domingo, 9 de setembro de 2007

A Metáfora Viva

A Torre de Nesle de Israël Silvestre

Lamenta o Amigo Bic Laranja não conseguir localizar com precisão a Villa Balzac em que o João da Ega de «Os Maias» habitava, na zona da Penha de França. Sempre solícito, este demoníaco intrometido que me esforço por ser aponta um caminho a desbravar: Carlos da Maia, tendo batido à porta do Amigo, não recebe resposta, apesar de ter ouvido, pouco antes, o ruído de rolhas de garrafas de Champagne a saltar, pelo que conclui que aquela morada tinha um ar suspeito de Torre de Nesle. Ora, o que eu proponho é passar à metáfora um atestado de literalidade e, do torreão que apenas a lenda consagra como local de orgias duma Rainha de França, se parta para a semelhança arquitectónica. Descubra lá, Amigo Bic, se alguma das edificações guarda parecença com este elemento da antiga muralha de Paris.
Tanto mais que a mesma imprecisão, uma metáfora do adultério, diria ser uma das noras de Filipe o Belo, a ter o costume salutar de para lá levar os amantes, após o que os lançaria ao Sena, ensacados. Em bom rigor, se alguma agiu assim, poderia desculpar-se, por os seus parceiros a terem deixado de saco cheio. Assim como o alter ego de Eça, não respondendo, estaria a recusar qualquer possibilidade de um amigo ser associado ao fastio de encher o saco...

4 comentários:

Bic Laranja disse...

Anima-me o meu Amigo com esta nova pista. Mas temo que a metáfora nos dirija afinal de volta para a realidade... literária. O nome Villa Balzac parece-me prova bastante. A Penha de França existe e isso dá verosimilhança ao romance, mas a escrita romanceada dá toda liberdade cenográfica (veredas, quintais, a casota, aldravas na porta...). Os detalhes podem ser o que o autor queira
Mas saiba que me ponho algumas questões: 1) Eça conhecia o caminho da Penha? 2) Foi lá de propósito? 3) Qual a razão? (Ega é alter ego de Eça...) Enfim! Quanto disto se mistura com a vivência do autor?
Confesso que não tenho estudado muito o Eça e acredito que estas perguntas possam ter respostas há muito, mas que quer, são cá coisas em que penso.
Obrigado pela referência.
Um abraço.

Anónimo disse...

Belo trocadilho :)
(e bela gravura)
Beijo

O Réprobo disse...

Meu Caro Bic,
creio que a chave residirá no seguimento do texto e nos limites da Lisboa de então. O escrito diz-nos que "Ega dera-lhe denominação literária pelos mesmos motivos por que a alugara num subúrbio longínquo, na solidão da Penha de França - para que o nome de Balzac, seu padroeiro, o silêncio campestre, os ares limpos, tudo ali fosse favorável ao estudo, às horas de arte e de ideal.". Claro que a realização artística para um inserido na escola do Realismo, implicava minuciosa preparação anatómica... Imagine pois a Penha como lugar ermo e não andará longe da solução...
Abraço

O Réprobo disse...

Querida Cristina,
grato pela aprovação. Note que de todo este enredo, a única parte de que há comprovação histórica é a da vida íntima movimentada das noras de Filipe o Belo...
Beijo