A Paga e a Praga
O Dr. Paulo Macedo retoma o paleio do aumento salarial dos políticos, coisa que me obriga a antecipar um pouco a pensada visita a momento esquecido da nossa História: aquele 8 de Agosto de 1827 em que os Ministros do Reino se dirigiram à Regente, D. Isabel Maria, solicitando que os seus ordenados fossem reduzidos de oito contos de reis por ano a quatro contos e oitocentos mil reis. Mesmo sabendo que entre os demandantes estavam alguns dos que se haveriam de locupletar aquando da venda dos bens expropriados a Clero e Miguelistas, notava-se, ao menos, o empenho em mostrar desapego, enquanto que hoje é o contrário que é enaltecido. A ideia de que aos titulares de cargos públicos conviria receber mais do que o auferido no sector privado é uma regressão ao espírito das sociedades primitivas, prolongado ainda na actualidade em conhecidas e tentaculares seitas, segundo o qual o chefe tem de ser, por isso mesmo, o mais rico. No caso dos Parlamentares, então, o despudor é total; sendo os únicos trabalhadores (vá lá, finjamos) que decidem unilateralmente os respectivos vencimentos, exigir-se-ia, se qualquer sentido de missão restasse, que nunca votassem no sentido de os melhorar. Mas, continuando assim, acabam como Midas, aqui pintado por Tournier, castigado pela ganância: o vinho que tentava ingerir, transformado em ouro, torna-se impossível de beber. Também no Portugal de hoje o reconhecimento dos Eleitores se achará transmutado nas transferências bancárias chorudas e, tarde ou cedo, deixará de correr.
15 comentários:
No fundo, uns precursores do Evo Morales, os ministros... Ab.
Caríssimo Amigo:
Só um comentário pessoano:
«Ninguém sabe que coisa quere.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...»
E é bem verdade, infelizmente. Estamos entregues a um bando de corsários, que nos rapinam almas e bens.
Rezemos para que seja a Hora.
Grande abraço.
Na parte do abarbatanço de bens d´outrem, Caríssimo RAA?
E, Caríssimo, Carlos Portugal, que desconhecem o pudor, ao contrário dos de antigamente, os quais ainda procuravam aceder a uma capa de sacrifício como imagem de respeitabilidade.
Outro, enquanto esperamos.
Estive eu ontem - já é acaso - a ver esse poema de Pessoa num meu outro blog não continuado, e a considerar colocá-lo mais uma vez no meu blog continuado.
O problema me parece, Carlos Portugal, é que não temos ainda visão comum e acordo sobre quem rapina almas e bens, e sobre quem são os corsários.
Frase aliás que me faz pensar num exemplo de outros bens mais concretos, e concretamente rapinados: os da coroa.
<<''Jóias da Coroa Portuguesa - Perdidas para sempre
O Ministério da Justiça holandês revelou ontem que terminou oficialmente a investigação do roubo das jóias portuguesas ocorrido há dois anos no museu municipal de Haia.
Portugal emprestou 15 jóias para uma exposição temporária intitulada "Diamante: da Pedra Bruta à Jóia".
Entre as jóias desaparecidas estão algumas das mais importantes do patrimônio histórico português, como o castão de bengala de D. José I, com um diamante bruto e um colar com 35 brilhantes, num total de 150 quilates. "O castão era uma das jóias de topo. É um raríssimo testemunho da joalharia de corte francesa do século XVIII", diz um especialista em jóias antigas.''>>
Não me admira nada que a investigação tivesse ''terminado''... o que me admiraria seria que ela tivesse começado!
Saberes de Cassandra - de que ninguém quer saber, já se vê.
O problema é que o que não se vê são as jóias, nem a jóia que é nosso País. E isso sim, é que seria bom de ver, e saber, não naufragando, mas como fénix.
Quanto ao resto, a cada um, Deus dá uma função diferente.
Beijinhos
(Nota: claro que aquela notícia já é de há uns dois anos, nada tem de novo). A minha consideração era independente da data.
É bem verdade, Querida Terpsichore; não há ainda visão comum acerca de quem nos rouba, sobre quem são os corsários.
É claro que temos corsários - a soldo de interesses nacionais e estrangeiros, nomeadamente da CE que tudo quer arrasar para impor a sua ideia globalista e mercantil - e piratas, estes na prática da rapina em proveito próprio, que apenas aproveitam a maré.
E de pouco ou nada servem os gritos de alerta das Cassandras deste País, pois que a maldição que lhes é própria continua a fazer com que ninguém acredite nelas.
Quanto às Jóias da Coroa Portuguesa, recordo-me bem de mais esse caso. E também de que a Coroa de Portugal nunca mais apareceu desde a funesta implantação da república.
Mas, aproveitando o mote, até «a jóia que é o nosso País», como muito bem escreveu, está a ser paulatinamente delapidada, sem que alguém ponha cobro a esta tragédia. São incêndios encomendados (pelos mesmos de quem os governos são testas de ferro), são serviços fechados e extintos, é a população extorquida de tudo sem o menor pudor.
Neste momento, Cara Amiga, creio que a face visível desses corsários está bem patente nos vários desgovernos, nos figurões da política, da banca e do futebol, desde os Berardos ignaros aos Balsemões bilderberguianos, passando por todos os recalcados e mauzinhos subalternos que formam o «pequeno poder», naturalmente sabujos e colaboracionistas, sempre à espera de migalhas dos abutres.
