sábado, 1 de setembro de 2007

Imagens da Leitura 14

O Velho Erudito
Nem tudo são rosas, todavia, na dedicação porfiada à Leitura. Há dois vícios de sempre que, fazendo o sujeito alojar-se nela, acabam por lhe perverter as virtualidades. Trata-se da imitação, força motora de tantas deglutições de páginas, que pode incidir apenas sobre a selecção das obras a ler, ou ir até às conclusões a tirar; e da avareza, o Leitor sério que procurou satisfazer aspirações intelectuais autênticas, mas se torna tão cioso do que sorveu que o quer guardar para si, sem o pôr sobre a mesa dos contactos sociais, como tentativa de interessar, melhorar os que com ele convivem, pelo conhecimento e sensibilidade que directa ou indirectamente acrescente, bem como a si, através dos contributos que aqueles com quem contacta possam somar ao proveito que tirou. É o ciúme, esse shakespeareano monstro de olhos verdes dirigido aos livros e não suportando outras proximidades que a dual entre volume e possuidor, no sentido físico como no espiritual do termo.
Ambas as degenerescências mencionadas são macaqueações. A que cegamente decalca o comportamento, pela característica principal atribuída aos símios. A dos Tios Patinhas livrescos pela impossibilitação de usar a linguagem logicamente organizada, restringindo a parecença com os comportamentos humanos aos gestos, desprovidos de essencialidade discursiva.
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Neste domínio, como em todos os da vida, há que seguir a velha regra legada pelos Árabes de tempos mais civilizados: O homem que não sabe que não sabe é um tolo, evita-o; o que não sabe e sabe que não sabe é um ignorante, instrui-o; o que sabe e não sabe que sabe é um adormecido, acorda-o; o que sabe e sabe que sabe é um sábio, segue-o.
Resta tentar não fazer diagnósticos errados. Sobre os outros e sobre nós.

2 comentários:

Anónimo disse...

Que bem enxergados,esses espinhos,Paulo!
E como bem se prova o quanto de sabedoria havia na antiga Civilização Árabe de outros tempos-"mais civilizados",como tão bem refere.
Beijo

O Réprobo disse...

É o ofício do jardineiro Cristina Mia.
Os quatro mandamentos excedem este âmbito restrito, mas creio-os presentes nele, também. É a eterna busca da lucidez, essa perseguição, após fuga sempre condicionante do Homem...
Beijo