domingo, 30 de setembro de 2007

A Ligação

Miss Moneypenny foi, à revelia dos textos, como secretária do chefe do 007, a presença que em todos os filmes acompanhou o protagonista, muito pelo que os parcos minutos de alusões seduzidas medraram no imaginário associado à série. Lois Maxwell personificou-a mais do que algum actor interpretou Bond. Hoje que morreu, todos os que vestiram a pele deste, os dois Cavaleiros do Império Britânico incluídos, são apenas Penny Boys.

Inspirar, Expirar

A Musa do Músico de Stanislav Plutenko
A neurose coeva faz muito artista incapaz de adorar a Fonte do próprio criar, fruto da viciação em prolongar o estado de pesquisa, essa segunda identidade da carência, como reflexo da Vida, concretizando-o na redução da capacidade de amar ao que não corresponde a interesse manifestado. Mitificação que pretende fazer do influxo inspirador uma entidade convivencial que o próprio possa influenciar, substituindo assim pela discussão interminável a adoração de Outrora, que proporcionava Arte de melhor qualidade. Vaidade atormentada que rejeita o que se oferece, mas não prescinde de imaginar-se fixação do sopro que permite voar, como se o silêncio frustrante resultasse da tristeza cansada e não apenas da indiferença.
De Jorge de Sena

PASSAGEM DA MUSA

Ó minha Musa, cuja nudez destrói
o vão sentido intérmino dos dias!
Quando ao crepúsculo reflui a vida
Em tuas sombras pelo corpo nu,
não chores nunca a luz com que iluminas
as flores e as árvores, o estio próximo
da noite audível sobre as folhas secas.

De uma varanda sobre o val´do mundo
ouço teus passos crepitando tristes.
E o vento agita os ramos mais esguios,
ao longe, muito longe, de onde vens.

Pelas cidades, no limiar difuso,
quem adivinha teu silêncio imenso
tapa os ouvidos com pavor de ti.
O pensamento cobres, como aos mortos,
da fina seiva que em teus membros brilha.

(Passavas, e a teus pés era o antigo
altar dos povos emigrando atentos.
Mas nas fogueiras logo havia um centro
de cada tribo para a noite em volta.

E, então, passsavas, muito ao longe, iluminada
face da lua, sempre a mesma, sobre
os campos do futuro, onde viriam
crescer espigas veniando fartas).

Tudo tu viste; e os estertores conheces.
Tudo tu sabes: e o dizer esqueces.
E as dores te doem,
como se as desses.

Não chores nunca, Musa! Passa! Passa!

O Poeta Louco de Michael Whelan

A Galinha e o Risco

Anos sobre o nascimento de Michael Powell, Realizador com génio artístico do tipo de nos pôr bem com a vida. Nunca será demais referir esse «I Know Where I´m Going» que deu a Wendy Hiller o momento maior da sua carreira e a todos os cinéfilos uma das mais extraordinárias fusões entre tratamento plástico da Natureza, operando sobre o íntimo da protagonista, a cena da travessia de barco para a ilha, com a tempestade adversa. Hoje não repisarei um dos lados de que mais gosto na fita, o triunfo do encanto da Tradição sobre a constução intelectual-volitiva do intuito materialista do casamento por interesse pela decidida personagem feminina. Quero, isso sim, lembrar os bluffs próprios dos magnetismos que, noutro grau e circunstância, são quase recorrência universal. Mas nem sempre ao ponto de obrigar à revogação das intenções enunciadas e poucas vezes ancorando em cenários de dramatismo tão decorativo, diferença bem pouca face a espalhadas modalidades da velhíssima certeza de que a liberdade que importa ao Coração, contrariando a que o cérebro inventa, é a de se deixar prender.

Top Model

Querida Júlia, é possível radicalizar a preferência: um chapéu menos discreto iria ou não a matar num modelo que causasse impressão mais profunda?

sábado, 29 de setembro de 2007

Três Vias Paradisíacas

Por que será que o nosso meio, sequioso de espiritualidades, fantasia identidades de anjos sem base canónica, através de divulgadores esotéricos de virar de esquina, esquecendo os Três Arcanjos que a Bíblia refere? Gabriel, Rafael e Miguel, aqui na versão de Josyp Terelya, entre muitos outros pelouros, gerem os da protecção aos artistas e o de defensores contra tentações. Razões bastantes para Os invocar no 29 de Setembro que é Seu dia, a propósito de duas Realidades que compartilham a data: Tintoretto e Anita Ekberg. Quem viu a sueca em «La Dolce Vita» ficou ceramente sem desejos que pedisse à Fontana Dei Trevi, toda a libido se canalizaria para a imortal banhista felinófila dela. E a lentidão apelativa dos seus movimentos encontra a contrapartida na celeridade do Mestre veneziano, aqui representado pelas também impressivas«Mulheres Fazendo Música». Tendo cindido as aspirações pictóricas em chegar ao nível do desenho de Miguel Ângelo e à cor de Ticiano, acabou por fundir num só momento metódico as pinceladas com que transmitiu novas sensações de relevo. Aos críticos que o estigmatizavam, dizendo que G. Bellini e outros demoravam muito mais, conseguindo maior fidelidade ao modelo, respondia que nada admirava, visto não terem maçadores da laia desses admoestadores em redor.
Pelo equilíbrio entre pressa e vagar excitantes são feitas as minhas admirações.


