sábado, 29 de setembro de 2007

Três Vias Paradisíacas

Por que será que o nosso meio, sequioso de espiritualidades, fantasia identidades de anjos sem base canónica, através de divulgadores esotéricos de virar de esquina, esquecendo os Três Arcanjos que a Bíblia refere? Gabriel, Rafael e Miguel, aqui na versão de Josyp Terelya, entre muitos outros pelouros, gerem os da protecção aos artistas e o de defensores contra tentações. Razões bastantes para Os invocar no 29 de Setembro que é Seu dia, a propósito de duas Realidades que compartilham a data: Tintoretto e Anita Ekberg. Quem viu a sueca em «La Dolce Vita» ficou ceramente sem desejos que pedisse à Fontana Dei Trevi, toda a libido se canalizaria para a imortal banhista felinófila dela. E a lentidão apelativa dos seus movimentos encontra a contrapartida na celeridade do Mestre veneziano, aqui representado pelas também impressivas«Mulheres Fazendo Música». Tendo cindido as aspirações pictóricas em chegar ao nível do desenho de Miguel Ângelo e à cor de Ticiano, acabou por fundir num só momento metódico as pinceladas com que transmitiu novas sensações de relevo. Aos críticos que o estigmatizavam, dizendo que G. Bellini e outros demoravam muito mais, conseguindo maior fidelidade ao modelo, respondia que nada admirava, visto não terem maçadores da laia desses admoestadores em redor.
Pelo equilíbrio entre pressa e vagar excitantes são feitas as minhas admirações.


6 comentários:

Oliveira da Figueira disse...

Don Çamorano abalou,
Don Filomeno chegou!
Por aqui está a comentar
E que seja para ficar!

Anónimo disse...

Muito Obrigado, Sr. Oliveira da Figueira

Anónimo disse...

Caríssimo Amigo:

Como esperava, o meu Caríssimo Amigo lembrou este Dia, e muito bem.

Contudo, no seu postal, levantou uma questão bem profunda, ao mencionar a busca esotérica de «virar de esquina», feita de mitos, urbanos e não só, tão ao gosto de uma «New Age» tão disparatada quanto mercantilista.

Em relação a estas modas da «nova era», já tive largas discussões contra paredes de obstinação «iluminada». Passada a questão dos anjos, arcanjos e demais hierarquias celestes (é inútil fazer-lhes ver que as estruturas angélicas não são democráticas, nem nunca o poderiam ser),voltam-se geralmente para os orientalismos - que respeito -, com a «pureza nipónica» dos samurais, com a «antiguidade» de certas crenças e ritos (passando por uma mistura muito pouco ortodoxa de shintoísmo, budismo, xamanismo e outros ismos), perguntando, em jeito de superioridade, por que é que a História Europeia não tem tais raízes de tradição, tais princípios místicos.

Deixei de me irritar. Agora dá-me para rir. E, à expressão espantada dos «crentes da nova era», explico-lhes que os ritos da cavalaria europeia medieval eram muito mais fecundos do que os dos samurais, que o misticismo das ordens militares e religiosas - templários, hospitalários, espadários, etc. - conjugavam um conhecimento milenar de mística tanto oriental como ocidental, elevando-a, dentro do cristianismo, a novas alturas, e que o fascínio actual pelas «orientalices», assim como a «redescoberta» dos Anjos, era muito própria de um Novo Mundo que já esqueceu as suas origens europeias e, principalmente, os seus princípios.

No fundo, uma grande falta de cultura.

Têm dúvidas? Basta visitarem qualquer das grandes catedrais góticas da velha Europa, desde Chartres a Colónia, não esquecendo o nosso belíssimo mosteiro de Santa Maria da Vitória. Quem constroi maravilhas destas estava decerto imbuído de grande iluminação. Iluminação que o bruxuleante «Século das Luzes» não conseguia encarar sem se ofuscar.

Enfim, Caríssimo Amigo, talvez estes novos «iluminados» receiem o quarto Arcanjo, Uriel, o Arcanjo do Norte (cada um dos quatro estava conotado com um ponto cardeal), que na tradição da Ordem de Cristo conduzia as almas deste mundo para o Eterno...

Que os Arcanjos nos valham, a nós e principalmente a este pobre País, tão maltratado pela fauna que agora o habita...

Quanto à Anita Eckberg... está tudo dito!

Um grande abraço.

O Réprobo disse...

O Sr. Oliveira da Figueira é um extraordinário intérprete dos sentimentos desta casa.
Abraço

O Réprobo disse...

Agora, Caro Filomeno,
está garantida a entrada em clubes mais selectos do que esta agremiação popular, os quais apenas permitem comentários aos subscritores de contas na blogosfera.
Ab.

O Réprobo disse...

Meu Caro Carlos Portugal,
já o Grande Chesterton dizia que o ocidental contemporâneo, sob a capa de não crer em coisa alguma, está dispsto a acreditar na primeira proposta sobrenatural que lhe surja. Porquê essa defecção das tradições espirituais do Ocidente? Foi o próprio Salvador que disse ninguém conseguir ser profeta na sua terra...
O empenhamento das adesões, a seriedade dos estudos, podem ser maiores ou menores. Mas tenho para mim que o impulso para o que chega do Oriente, com uma incompetência própria do desenraizamento comparativo correspondente, é um avatar do exotismo que no Século XIX se anifestou no bric a brac, no XX no recurso a estupefacientes - com a paralela cocorrência das civilizações da América pré-Colombiana - e hoje nas técnicas espirituais e promessas de paz interior. O que diz muito do desespero em que nos deixámos mergulhar.
Abraço