quarta-feira, 8 de agosto de 2007

A Culpa Em Directo



Desde o início temia isto: o facto de a Miúda que se busca ser de uma nação diferente da do País em que a fatalidade ocorreu, tarde ou cedo motivaria acusações de negligência ou incompetência da imprensa mais sensacionalista do mundo, a dos tabloids que catarticamente servem para uma população vazar os piores instintos, contendo-se no resto. A reacção das nossas televisões foi também a previsível. Depois de sorver até à última gota as imagens da infelicidade de um casal atraente e de vida desafogada, voltaram-se para o extremo contrário, com insinuações persistentíssimas de haver culpas paternas escondidas na evaporação da Pequena. Uma espécie de "postura vingadora dos humilhados e ofendidos", ansiosa por mostrar que não é só nos meios pobres, pouco letrados e compatriotas, que se encontram as Leonores Ciprianos deste mundo. Mas também uma recreação com o próprio poder, o de destruir de uma penada a popularidade que o mesmo audiovisual havia laboriosamente construído. Não sei se há ou não razões para condenar os pais da Maddie. Se houvesse, tornar-se-ia mais perceptível o frenesi das diligências mediáticas, para além de resultado da dor, tentativa de afastar suspeitas. Mas, caso contrário, o que pode comparar-se ao horror acrescido de uma difamação desse teor, somando-se à aguda perda sofrida? Como não hão-de sentir-se revoltados? Não meto prego nem estopa na formulação de palpites sobre a responsabilidade dos McCann. Dum grande culpado estou certo - a imprensa e as TV´s que têm vivido de uma possível e precoce morte.

2 comentários:

Anónimo disse...

Caríssimo Amigo:
Para além dos apetites necrófagos dos tablóides, creio que o que sucede - dada a encenação completa que nos é apresentada, de permeio com pormenores de uma inverosimilhança extrema - é que a pequena terá sido raptada por alguém que será ou fornecedor ou membro de uma organização dos «powers that be» (aliás ainda nada me convenceu do contrário).

Assim, encena-se um «reviravolta» espectacular, aproveitando a dita perversidade mórbida dos «media» que se atiram logo como cães a um osso, perdoe-me a expressão, para poderem ordenar a paragem das investigações para que estas não cheguem perto dos seus «senhores».

Praticam o crime de rapto - quiçá para fins nefandos - e depois o segundo crime, o de lançarem a suspeita da culpa sobre os pais destroçados; o tal «duplo esmagamento» de que fala Júlio Gil.

Enfim, num enredo telenovelesco destes, só o sofrimento daqueles pais - e eventualmente da pequena - me impedem uma intensa náusea. Por toda a estrutura que está montada, desde os poderes instituídos aos «media», e por todos aqueles que vão, quais «mirones» a emularem as «tricoteuses» de barrete frígio, atrás do isco, sempre na mira do macabro.

Também não meto prego nem estopa a elaborar palpites sobre as responsabilidades dos pais, tal como o meu Caríssimo Amigo, mas não posso deixar de rezar por eles.

Um grande abraço.

O Réprobo disse...

Caríssimo arlos Portugal, a Quem me irmano, totalmente, na náusea e na Compaixão pelo casal, nem já sei se haverá um verdadeiro motivo substantivo por detrás destas acrobacias indiciárias publicitadas, ou se estamos a assistir a um mergulho na voragem de fazer e desfazer pelos Media, antes encetada no plano estritamente político...
Grande abraço