Nuit et Brouillard

Foi frutuosa em movimentações a noite que muitos adeptos do PSD querem ver transformadora do partido em Fenix. O líder derrubado pouco conta. Da incapacidade pura de ganhar debates parlamentares ao Primeiro-Ministro, mesmo no período das mediocridades académico-persecutórias em que era mais fácil, à indesculpável demissão na questão do aborto, nada conseguiu pôr na mesa que lhe aumentasse um pouco a estatura política. O único caso em que tinha um ponto de princípio a que se agarrar, o da CML, deixou que se arrastasse, com o descalabro da imagem de uma máquina partidária desejosa de devorar independências a preceder a hecatombe eleitoral.
Já toda a gente tinha percebido que ele era completamente incapaz de gerar empatias, o que o Dr. Menezes não é, embora se possa pôr em dúvida a extensão territorial que as mesmas consigam atingir. Todos os nasal-empinados donos e senhores do gosto que apunhalaram Santana Lopes, vingando a demarcação histórica deste, no fim do consulado Cavaquista, mal passe o choque, tentarão fazer outro tanto com a nova liderança. Só que o Presidente da Câmara de Gaia já está avisado...
Entre essas arrogâncias sobressai Pacheco Pereira, que já começou a destilar o veneno no blogue em que tenta disfarçar a sua decadência política. Interpreta Passado, Presente e Futuro com o à vontade que não se importa de esmagar quaisquer vestígios de Realidade: tenta colar a imagem de falhado a Santana Lopes, falsamente afirmando que o partido o acolhera com unanimidade e aplauso. É mentira, desde o primeiro dia adversários de sempre, como ele próprio, com amigos fingidos, se prepararam para corroer as fundações. Quanto ao tempo actual, chega ao delírio de querer colar o aparelho a Menezes e a promessas que esse lhe tivesse endereçado. Como se alguém tivesse carreira mais aparelhística que o Dr. Mendes, agora liquefeito! E como o atrevimento é proporcional à incapacidade, com a competência eleitoral que isolada e amnesicamente se atribui, vai predizendo aos laranjinhas um longo período na oposição ao Sr. Sócrates. Pode ser que sim, pode ser que não. Com a direcção e a Direcção anteriores é que não haveria dúvidas de que tal sucederia. Ao contrário do que diz, não se tratou de impaciência do PSD em sair da oposição; tratou-se de mero instinto de sobrevivência num partido dado como morto várias vezes, mas sempre ressurgido. E que até tem conseguido resistir a um Pacheco...
Que a vida pública seja preenchida de tristezas e alegrias destas é o mau olhado que todos temos de suportar. Por quanto tempo mais?

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Sabotagem Real

No aniversário do dia em que o Rei D. Carlos veio ao Mundo deu-me para revisitar o livro de António Cabral, contendo as cartas do Soberano a José Luciano de Castro e um valoroso estudo introdutório sobre Ambos. Sabe-se como o esforço pessoal do Monarca tentou e conseguiu restaurar Portugal na cena das Nações, após a inabilidade de um ministério que, solicitando a redução a escrito das pretensões Britânicas na África Austral, dera origem ao triste Ultimatum. Mas tinha de lutar também contra a agitação Republicana, a qual, manejando o rancor dos leitores de jornais, se opunha por todas as palavras à Inglaterra, até que, triunfante, lhe foi esmolar reconhecimentos e pedinchar visitas navais.
Dá o Chefe de Estado conta ao Político do que o entusiasmo pelos Boers estava fazendo, com a transcrição de um telegrama do Marquês de Soveral, Representante em Londres:
Infelizmente opinião pública em Portugal tem aqui creado pessima impressão e Vossa Magestade poderá bem apreciar o que será do nosso domínio colonial em África se daqui até ao fim da guerra algum acto nosso não vier a modificar essa impressão. Por de prompto parece-me indispensavel mandar já importantes reforços para Lourenço Marques, e no caso do actual governador não querer ficar, mandar outro que alem da Africa, conheça a Europa...
Termina a missiva instando ao efectivo deslocamento de tropas. O que a irresponsabilidade de governos eleitos e agitadores por eleger não custa a um Rei e a um País!

