caro Filomeno,
...e Sidónio Pais. Com efeito, esta foi a segunda tentativa de assassinato, houve outra perto de uma barragem, creio.
Abraço
«Longe da fama e das espadas,
Alheio às turbas ele dorme.
Em torno há claustros ou arcadas?
Só a noite enorme.»
A fotografia que o meu Caríssimo Amigo publicou reflecte exactamente isto. A noite enorme que engoliu o País e parece querer sufocá-lo. A treva que destrói os mais dilectos Filhos da Pátria, como D.Sebastião, D. Pedro V (há quase a certeza do seu envenenamento, embora a história aventaleira «avente» a hipótese de cólera ou tifo), D. Carlos, D. Luís Filipe, Sidónio Pais.. e até, porque não, Sá Carneiro. Porque os mandantes do crime foram sempre os mesmos, a mesma sombra.
Há ainda o pormenor - não sei se verídico - da pomba de algodão em rama que o Presidente-Rei moribundo aceitou das mãos de uma velhota que conseguiu chegar até junto dele, o qual, já sem fala, apenas a apertou contra o peito em sinal de agradecimento.
Meu Caro, um Bem-Haja por ter recordado este Homem Bom, no aniversário da sua morte. Para mim é uma data triste - mais uma a que se soma a de ontem - mais triste ainda por Sidónio Pais, professor catedrático de matemática tal como o meu Pai, ter sido primo de minha Avó materna.
Agora, nesta escura noite, após o assassinato dos Homens Bons, estamos entregues a reles políticos e mercadores de desonra, que até os títulos académicos falsificam.
Mais uma vez, Bem Haja, e um abraço amigo.
El General Prim.......
O Paulo nem imagina o consultor bibliográfico que tem sido. Vários dos livros que tem indicado, tenho-os ido ali ao lado buscar, e só sei que o meu pai os tem porque este bibliófilo chama a atenção para eles.
Beijo
Meu Caro Carlos Portigal,
dentro da evocação de um momento tão triste é para mim muito grato poder deixar o testemunho da minha posição junto de um Parente de Sidónio. Ao pesar pelo que poderia ter sido feito de um País em decadência tenho assim a oportunidade de exprimir o meu pesar pela vertente particular do Homem.
Como Representante da Família peço-Lhe pois que aceite um abraço de um pobre português que procura estar do lado oposto ao Mal evidente.
Meu Caro Filomeno,
e Prim, sem dúvida!
Abraço
Querida Cristina,
deve ser cá uma biblioteca...
Mas não será essa uma das facetas da Amizade? Cimentar na intermediação dos livros e da Arte o bom entendimento das conversações? Sinto-me muito gratificado por tê-La aptoximado de tantos Amigos Comuns que se encontravam em repouso nas Suas estantes.
Beijo
Caríssimo Amigo:
Não deveria escrever «um pobre português», referindo-se à sua Pessoa, mas sim «um Nobre Português», por toda a Nobreza de Carácter que o meu Amigo sempre tem demonstrado (para além da vastíssima cultura, como é óbvio).
Não só aceito o Seu abraço amigo, como lho retribuo, com gratidão.
Caríssimo Amigo:
Apenas uma achega, quanto ao primeiro atentado sofrido por Sidónio Pais. Foi a 5 de Dezembro de 1918, quando procedia à condecoração dos heróicos sobreviventes do caça-minas «Augusto Castilho», que enfrentou corajosamente o submarino alemão U-139, impedindo que este torpedeasse o navio de passageiros S. Miguel carregado de tropas portuguesas.
Sidónio Pais escapou ileso dessa tentativa cobarde, que demonstrou quanto as forças do «mal evidente», de que o meu Amigo fala, desprezam a memória dos Heróis.
Um grande abraço.
Meu Caro Carlos Portugal,
muito obrigado pelas palavras amigas e pela lembraçã desses outros Heróis de feitos nada menores.
Grande abraço
"[...] Um morticínio que não visava o interesse de todos, antes procurava proporcionar boa figura aos tiranetes." Substitua morticínio e tiranetes por suicídio e tiranões para ver que a história se repete.
Cumpts.
Ehehehehehehe, Meu Caro Bic Laranja. É a tal constatação do Avô Karl, à primeira como tragédia, na reedição como comédia. Baixa, diga-se.
Abraço
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