segunda-feira, 6 de agosto de 2007

O Avesso das Férias

Férias de Verão de Dmitry Alekseev

A nossa época consagrou como um dos mais inalienáveis o direito às férias, pelo que há que equilibrar as coisas e denunciar aqui o avesso das mesmas. Não gosto delas. Quando as fazia verifiquei que, à semelhança de turistas ou outros deslocados sazonais por lazer, me comportava de forma menos compatível com a exigência própria, do que no maioritário período do ano. Tendo renunciado a retiradas estivais, não pude perdoar-lhes a maldade de arredarem as pessoas que estimo do meu convívio, durante um mês inteiro. Acresce que quando as interrogo sobre o que fizeram durante essas expedições punitivas da rotina, obtenho um rol de factos que me fazem acreditar ter sido tempo muito mal empregadinho. Mas reconheço a todos a necessidade de descansar de mim, coisa que, caso pudesse, também faria.
O que não quer dizer que tenham razão as quimeras das "férias de sonho". Estas, conforme são propagandeadas e desejadas, resumem-se ao exotismo enquadrado por um luxo de dedo. Desafortunadamente, não o que se revela no critério da escolha, sim o que se ostenta como ancoradouro do chinelo mais reduzido em que se esvai esse tempo.
Em tal contexto, lamento que os políticos, Durão Barroso ontem, Sarkozy no momento, não tenham mais contenção no desvelar dos refúgios privilegiados para onde abalam. É que as gentes gostam de pensar os que as governam em razão de papel por si passado como devotados e esforçados, não como banhistas estirados em espreguiçadeiras de locais inacessíveis para o Comum. Esse é o natural das Famílias Reais, que não têm vida privada e que estão condenadas à nascença a essa limitação, não chegando à notoriedade por escolha periódica dos súbditos. E o das estrelas de cinema, criadas para animarem os nossos momentos de ócio, não para determinarem a globalidade da vida.
No entanto, embora gostasse de ver remetidos a maior modéstia os eleitos, não creio que o ataque dos socialistas franceses ao repouso veraneante do actual Presidente colha. Se contra Balladur o discurso inventado por Chirac serviu, é porque apresentou, em golpe baixo típico, o seu dia-a-dia luxuoso e protegido como incompatível com a compreensão das dificuldades dos franceses. Por ser regra e não momento de excepção. É que este, apesar da desconfiança que gere, passa depressa, porque se inclui no ápice de fantasia que, com inúmeras variáveis, cada qual também sonha para si. Apesar de o desejo de ser outro, trinta dias por ano, encontrar contraponto no de ver o responsável público como o mesmo, sempre.

8 comentários:

Anónimo disse...

Querido Paulo

Ainda bem que não se foi de férias. Eu não preciso de descansar de si, apesar de muitas vezes não estarmos de acordo.

Beijinho

Anónimo disse...

Paulo,
desculpe lá mas ainda vai ter de me aturar mais duas semanas(as férias começam no fim desta semana,mas só no fim da outra me desloco uns dias à Floresta Negra)para depois me ter aqui novamente à porta.
Além de pensar que uns diazitos de passeios(sejam cá em Portugal,mas esses prefiro fazê-los nos fins de semana,fora do tempo de férias,sejam no Estrangeiro,e neste caso procuro sempre lugares o mais calmos possível)são sempre muito proveitosos,acho que o regresso só aumenta o prazer do reencontro.
Beijo

João Távora disse...

Estava à espera de encontrar aqui uns "foguetes" benfiquistas. As férias, como tudo na vida, dependem da "nossa cabeça". Abraço!

O Réprobo disse...

Ainda bem, Querida Marta. Note-se que quando, uns comentários atrás, falei em «ser desancado por Si», pensava ter deixado claro o prazer que me dá a Sua companhia, mesmo na manifestação de divergências, desde que não se trate de casos de vida ou de morte.
Beijinho

O Réprobo disse...

Ó Cristina,
grandes notícias, quer dizer que as próximas duas semanas serão suportáveis, graças a táo Esplendorosa Companhia, que me fará esquecer outras abaladas. A Floresta Negra promete ser grande destino. Tenho um Amigo de lá, um literato cujo nome traduzido quer dizer "Urso", como em tempos teria convindo. E Ernst Jünger, o Mestre dos Mestres morou na orla dela durante meio século. Longe das areias, dos óleos e dos chinelos, enfim!

O Réprobo disse...

Meu Caro João,
não era caso para tanto, apesar do troféu ser bonito, com uma pontezinha esculpida, pouco mais era do que jogo a feijões.
Quanto às férias, concordo inteiramente: sou muito cabeçudo na oposição aos engarrafamentos para chegar à praia e diagnostico aos que se submetem a essa ordália um estado de cabeça completamente perdida.
Abraço

Anónimo disse...

Meu Querido


Sou sabedora disso.


Beijinho

O Réprobo disse...

Ora ainda bem, é sempre bom conversar com uma Tal Interlocutora.
Beijinho