Os Fins dos Meios

E outra coisa: os prémios não eram sempre tão baixos, os intermediários não poderiam passar sem a casa extractora e a finalidade assistencial das receitas santifica a dita...

A Moral da História

Está convidada para tomar chá no estabelecimento adequado uma Menina que não se conforma com o fim do lobo,


sendo certo que a moral da história a retirar pelos que se sentem irritados por o conto não sair um bocadinho da linha é, paradoxalmente, a de que a Simpatizante Lupina tem o sucesso que se conhece ao saber mantê-la, consumindo produtos que não a afectam,


enquanto o partenaire, como lobazana que é, ainda embarca em engolir alimentos fora do prazo de validade...

Lua de Mel, Lua de Fel

O Autor chamou a esta desdobradíssima Dona de Casa Deusa. Julgo, entretanto, saber que uma Amiga desta casa consideraria o quadro amostra de Inferno ainda pior do que este antro. Dedico esta tensão a Todas as Senhoras que execram as tarefas domésticas.

O Sagrado e o Profano

Pois é, ó Vizinha, não está muito certo esconder dados. Que falasse só da faceta consagrável dos produtos da Companhia, vá que não vá, pois a produção remanescente também é sedutora, embora em mais mundano patamar.
Agora, escamotear que foi Pombal a fundá-la, o que deixaria esta casa em más disposições para com o líquido, é que já vai pela senda da batota.

E Camilo é magnífico para o bicho-homem. No que toque aos bichos-bichos, melhor é mergulhar nos bestiários medievais, aqueles que permitem à nossa imaginação divagar.

Keep The Flame!

O Miguel Castelo-Branco anuncia a retirada de «Combustões» e o início de nova aventura. Aqui Lhe deixo os melhores votos para o que queira e aquele que o é para nós, Seus atentíssimos e encantados leitores - que do Longe a que ruma volte ao nosso convívio. Que a Blue House seja um nickname da Blogosfera.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

A Condensação da Hierarquia

Dignidade de Randall La Gro

Não vi em directo a retirada de Santana Lopes da entrevista, por lhe terem interpolado a chegada de um treinador despedido. Mas os Jornalistas são os últimos culpados da atmosfera social que permitiu a evaporação do respeito pelos titulares da coisa pública. Descontando já os casos de desqualificação por criminais cometimentos, como pode sentir-se alguma reverência por quem pede tempos de antena como quem pede votos? Governantes a sério não se deslocariam a estúdios televisivos, fariam os entrevistadores deslocar-se às sedes do Poder; não obedeceriam a horários de estações televisivas, imporiam as possibilidades das suas agendas e disposições. Mas para isso teriam de receber o mandato de Cima: do Rei, dos Militares, fossse de que Tradicional Entidade fosse, nunca do voto popular, para mais defraudado pela sapa da minagem partidária. Assim se compreende o espanto da Perguntadeira. Mas este assomo de dignidade não deve passar de um chuvisco...

Fugas Para o Êxito?

À Grande Historiadora da Publicidade que a T é devo opor que para ganhar milhões não basta uma sorte de qualquer Gama, são precisos dois dedos de Testa.


E que este Galo me parece avinhado, razão pela qual prepara a criança para o sucesso em meios que apreciam candidatos com outros condimentos...

Darwinismo Bibliófilo

Pois bem, Querida T, em matéria de leituras a Girafa é como a Mulher, lutou por um papel que não fosse meramente decorativo: ei-la, aqui, demonstrando como pode ser meio de aquilatar da elevação das escolhas...
*

E parece uma discriminação censurabilíssima só falar na tradicional girafa africana. Por que não mencionar uma outra, como tal só reconhecida pelos zooólogos após a terem dado como equídeo? Refiro-me ao Okapi, desde Sir Harry Johnston tido por parente mediador entre as girafas pré-históricas extintas e a que conhecemos. A propósito da sua identificação foram trazidos à colação zebras, cavalos e burros, pelo que não me parece descabido dar a conhecer o retrato que segue, com que alguém se lembrou de me imortalizar...

Viva a Liberdade!

A 27 de Setembro as forças do General Varela romperam o cerco vermelho ao Alcazar de Toledo.
Honra ao Mérito dos Sitiados que mostraram que viver é incompatível com rendições.

Por Falar Em Pilhas...

Mas, T, ainda que cada leitura implique aplicar um tanto de si, cortar o pescoço para a alcançar não será energia desbaratada?

