quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

O Lodaçal Que Afogou

Que me faz 6 de Dezembro lembrar? O fim de um regime, a I República, que vigorou em Portugal, a mais falsa moeda política que conhecemos, feita tombar por um caso gigantesco de fiduciária falsidade o qual quintuplicou as notas de 500$00 em circulação. Este foi o dia em que foi preso Alves Reis e, com ele atingido o que as arbitrariedades persecutórias partidário-policiais não tinham precipitado: o fim do detestável ciclo político. Os Portugueses destes tempos não se importavam grandemente com a perseguição dos vizinhos, mas não gostavam que lhes fossem à bolsa. Hoje andam tão anestesiados que estão por tudo.
Em dois sentidos maiores foi a facilidade com que este crime floresceu que catapultou Salazar. É que no caso ficaram abalados os dois maiores factores de permanência de uma anarquia em que os governos não mandavam nem duravam, salvo para encomendar a grupos sinistros serviços mais sujos ainda do que as respectivas mãos. O primeiro foi a ruína do colonialismo exemplar em nome do qual o Republicanismo agitara, caluniara, matara, crescera e se instalara. Concessionando a emissão de moeda ultramarina a interesses particulares e administradores sem garantias, com o desfecho fraudulento que se constatou, caíam por terra a "exemplaridade" da administração colonial e o mito do rigor financeiro. Eliminando Inocêncio Camacho, Governador do Banco de Portugal sobrevivente de uma infinidade de gabinetes, não pelo envolvimento que o criminoso tentou, mas pela responsabilidade técnica que o permitira, obrigar-se-ia a Ditadura Militar do ano seguinte a achar um técnico financeiro fora do Arco do antigo PRP. Há males que vêm por bem.

2 comentários:

Anónimo disse...

Pior ainda. O estado do país era tão mau que até diplomatas se envolveram nos contos do vígaro.

O Réprobo disse...

E foi o abandalhamento que fez a marosca dar para o torto, Meu Caro Rudolfo. O Reis engendrou um imaginativo esquema para contactar, em nome do Banco de Portugal, com a companhia inglesa impressora, forjando um timbre com o escudo nacional, quando, habitualmente, o banco central a contactava em papel de carta comum. Um caso mais em que a supercompetência é inimiga da competência.
Abraço