segunda-feira, 6 de agosto de 2007

No Abanar Está o Segredo

Noticiam-nos que se pretende um objectivo estranho, o de uniformizar os contudo importantes sistemas de refrigeração das unidades de saúde alentejanas. Não salta à vista a importância deste "fardamento nivelador", ao ponto de nos interrogarmos se o milhãozito de custo anunciado não poderia encontrar melhor destino. Cheira a obra de pavão e, examinando-lhe a bela cauda, lembra-se um estratagema refrescante que na morfologia dele terá, segundo muitos, buscado inspiração.
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Retrato de Senhora com Leque de Alexei Kharlamov

Se no Egipto e na Suméria antigos eram interditos às Damas de Qualidade, já que, como instrumentos de esforço, estava o seu porte reservado à classe escrava que melhoraria a vida das Amas, agitando-os, passou mais tarde a ser a sua principal função a indicação de estatuto, superior, mais do que qualquer utilidade prática. É tudo um produto da liderança e imitação no construcionismo dos signos sociais: quando as classes médias começaram a sacudir desesperadamente os abanos trabalhados para se promoverem, as Marcadoras da vanguarda da Moda passaram a usá-los para a comunicação secreta dos jogos amorosos. Mediante a colocação virada para cima, baixo, esquerda ou direita, cada qual com cinco variantes, obtinha-se um código correspondente a vinte letras do alfabeto. Desgraçadamente a iliteracia mascuina era grande e teve de se fazer neste campo o que noutros se usa para os analfabetos: simplificar os sinais. Assim, à passagem dos dedos pelas varetas convencionou-se atribuir o valor temos de falar. Pôr o leque na cabeça era não te esqueças de mim. Abanar-se com a mão esquerda, não estejas com essa mulher; ir à varanda, refrescando-se com o dito instrumentozinho, Espera por mim, saio já.
Importa ainda considerar que uma das mais persistentes versões da origem deste acessório o faz remontar a Kan-Sin, filha de Mandarim num baile imperial, a qual, não se conformando com o calor suportado pelas outras meninas sob as fantasias, teria retirado a máscara e, para não ser reconhecida e falada, de imediato a havia colocado à frente da cara e movido para cima e para baixo, com tanta força que obtivera o duplo ganho de se não revelar e aliviar-se da canícula.
Moral da história: para o Belo Sexo o leque é como tudo o mais, tanto serve para expressar-se como para esconder-se.

14 comentários:

Anónimo disse...

Bem!No seu caso,Paulo,não se poderá falar em desconhecimento dessa linguagem;está mais que apto para abrir uma escola,de onde ninguém sairá ignorando
tais técnicas :)

Terpsichore Diotima (lusitana combatente) disse...

Hummm...
Lembra-me isto outro postal que metia Adorno - e pois que eu fui atraída a esse Adorno de facto - e reli até se desvelar o significado ...

Lembro-me também de uma senhora que dizia que as senhoras, ao dar um ''passeiozito'' no Chiado, passavam na FNAC a comprar um ''livrito''...

Foi por isso que falei dos meus 5 'livritos'...

Tenho muitas vezes LIVRÕES PARA LER, e leques PARA REFRESCAR...tão necessários...em Lisboa, por exemplo...
Ai! É mau? Coisas de condenada?

O Réprobo disse...

Querida Cristina,
bondade da Comentadora. Havia de me imaginar, pior do que na primária, a soletrar as mensagens da versão na linguagem mais hermética...
Foi para alunos especiais, com dificuldades na aprendizagem, que se elaborou o método mais rudimentar...
Beijo

O Réprobo disse...

Querida Terpsichore,
e onde é que a assinatura da Rebelde entra?
Claro que a Baixa Lisboeta é fornalha nada comparável às Ilhas, onde, se o calor não é desconhecido, a vegetação e a brisa ajudam muito.
Beijinho, imagino a variada usança que dará aos leques...
E, sim, lembro-me da brincadeira de Adornos provida. Adoro relacionar o que parece proibido.
Beijinho

Mário Casa Nova Martins disse...

Caro Paulo

Embora a despropósito em relação ao Seu Postal, não resisto a vir saudar a conquista da Taçinha ontem à noite...

Abraço.
Mário

O Réprobo disse...

Meu Caro Mário,
espero que as férias estejam a correr a contento. Só não postei sobre o assunto porque pensava os meus Leitores boleiros todos em "vacaciones". Nem sonhava que mantivesse a leitura deste antro!
O caso até suscitou a estranheza de um Amigo Leão, também a banhos, o João Távora.
Abraço

T disse...

Leque é para refrescar o rosto afogueado e bocejar com vontade mas secretamente. Tenho amigos que gostam de me demonstrar como as verdadeiras senhoras o usam e invariavelmente partem-nos.É aquele gesto seco de abrir e fechar. Por isso, tenho leques estralhaçados em vez de pombas decepadas.
Sem leque não vivo. Tenho uma dezena a uso neste momento. Comprei uma ventoinha por graça, mas não conto o desaire.
Vivam os leques!

O Réprobo disse...

Querida T,
com amigos desses...
"como as verdadeiras senhoras o usam" e têm a lata de não olhar para a T, optando pelo fornecimentos de alternativas!!!???
Em vez de pombas decepadas? Ora, não há grande diferença, afinal os pombos de leque são uma realidade, não?
E com o brado final, só posso dar um pequeno presente. Segue de imediato.

O Réprobo disse...

Há que visitar:
perso.orange.fr/eventail/meli-melo.htm

Beijinho

Terpsichore Diotima (lusitana combatente) disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
T disse...

Hum. Um dia explico-lhe esssa dos meus amigos.
Adorei o presente:)
Beijinho

O Réprobo disse...

Ainda bem! Hoje vou meter-me Consigo. Nem é habitual, pois não?
Beijinho

T disse...

Ai é? Pois nada usual essa sua postura:) Beijinho

O Réprobo disse...

Já está, ehehehehehehe!
Beijinho