Menoridade

Estranha Metamorfose de Anne Bachelier

Por que será que alterações destas não suscitam, em boa coerência, as mesmas reacções aos opositores das alterações dos transgénicos? E pais que autorizam destas estão a desautorizar-se, na medida em que concordam com uma emenda (não ditada por coisa mais urgente do que a psicologia) ao que produziram.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Monica e o Desejo

Diz que a Primeira arribou ao burgo. O outro há muito que tinha estatuto de Residente por cá. Saúde sem Fraternidade, que se não quer incestos.

Negacionismos

O Chefe de Estado do Irão não se limitou a negar o que a imagem mostra, como esta notícia e muitas outras referem. Acrescentou à afirmação de inexistência de homossexualidade na sua Pátria um sugestivo "ao contrário dos vossos países", o que traduz bem o desprezo pelo modo de vida ocidental, reputado como razão do fomento das práticas sexuais condenadas. A resposta foi à letra, com a plateia a gargalhar. Não acredito que um tão grande auditório de Norte-Americanos jovens estivesse plenamente ciente das condições do quotidiano persa, ao ponto de ter base fáctica para saber falsas as declarações. O que se passa é que tão entranhada está a vocal presença homo entre o meio que conhecem, que se recusam aprioristicamente a considerar que todos os crentes da República Islâmica evidenciem os elementos posteriores das anatomias respectivas apenas por pias razões.
Dito o que é inconcebível a atitude do reitorzinho universitário: tinha todo o direito de não convidar o orador para perorar na sua escola. É, aliás, o que eu faria, se tivesse valia para reitor de alguma coisa. Convidando-o, teria de tratá-lo cortezmente, moderando ânimos e não acirrando-os. Numa outra comunidade islâmica, a dos beduínos do Egipto, a hospitalidade é tão sagrada que obriga, sob pena de desonra, a tratar bem os próprios inimigos, ainda que criminosos, que procurem asilo (wajh) na sua tenda, enquanto lá permanecem. Mas claro que o visitante não esperava comportamentos dignos de "depravados infiéis". Digam lá que estas iniciativas favorecem o Diálogo das Civilizações!...

O Centro dos Círculos Andados

Dia que seria o de anos de T. S. Eliot. Tempo de lembrar o erro grave de Murry, ao dar a sua busca do Divino como um ramo mais da árvore cheia das conversões de Românticos e Decadentes maravilhados com a descoberta da elisão dos niilismos de que se tinham saturado. Eliot nunca foi assim. Repudiou sempre a desagregação das relações de pessoas e realizações que observava, confrontando-as com a Unidade filosófica, espiritual e literária da Idade Média dos Séculos da Construção. Mas nem no período crítico, nem na rota para a Ordem que não esterilizasse nem dissolvesse abdicou da ética elitista que bebera desde a formação.
Por isso não se ficou em Maurras, que via muito preso às vogas da turba, quer no método de acção, quer no canto da liga entre Rei e Povo. Por isso foi atacado pelo grande C. S. Lewis, o qual lhe imputava o refúgio muito High Church em alturas que se reduziam a um club fechado. Mas talvez fosse julgamento muito duro, já que se nem todos podem ser franciscanos, a substituição pelo apreço da força do Amor que S. Francisco trouxe às Aspirações Mais Altas pode bem substituir a renúncia pessoal no que toque à descoberta do Absoluto. Que, assim reflexivamente demandado, acaba por revelar-se como o despertar da Fé, congelada durante os anos da Procura, mas disponível sempre no lugar que agora passaria a ocupar de pleno direito. Por debaixo da leitura do trecho fulcral dos «Quatro Quartetos» pelo próprio, a empatia com George, fraternidade com felina criatura de Deus; e a inquisitiva interpretação pictórica da lavra de Wyndham Lewis.


Sonhadora de Virgil Eliot
Segundo a confissão aqui depositada.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Chávez Para o Peito

Numa intervenção que só posso considerar como... peituda, o Presidente da Venezuela veio insurgir-se contra uma moda que também me incomoda bastante, a dos implantes mamários, essa alteração do corpo feminino muito mais submissa do que a dos espartilhos e tão perigosa como a que conduz a anorexias. Mas devo dizer que me perturba muito mais a voga da operação em jeito de prémio de participações televisivas, como tantas adolescentes vi implorar no programa fácil e popularíssimo de Howard Stern. Afinal, sendo os pais a oferecer, estão a corrigir a própria obra, não é mesmo, Coroné?

