A Falta de Graça
Leitura de um interessante debate - que de todo desconhecia - sobre um dos filmes da minha vida, «A Minha Noite em Casa de Maud», de Rohmer. No número 162 da revista «Rumo» Carlos Pontes Leça e Luís Margarido Correia começam o diálogo algo irritantemente, denegando alguma masculinidade ao protagonista, confundindo a hesitação oriunda da timidez com a das preocupações de coerência numa planificação da vida, que é a que está presente. A conversa ganha fôlego quando passam a abordar a problemática religiosa na formação das personagens e, em especial, o papel do ideal de Santidade na vida de um católico. Mas é estranho que, ao increpar a resignação de Trintignant face à ausência da Graça que lhe permitisse o Salto moral de Resgate, sublinhando muito bem a obrigação que um Crente deve fixar, ideal e, tanto quanto possível, consequentemente, à importância da acção respectiva, não tenham feito a ligação a este passo essencial que aqui postei. O Jansenismo e Pascal não andam lá por acaso, mas porque, sem cairem na capitulação atentatória da dignidade que é a Predestinação, transmitem um tonus de enfraquecimento da vontade, na medida do reconhecimento da ausência ou presença de uma "quase vocação própria e prévia" para a Perfeição, ou uma menor imperfeição.
Assim como em duas católicas mentes parece pouco caridosa a despromoção de Maud face a Françoise, pela luta com a culpa com que esta se debate. É que a relevância de ambas reside na concorrência que exercem no espírito e desejo do mesmo homem, não temos dados suficientes para avaliar as respectivas complexidades integrais. E aí pode sempre argumentar-se que não há triunfo do perdão da culpada religiosa sobre a atracção da inocente sem Fé, mas apenas a vitória da pré-programação de casar com uma Mulher loura e Católica. E nessa adequação ao aprioristicamente estabelecido se estenderia a crítica mais subtil e bem-humorada ao espírito Jansenista, como aqui é apresentado...
Assim como em duas católicas mentes parece pouco caridosa a despromoção de Maud face a Françoise, pela luta com a culpa com que esta se debate. É que a relevância de ambas reside na concorrência que exercem no espírito e desejo do mesmo homem, não temos dados suficientes para avaliar as respectivas complexidades integrais. E aí pode sempre argumentar-se que não há triunfo do perdão da culpada religiosa sobre a atracção da inocente sem Fé, mas apenas a vitória da pré-programação de casar com uma Mulher loura e Católica. E nessa adequação ao aprioristicamente estabelecido se estenderia a crítica mais subtil e bem-humorada ao espírito Jansenista, como aqui é apresentado...
2 comentários:
Bravo! Deixei referência lá no Ashram, com a austeridade devida.
Obrigadíssimo, Meu Caro Jansenista, temos de combinar a tal patuscada da Roda, para debater convenientemente Pascal, como sugeriu generosamente aquando da publicação do pequeno passo do filme linkado.
Abraço
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