terça-feira, 14 de agosto de 2007

A Batalha Real

Gravura seiscentista de Pedro de Villa Franca, de Madrid, para a obra de Rodrigo Mendes da Silva «Vida y Hechos del Gran Condestable de Portugal»
Dia de Ajubarrota. Escreveu Carlos Bessa que os Portugueses mantiveram a memória da Batalha no duplo enquadramento de afecto e de advertência. Compete conservar esse património espiritual no que nos infunda auto-estima precatada, no primeiro caso, sem a insistência nas identificações que levam ao ódio cego. E, no segundo, extrair dele as cautelas que nos fortaleçam contra as ameaças efectivas que espreitam, não nos esgotando nas defesas assestadas a repetições literais, elas sim o perigo maior, por abrirem a guarda contra os adversários novos que se perfilam. Se não devemos ver o Presente com o Passado a servir de antolhos, também não devemos focar os acontecimentos pretéritos com a luz alterante do que lhe sucedeu. Momentos menos dignos de lembrança omitidos das visões celebrativas, como o do massacre de prisioneiros, não nos devem estigmatizar demasiado, por serem consequência do duro dilema de matar ou morrer que a sua conservação impunha, embora convenha lamentar ter-se verificado embaraço tão penoso. E a aliança inglesa não tinha então, já e ainda, o conteúdo de procurar não imiscuir-se nas lutas europeias, pois esse fora o princípio norteador da neutralidade de D. Dinis, D. Afonso IV e D. Pedro I, alterado por D. Fernando, nisto seguido, nesta fase, pelo Mestre de Avis, sendo, à época, a Inglaterra um poder continental, com restos dos interesses consideráveis que mantivera no território francês actual e com o Duque de Lencastre disputando o Trono de Castela. Para além do posicionamento perante a luta de Papas versus Anti-Papas.
Por isso, o grande significado de Aljubarrota deve ser outro: o de retirar a lição de como a iniciativa e a escolha do ponto em que se dá combate pode neutralizar as diferenças de efectivos, conduzindo a um equilíbrio no instante decisivo. E a garantia de que a coesão entre as nossas linhas permitirá colmatar as rupturas nelas provocadas pelos primeiros embates, assim mudando a sorte da luta.
Foram a concentração e o cuidado em não permitir ao Inimigo tirar partido da vantagem numérica global princípios importantes quer na saga asiática do Século XVI, quer na ocupação africana oitocentista. Mutatis mutandis é, no tabuleiro, supra-nacional em que nos enredamos, a condição da sobrevivência.

8 comentários:

Anónimo disse...

¿Existirán unos dulces que lleven el nombre de la famosa y aguerrida "forneira"?

Anónimo disse...

Pois é, Caro Çamorano, ao que parece, a dita «padeira» seria-o tanto como eu... É que na Idade Média portuguesa (e europeia) havia mulheres de armas, ao contrário do que na Renascença, e em épocas posteriores, se quis fazer crer. E a dita «padeira» seria mais uma delas. Assim, é pouco provável que hajam doces com o nome dela...

Repare que também consta que a heroína de Monção, Deu-la-Deu Martins, se defrontou em combate singular com a castelã galega das forças de ocupação de Melgaço. O combate, do qual Deu-la-Deu saíu vitoriosa, foi com maças de armas, o que diz algo sobre a têmpera e força física dessas mulheres.

E, Caríssimo Amigo Paulo, um Bem-Haja por recordar esta data histórica, e nos lembrar agora quem é o verdadeiro inimigo, e o cenário em que actua.

Um abraço a ambos.

Anónimo disse...

Recordando una pelicula de Jerry Lewis "Where is the Front ?" me inquieta seriamente la reclamación a viva voz que se ha hecho de la restauración del Califato de Córdoba en la no precisamente cercana Yakarta (Indonesia)............Ab

O Réprobo disse...

Olha, Caeíssimo Çamorano, eu de doçaria pouco pesco. mas vou investigar, embora suspeite que o Carlos Portugal terá razão e que a famosa Brites só seja tida por padeira para ter desculpa de brandir uma pá...
Isto de declarar profissões falsas é velho desporto português, só que hoje pr razões fiscais...

O Réprobo disse...

Ora essa, Meu Caro Carlos Portugal, o dia impunha-se, mas a ressonância por ele gerada pode levar a fixações e enganos fatais.
Isso é que eram mulheres! Suponho que não se deviam queixar muito de violência doméstica, ehehehehe.
Abraço

O Réprobo disse...

Ora, Çamorano, é lá preciso ir tão longe? O Coronel Khadaffi, essa pomba da paz dos manda-chuvas do Ocidente de hoje, disse o mesmo, sem tirar nem pôr.
E parabéns, o Jimenez, de uma simpática equipa russo-galega, fez figuraço na etapa de hoje da Volta. Já o José Azevedo, do meu Benfica, ficou a mais de dois minutos.
Ab.
Ab.

Anónimo disse...

Caríssimo Amigo: os maridos dessas mulheres - se elas os tivessem - é que se poderiam queixar de «violência doméstica»... A não ser que fossem da mesma têmpera e «treinassem em casa»... Hehehe...

Abraço.

O Réprobo disse...

Um treino de arromba, ehehehehehe!
Grande abraço