Razões da Escrita

Figura de Pompeia

Ando há vinte anos a perguntar-me por que razão não enveredei pela escolha profissional de jornalista. Nisto veio, hoje, ao meu encontro a resposta, graças à sagacidade de Sainte-Beuve. Não se é jornalista só porque se escreve, de quando em quando, artigos nos jornais. É jornalista aquele que está pronto a escrever sobre qualquer assunto, a todas as horas e a todos os instantes. Com efeito sempre procurei as notícias do dia, mas não conseguiria redigir linha de jeito sobre as que não elegesse. Daí também a minha admiração pelos Profissionais da Imprensa, sempre expostos ao imperativo ditado de fora, apesar de me encontrar consciente de que bom relacionamento numa redacção pode minorar as dificuldades com a sensatez distributiva dos temas. Nesse sentido, o bloguismo é o contrário: mesmo para os que metodicamente abordem o Actual, há sempre a escapatória da arbitrariedade - e não já mero arbítrio - criativa, com o cúmulo, ilustrado por este mísero post, de se acabar a falar do menos urgente dos temas, a personalidade do próprio escrevinhador. O que leva à velha similitude com o diário, esse género confessional a que uma vetusta ironia deu o mesmo nome que se encontra em tantos orgãos de Comunicação Social. E que dificilmente atingirá, quando se limita a espelhar e espalhar o seu autor, a mesma capacidade de interessar que uma impressão de leitura, na medida em que um livro é uma clarabóia para o Exterior, uma abertura ao que supera o círculo herméticamente cerrado da própria mesquinhez. Num certo sentido, o contrário do onanismo inteletual.

Perfeição Por Extenso

Querida T, eis, para melhorar o Seu dia, uma imagem do que seria a elegância dos seres atarracados que são as outras espécies a girafais olhos. Talvez sirva para pôr a agitação no devido lugar, o que a relatividade facilita. Repare bem, onde meio mundo pareceria andar empertigado veria o simpático e laconíssimo bicho a naturalidade discreta na perfeição. E para as Senhoras, que oportunidade para exibir colares e gargantilhas! Não já para as nossas gravatas, que obrigariam a plastrão do tamanho do lençol de banho, no mínimo...

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Os Vapores do Devaneio

Lendo o que a Luar escreveu em bomfimsemana.blogspot.com/2007/09/paul-cezanne-ouvi-em-tempos-uma-amiga.html dei por mim a sobrevoar o que me resta de cada sonho que alimentei e cuja realização vi negada. Curiosa a identidade de um vocábulo que significa o que não surge por querermos e, bem ao contrário, o que mais desejamos. Penalizam-nos os seus desmentidos tanto como a romagem saudosa aos túmulos dos Mortos Queridos, com a agravante de as suas cinzas terem sido espalhadas a tais ventanias que não subsiste sequer um interior local de peregrinação.
Hayley Westenra: «I Dreamed a Dream».

Sumo Imbróglio

É evidente que pagar as quotas de militantes favoráveis é uma esperteza saloia filha da própria essência do sufrágio dentro de um partido. Quero, no entanto, ver como é que o Dr. Guilherme Silva vai punir os militantes que estejam envolvidos no caso. Duvido que a coisa esteja expressamente prevista, logo é difícil aplicar sanções disciplinares. Até porque, no limite, pode ser dito que o pagador apenas funcionou como o voluntário que regista os totolotos dos colegas de trabalho, assim como outros poderão garantir que foi uma prenda desinteressada a conhecidos em dificuldades, que queriam muito estar em dia. Vá-se lá provar qualquer dos contrários! Se correspondessem a mais de quinhentos euros ainda poderiam recorrer à regra da obrigatoriedade declaratória do presente, mas é nebuloso como isso se viria a reflectir no partido.
Pena que a prática não se estenda ao pagamento de impostos, já que o voto nas instituições republicanas de si não depende e é coisa tão sem-valor que ninguém dá um tostão furado por ele...

A Protecção Atrelada

Puxado por este incentivo da T a que proteja as cervejas nacionais, devo salientar que nada no sector supera o favorecimento da Central. E com tal anúncio, para além de intervir em favor dos animais que tanto estimo, lembro, na sequência do postal anterior, a Girafa, o único mamífero que não emite sons. Está tudo ligado...

Marceau Fala!

