Aberturas Para o Além
Dia do nascimento de Olivier Messiaen e de Emily Dickinson. Por que pudor havemos de nos coibir de ler Uma ouvindo Outro, quando ambos se pronunciaram genialmente sobre o Não-Saber imbuído de Fim Altruísta como prossecução de Estado Melhor? Há no duo Futuros desconhecidos que permitem sonhar sem irrealismo, o do Ramal Paradisíaco da bufurcação post mortem do poema, os transes maternos em vista da redenção artística na outra Poetisa que foi a Mãe do Músico.
Em vez da alienação voluntária de um combate político alinhado e limitado pelas cumplicidades, ou de drogas igualmente fortes, a passagem pelo Inferno nesta Terra, de uma liberdade amputada e de uma carência nutritiva impostas por outros homens, dá, sem misticismo a faculdade parasensorial que acalma a Espera por um fim que se pressente, sem o optimismo ou o desespero que noutros se adivinharia.
A Poetisa dá-nos a Dupla Perda, a do Ente e a dum Nexo absorventes, como o quantum de Experiência que nos permite formar a ideia do local de perdição, que, estendendo, ou simplesmente não regenerando a Dor, torna impossível a Esperança e se basta na inpossibilitação de aspirar.
Talvez a chave esteja na comunhão universal gerada por um fugitivo momento entre guardas e prisioneiros do campo de concentração em que esta pauta foi composta, condicionada e executada: o Céu é um lugar em que a Música nunca falta nem ensurdece.
Juntos,
o «Quarteto Para o Fim Dos Tempos»
&
PARTING
My life closed twice before its close;
It yet remains to see
If Immortality unveil
A third event to me
So huge, so hopeless to conceive,
As these that twice befell.
Parting is all we know of heaven,
And all we need of hell.
Em vez da alienação voluntária de um combate político alinhado e limitado pelas cumplicidades, ou de drogas igualmente fortes, a passagem pelo Inferno nesta Terra, de uma liberdade amputada e de uma carência nutritiva impostas por outros homens, dá, sem misticismo a faculdade parasensorial que acalma a Espera por um fim que se pressente, sem o optimismo ou o desespero que noutros se adivinharia.
A Poetisa dá-nos a Dupla Perda, a do Ente e a dum Nexo absorventes, como o quantum de Experiência que nos permite formar a ideia do local de perdição, que, estendendo, ou simplesmente não regenerando a Dor, torna impossível a Esperança e se basta na inpossibilitação de aspirar.
Talvez a chave esteja na comunhão universal gerada por um fugitivo momento entre guardas e prisioneiros do campo de concentração em que esta pauta foi composta, condicionada e executada: o Céu é um lugar em que a Música nunca falta nem ensurdece.
Juntos,
o «Quarteto Para o Fim Dos Tempos»
&
PARTING
My life closed twice before its close;
It yet remains to see
If Immortality unveil
A third event to me
So huge, so hopeless to conceive,
As these that twice befell.
Parting is all we know of heaven,
And all we need of hell.
4 comentários:
O Quarteto é uma das minhas obras preferidas do século XX, pelo despojamento ascético que casa bem com a falta de meios de que o compositor dispunha.
Uma correcção: Messiaen não estva num "campo de concentração" mas sim num campo de prisioneiros, tendo de resto sido libertado em Março de 1941.
Meu Caro F.Santos,
sem dúvida, como veladamente aludi, a própria escolha dos instrumentos foi ditada pelos músicos que tinham ido parar àquelas paragens, sendo o Autor o que tocava o piano.
Atenção, a História, a Literatura e o Jornalismo parecem ter reservado a expressão "campos de concentração" àqueles que albergavam os privados da liberdade por motivos étnicos ou políticos, mas a origem dela reportava justamente uma aglomeração de prisioneiros de guerra: surgiu para designar os estabelecimentos em que os Britânicos internaram os Boers que aprisionaram na Guerra que ambos os povos travaram. O que quis salientar foi a privação involuntária como factor criativo, pois só alimentavam ao Compositor, cada dia, com uma sopa e um café, segundo um testemunho do próprio, nada revanchista, de resto.
Mistério dos maiores, como a vivência do sofrimento pode decidir o caminho na encruzilhada em que se inicia a Outra Vida.
Abraço
Mas a distinção é essencial, Messiaen foi parar ao stalag devido à débacle française e não por motivos político/étnico/religiosos.
Sem dúvida que a profunda religiosidade de Messiaen o ajudou a suportar a provação do internamento.
Um abraço.
Caríssimo,
não escrevi que esses motivos estivessem por detrás da reclusão, em momento algum.
E não só foi factor de fortalecimento, como lhe terá aumentado a capacidade de conferir significado aos sons, que coligia da Natureza, facilitando a transposição das Leituras que fez do Apocalipse. É o próprio que diz que, sem ter tido qualquer Revelação mística, a "sonorização" do Anjo lhe surgiu durante os períodos de maior deficiência nutritiva.
Abraço
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