Enfim, creio que é tempo das pessoas se deixarem de clubismos - políticos ou outros - e começarem a encarar quem realmente os ameaça, quem é o «inimigo público».
É difícil, dada a extensa intoxicação dos media que se repetem num coro de papagaios, mas é necessário; não por questões políticas ou ideológicas, mas por uma questão de sobrevivência; nossa e do País.
Beijinhos.
Só para meter colherada em diálogo tão proveitoso entre Dois Espíritos que tanto estimo, lembraria a vergonha que foi, após a implantação da República o arrastar do folhetim da não-devolução das JÓIAS PESSOAIS da Rainha D. Amélia, o que só acabou por ser resolvido por intervenção de Teófilo Braga, como favor pessoal à amiga comum de ambos, a escritora Olga de Morais Sarmento, segundo esta relata nas suas memórias. Aí está um bom tema para um post!
Beijinhos e abraço
Olha, agora a sério: se há pessoa que foi injustiçada neste país de labrostes foi a rainha D. Amélia. É de se ficar corado de vergonha, ainda hoje. Não sabia desse espisódio do caco velho do Teófilo. Só lhe ficou bem. Ab.
Foi a boa acção da vida, sem dúvida. Nota bem, Caríssimo RAA, que não eram bens do tesouro Real, públicos, mas objectos pessoais.
Abraço
Salazar não deixava que se expusessem as jóias da corôa para que, segundo ele, não fossem alvo da cobiça alheia e do roubo, porque estando elas a bom recato evitar-se-ia o seu desaparecimento. De cuja protecção em última análise era ele o responsável máximo. Salazar bem tinha conhecimento dos assaltos e roubos a tesouros fabulosos noutros países, que se perpetravam a mando dos 'cartéis internacionais do rapinanço e respectiva receptação', a museus, palácios e igrejas, sobretudo na Europa mas não só, levados a cabo por estrangeiros 'legalizados' e especializados na rapinagem em alta escala, com o secreto apoio dos governos desses países. Isto, claro, só acontecia e acontece, nos países ditos democráticos. Eis a razão pela qual eles, os que mandam no mundo, querem à força que todos os países que o não sejam, se transformem ràpidamente em democracias - mas há outros motivos para que também o queiram, uns bem mais abjectos e outros menos, todos igualmente criminosos e que são do conhecimento dos povos - porque nos países sob regimes autoritários ou ditatoriais não punham eles os pés, salvo muito raramente apesar da apertada vigilância das fronteiras, como aconteceu algumas vezes, poucas, em Portugal não para roubar as jóias da corôa, porque a estas não chegavam eles nem de perto nem de longe, os tempos eram outros, mas para praticar alguns crimes hediondos como de facto cá aconteceu. E era sobretudo deste tipo de assaltos altamente sofisticados, praticados a mando de organizações secretas internacionais por interpostos homens de mãos de políticos acima de toda a suspeita - tal e qual como agora - que Salazar mais temia. Um tesouro que não está à vista não é cobiçado (pensa-se que terá sido esta a resposta dada a alguém que lhe terá perguntado o motivo pelo qual não autorizava a exposição ao público das jóias da corôa). E pelos vistos tinha a mais completa razão, embora os portugueses não compreendessem este excessivo receio e teimosia na altura. Como aliás a teve em tudo o resto que, disse, aconteceria a este pobre País e a este bom Povo caso este tipo de gente chegasse um dia a governar Portugal. O desaparecimento autorizado das jóias da corôa portuguesa do local para onde foram levadas com o exclusivo propósito de serem aí roubadas, mais não foi do que um 'deslocamento' do seu seguro local d'origem para outro mais propício, no estrangeiro, de onde pudessem, como puderam, ser fàcilmente subtraídas sem que quem cometeu o crime fosse detectado e muito menos detido. Aliás o roubo das jóias foi cometido com perfeito à-vontade e com todo o tempo do mundo. Pudera! Este foi um plano elaborado muitos anos antes, gizado à perfeição e obra de peritos no crime e alta traição, que inadmissìvelmente não são condenados a penas d'acordo com os graves crimes praticados. Mas a Justiça, como se diz, no nosso País já era. Os autores morais deste e doutros crimes de lesa-pátria, andam todos por aí e são por demais conhecidos dos portugueses.
Cumprimentos, Paulo.
Maria
As suas 'colheradas' são por demais apreciadas e enriquecedoras de qualquer conversa; e, como vê e muito bem diz o Carlos Portugal, com quem concordo inteiramente no acima expresso, sou eu antes a condenada!... :)
No seio da barbárie em que a História Humana se desenvolve, folgo em que essas jóias tenham sido honradamente devolvidas à Raínha D. Amélia.
Receio que quem tirou estas, oh caro Paulo, seja bem menos civilizado...
"... homens de mão..." e não 'de mãos', claro.
Maria
Querida Maria,
é bem verdade que os demo-liberalismos já nem escondem o seu carácter internacionalista, quer dizer de sucursais dos mais fortes, depois de, na primeira fase da existtência, se terem mascarado de expoentes da ideia nacional.
E, claro está, o António sabia o quanto o ouro enlouquece a maioria dos humanos. Todos o vemos, hoje, por todo o lado.
Beijinho meancólico
Obrigado, Querida Terpsichore, são as Agruras de Cassandra, não é?
Beijinho
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