A mais bela homenagem a Marcel Marceau está encerrada num comentário do «YouTube» a este vídeo evocativo: Ele não morreu, está apenas a desempenhar um papel. Actuou várias vezes entre nós e, numa delas, em 1960, deixou-se entrevistar pela revista «Almanaque», de cujo número de Fevereiro selecciono estas declarações:
Depois de salientar a ligação entre teatro de mimo e de verbo, apenas separados numa extinta experiência oitocentista francesa:
Fui eu quem redescobriu a tradição da linguagem no plano plástico. E esta arte não é uma arte meramente verista: há nela uma técnica elaborada que lhe dá distância, que lhe dá o valor de arte dirigida à sensibilidade do público, apresentando-lhe o homem no centro da sociedade e em luta contra ela e o homem em luta contra os elementos.
Lição de sapiência que todos devemos aproveitar para fortalecermos a resistência da nossa individualidade à erosão desagregadora de qualquer ambiente político-social e cultural atentatório que sejamos obrigados a atravessar.
Bip é um caso à parte. É um personagem em cuja volta se move uma sociedade abstracta mas que supõe visível (criada pelo homem) mas cujos elementos (do personagem) mostram uma gramática do mimo que - servindo um conteúdo humorístico ou trágico - constitui uma linguagem sintética que procura dar exactamente o sentido da vida.
Cheque em branco quanto aos factores de agressão, deixando em evidência o único reduto do concreto que importa: o da solidez pessoal.
Uma diferença fundamental separa Charlot de Bip - o primeiro, vive num universo concreto, palpável e carnal, que lhe é indispensável como espectáculo, enquanto o segundo cria um mundo poético e próprio a partir de uma realidade abstracta.
O que faz Chaplin arriscar-se a ver o seu génio mais datado, não só pela passagem do que o envolve, mas por apelar a uma emotividade menos intemporal do que a cativação poética equilibrada por um tanto de austeridade.
E, falando de influências, lembro-lhe que o mimo teve uma acção preponderante no teatro moderno. Em Beckett e Ionesco o mimo transparece, mas em Marceau ele afirma-se puro. E suponho que nos anos que se seguem essa influência se fará sentir mais ainda.
Isto porque no Teatro do Absurdo é a ausência de correlação lógica que sobressai nos comportamentos em cena, enquanto no mimo há superação dessa desagregação no esforço isolado de procura. Quanto mais imperiosa for essa necessidade, mais este tipo de arte calará fundo no Público...
Depois de elogiar os espectadores portugueses e de supor a existência de uma tradição teatral de respeito:
Não, não, não menosprezem os valores que realmente possuem. As potencialidades do vosso povo são extraordinárias e quem realmente quiser vingar nesta nova arte de teatro consegue-o. Estou a lembrar-me do vosso compatriota Luís de Lima, que comigo trabalhou em Paris. Os jovens portugueses de talento deviam seguir-lhe o exemplo: ir para fora, procurar os bons meios, aproveitá-los e voltar ao seu país a formar escola e a criar tradição.
Para alimentar uma plenamente em vigor: a de só nos conseguirmos prezar quando estranhos nos reconhecem valor. Possa a recomendação final obstar à fuga de talentos sempre tentada pelo abandono definitivo, não só da Terra, como da própria Nacionalidade.
Perdão ao Falecido e aos Leitores, pelos comentários escusados.
Bip, BIS!

domingo, 23 de setembro de 2007

Águias Depenadas

Foi a 23 de Setembro de 1943 que os remanescentes do Fascismo, após a planada e skorzenyana libertação de Mussolini criaram essa Republica Social no Centro e Norte de Itália, conhecida por Salo, que os Nacionalistas-Revolucionários, sobretudo os mais revolucionários que nacionalistas, gostam de evocar como regresso à pureza originária. Como por cá a perspectiva é diversa, de condenação de tudo o que cheire a partidos, sejam um, ou muitos, há a lamentar esse passo final, que acentuou os fraccionismos de parte, quando a prática governativa de duas décadas fora, em grande medida, de agregação nacional. Com efeito, o Partido Nacional-Fascista aglutinara aos Fasci do princípio os Nacionalistas de Federzoni, Garibaldinos, fiéis D`annunzianos e estabeleceu pontes com a Casa Real e Vaticano (De Vecchi e Constanzo Ciano) e políticos da partidocracia que antecedera, com Salandra a dizer, contra a doutrina, que o Duce tinha coroado... o Liberalismo Italiano! Também um dos aspectos mais objectáveis do regime, o carácter milicial, tinha sido algo domesticado por De Bono, ao conferir-lhe traços militares e transformá-lo no Quarto Ramo das Forças Armadas. Agora toda essa obra unificadora era posta em causa, pela agitação do republicanismo, modernismo e obreirismo da fundação. Nem referirei a miséria da manutenção devida às armas alemãs, pois a da Coroa, no Sul, estava igualmente refém das anglo-americanas, embora a defecção de grande parte da hierarquia governamental, desiludida com os azares de uma guerra impopular, talvez fizessem para ela pender o fiel da balança.
Entretanto, a violência em que se refugiou para contrabalançar os insucessos acumulados, com uma Verona percursora das execuções guerrilheiras e "justiças expeditas" do outro lado, viriam a dar espaço de atenção para delírios artísticos atribuidores de pulsões inventadíssimas, como nos «120 Dias» de Pasolini, rotulando de sexualmente condicionada uma absolutização do Poder, que, afinal era menos extenso do que nunca.
Único aspecto positivo: ter adoptado na bandeira uma Águia perdedora, que permite desviar a minha atenção de hoje de uma outra - que me vincula, essa - empatante...

