sábado, 1 de dezembro de 2007

Rugas de Expressão

Nenhum cineasta, mais do que este, parece tão dependente da sua época. Pela temática de inúmeros filmes são constantes - e uma constante - as fragilidades de uma classe média da Sociedade de Consumo anglo-saxónica, quer no plano económico, quer no cultural, escravizada ao psicanalista e a padrões de convívio suavemente niveladores na incomunicabilidade adquirida, num cenário de fatalidade das hipocondrias e das tocas de casais. Mas há infirmações suficientes a esta regra: «A Rosa Púrpura do Cairo», «Zelig», «Os Dias da Rádio» não encaixam no modelo e só o artifício de querer ver a actualidade patenteada nos olhos que focam uma época menos presente. Tem muitos detractores, os quais não lhe perdoam os círculos de conversa de onde não parecem sair muitos dos seus filmes, tidos por pouco cinematográficos, ao não narrarem uma acção com sequência linear imediatamente apreensível. Não me conto entre esses, porque me sabe bastante bem rir de um mundo que rejeito sem ser tão ofensivo que me indigne. E por encontrar entre as inúmeras fitas que se reconduzem a este esquema obras maiores como «Manhattan», «Ana e as Suas Irmãs», ou «Annie Hall». Não alinho portanto com Opinadores muito estimáveis que celebraram na chegada de «Match Point» uma redenção narrativa e uma rendição do talento à específica linguagem do celulóide. Mesmo que a falta de solidez e paixão em que nos inserimos seja incompatível com a intensidade dramática, o riso proporcionalmente aplicado aos comportamentos reconhecíveis não será uma razão mais do que suficiente para prezarmos o tom, adequado a realidades muito menos adstringentes do que as pintadas por muitos realismos anteriores? Se não existisse o 1º de Dezembro, não teríamos Woody Allen. E talvez ficássemos mais pobres..

5 comentários:

Ricardo António Alves disse...

Muito bem. Sem poder falar do Zelig, que desgraçadamente ainda não vi, todos os que referiste são filmaços, do melhor que ele fez.
Ab.

O Réprobo disse...

Ai! Vê, vê, vê, Caríssimo RAA. É fantástico. Tenho-o gravado em K7. Se quiseres, terei todo o gosto em procurá-lo e emprestar-to...
Ab.

T disse...

O Zelig é óptimo!
:)

O Réprobo disse...

É o que gosto mais. Apesar de reconhecer que talvez o mais sofisticado seja «Manhattan».
Bj.

Ricardo António Alves disse...

Obrigado IC, mas está na lista...
Ab.