A Culpa Em Cada Esquina
Por onde pegar em Fritz Lang, no seu aniversário, sem repetir o que já tenha dito noutro sítio? Comparando um filme dele de que gosto bastante, «Scarlet Street/Almas Perversas» com a problemática de «Servidão Humana», de Somerset Maugham. Para sublinhar as diferenças, que partem de um paradoxo: onde o protagonista maughamiano era apenas aprisionado na inelutável viciação de se deixar subjugar pela Mildred de todas as perversidades, no filme do Grande Alemão o melhor Edward G. Robinson de sempre é, em simultâneo, mais e menos inocente do que ele: mais, porque nem suspeita do óbvio, que é a baixa exploração e mentira de Joan Bennett, mancomunada com o seu protector. Menos porque, para a sustentar, engana a mulher, que o desprezava, rouba e mente, tornando-se uma espécie de cake eater de terceira extracção. Depois de pactuar bovinamente com a própria usurpação da sua identidade artística, na altura das revelações, celebriza um picador de gelo muitos anos antes de Sharon Stone. E é na vingança em que culmina, com a danação própria que lhe segue, que a diferença mais se faz sentir, pois onde no romance do Inglês uma adolescente traz a libertação e a promessa de felicidade, aqui só resta a vingança e o afundamento interior nas sombras que o aproximam dos vilões programados.
É dos filmes mais pessimistas que conheço, em que todos são culpados, inclusivamente o Produtor, a Actriz Principal e o Realizador, os quais deixaram tacitamente usar o triângulo amoroso que ao tempo corporizavam como publicidade que promovesse a fita. E não escapam os espectadores, entretidos em detectar os paralelos entre a Vida Real e a Ficção filmada.
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