Seis Meses Sob o Sol

Para não ser como Ícaro só se aguentam no Pólo Sul, com a fresquidão que esta bebida local proporciona...

E antes que surjam anti-sionistas indignados, devo dizer que interpreto a Estrela de David presente no anúncio apenas como garantia de local de promissão para... os pinguins.

In Vino Veritas

Não continues a beber apenas água, bebe um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas frequentes indisposições.
São Paulo, 1ª Epístola a Timóteo, 5, 23

Em dia de lagarada, uma notícia me deu que pensar. A da aptidão do vinho para localizar filões metalúrgicos não quererá dizer que a ambição alquímica de aperfeiçoar a Alma e a Saúde, começando pelo domínio dos metais, teria como segredo um alimento havia muito descoberto? Património que é da Civilização Judaico-Cristã que nos gerou, com a Terra Prometida dada como vinha e o produto consagrado transmutado em Sangue do Salvador, oposto ao proibicionismo islâmico que protela para o Paraíso a corrente vinícola que teria de suportar a concorrência das 72 virgens, não encerrará, nos nossos dias, a potencialidade de nos unir contra o radicalismo maometano e o eurocrata que querem enfraquecer ou erradicar este néctar?
Das quadras da nossa Tradição:

Hei-de morrer numa adega,
O tonel é o meu caixão;
O vinho é a minha mortalha
«Prá» estar de copo na mão.

Rapazes, quando eu morrer,
Lavai-me devagarinho;
Por baixo com aguardente,
Por cima, botai-me vinho.

As Bodas de Canã, de Paolo Veronese

Uivar À Lua

Homenagem à Luar, Que, num comentário em casa do Bic Laranja, Se insurgiu contra as tarefas domésticas, esquecendo a ligação delas à cobra...
...hoje como no Genesis.

sábado, 22 de setembro de 2007

As Surpresas da Ciência

A comprovação de que o Hobbit das Flores não é exemplar duma espécie conhecida sofrendo de microcefalia, mas corresponde a ramo animal autónomo, discutindo-se a inserção na cadeia evolutiva que também a nós alegadamente conduziu, deixa-me a cismar sobre se a arrumação como fraude do Antropóide de Loys, cuja foto foi publicada em 1929, não será também fruto da pressa ou do preconceito dos especialistas...

Por Causa dos Calores

Diz a T que os homens são influenciados pelos gelos do Alasca. Nem por sombras, Ma Chère, salvo no sentido de que nos derretemos à proximidade da Chama Feminina. Que somos propensos ao calor comprova amplamente a imagem que submeto. Mas a indicação final de alívio faz com que jamais vá ser cliente desta casa. Enquanto viver quero-me acalorado.

Impotência da Infelicidade

«Le 22 de Septembre» de Brassens, melhor psicologia do que as algemas das cartilhas de diversas escolas.

Casca Grossa

Não, Querida T, não estou só a confessar o que sou. Quero é demonstrar que, em matéria de elegância, um invólucro nacional, quando portador de refinamento, é muitas vezes condicionado por uma favorita estrangeira...
Eu exortei ao proteccionismo em matéria de aderência, não de glamour!

O Povo(ao)léu

Músicos do Povo de Cruz Herrera

Surge uma série de equívocos a propósito da designação de algum interveniente público como sendo do Povo. Não falo já na mentira de Marat, pois essa reportava a um desmentido afecto por si pretensamente dedicado, mas das designações que pretendem colar a alguém a estima das Pessoas Anónimas.
Ficou a invenção dos tablóides de Princesa do Povo para Diana de Gales. Puro decalque que só a amnésia colectiva não desmascara: o epíteto tinha sido usado para o Rei Jorge VI, Rei do Povo considerado por, sem a preparação específica para assumir o Trono, ter vindo a exemplarmente cumprir as obrigações dele, lutando contra as adversidades da gaguez e das tragédias da Guerra. Eu não alinho na detracção que publicistas por mim seguidos com atenção, Vasco Pulido Valente, Manuel de Lucena & alia periodicamente exteriorizam contra a falecida Mulher de Carlos. sucumbiu decerto a um papel maior do que as possibilidades dela, mas as infidelidades e desprezo do marido em nada ajudaram. Por outro lado, sou absolutamente hostil ao vício de classificar o empenhamento em causas humanitárias como manipulação. Se assim for, gostaria de ser manipulado por todas as Figuras Públicas, começando pelos dois referidos críticos. Mas há um ponto digno de reflexão - a decadência de uma sociedade, ao ponto de ser credível dar-lhe a preferência por alguém que não conseguiu cumprir o que de Si se esperava, quando, ainda não há muitas décadas, a mesma era aplicável a Quem o conseguia, fazendo das fraquezas forças e superando-se.
Da mesma forma, as tentativas de certa Imprensa, vindas a lume nos últimos dias, de dar Mourinho como o Técnico ou Treinador do Povo. Suponho que o seja tanto como Scolari, que um jornal brasileiro diz por cá assim ser chamado, o que me faz pensar que tenho vivido noutro país... Mas concedendo que ambos dessa maneira fossem tratados, também haveria um decréscimo de qualidade, na ética massivamente estimada para que remeteria. O Filipão, conhecido por mobilizar o apoio do País contra outras selecções, num pano de fundo de alegria e reconhecimento dos craques. O nosso milionariamente desempregado compatriota, tendo-se distinguido por exarcebar os mais fragmentadores instintos clubísticos, com referências arrogantes e polémicas com colegas de profissão.
Porém, a lição maior é que não são Músicos do Povo muitos daqueles que lhe tentam dar música.


sexta-feira, 21 de setembro de 2007

De Cabeça À Roda

Pois é, T, não devemos cair na asneira de aplicar aos pneus a prova de sapatos da Cinderela, queremos uma borracha para o "pé" de qualquer veículo. O que é nacional é bom, devemos juntar o nosso esforço ao dos Outros, em prol da Nação, Logo, faz favor de usar Mabor...

E, Inventiva Júlia, eis Os Chapéus da Moda de Elena de Varda, mostrando como a excentricidade das coberturas pode deformar. Mas para fazer a prova dos noves, Erico Menczer, com Chapéus, estabelece o paralelo com o fruto proibido. Há que moderar o apetecimento, ou da viagem nada aproveitarão!

O Complexo de Robinson


Fazem os Colegas do Corta-Fitas com que sofra de tão grave mania, por isto, por aquilo e por mais esta. Os sintomas? Ficar a olhar para o PC, à coca, na ideia de ver chegar Sexta-Feira, sem dar por aparecimento real, pese desilusor, que ocorra. Mas há sempre a esperança de esbarrar com uma náufraga do género de Lianne Dauban, a Estrela de «Shipwrecked».
Agarrado a uma Lianne destas até eu era Tarzan!

Clientes Na Carteira

Por que será que cada vez me é mais difícil concordar com qualquer coisa que José Miguel Júdice defenda? Talvez porque a consciência política de um ambicioso seja tão fraca como a carne do vulgo. Ainda comprei como escrupulosa a sua justificação da passagem do Sindicalismo Nacional-Revolucionário para a Social-Democracia, por não ser liberal. Mas que dizer agora, quando vem defender a legalização e reconhecimento de lóbis, essa pedra basilar dos mais liberalões dos sistemas? A grande desculpa que aventa não tem verdade em que assente. É falso que a institucionalização dos grupos de pressão diminua a actividade corruptora de políticos, como prova o exemplo Norte-Americano, em que o aliciamento está elevado a categoria legítima do processo decisório. Os sucessivos escândalos em larga escala, de que o caso Abramoff é apenas o derradeiro rebento, aí estão, a provar o contrário. Sem falar na perversão rotineira que é a intervenção legislativa servir de trampolim para carrreiras de lobismo remuneradas a peso de ouro, em que participam até ex-congressistas afastados, porque corrompidos, como Dan Rostokowski, na era Clinton, onde foi perdoado por favor presidencial, vindo agora dizer que não faz lóbi, apenas dá conselhos de estratégia legislativa...
Para além de que em Portugal, onde os eleitos são meros escravos de direcções partidárias, sem a individualidade autónoma dos do Tio Sam, cada vitória de um persuasor desses arrastar todo um grupo parlamentar, ou um executivo de qualquer nível, em vez de se cingir a casos sigularizados.
Legalizar o lobismo nem se pode justificar com o controle sanitário que equivalente medida traria à prostituição. E introduzir um ramo desses num país em que a interacção de riqueza e política são vistas com desconfiança, salvo pelos aspirantes de e a ambas, ao contrário dessa América Setentrional em que uma é credencial para singrar na outra, viria enfraquecer uma barreira psicológica fundamental: transporia da definição para a quantidade o limite do ilegal, enfraquecendo a percepção do censurável. É como transferir a decisão de um desafio de futebol do campo para a bancada. Conhecendo as claques que espreitam, quem quererá isso?