domingo, 3 de fevereiro de 2008

A Chuva e o Bom Tempo

Na constatação da partida da Meteorologia aos foliões, apetece relembrar o quinhão luso de uma velha tradição popular encontrável em muitos outros países da Europa - a ligação da instabilidade atmosférica e da frialdade prolongada à duração mais curta do mês de Fevereiro, mormente na imaginação de dias de empréstimo, nas suas relações com Março.
Assim, Adolfo Coelho conta-nos que ainda no tempo dele velhinhas da Foz do Douro separavam o mito em duas partes, a de que Fevereiro teria ficado compadre de Março - e com três dias a menos - por lhe ter emprestado os seus últimos três (dois) por uma tijela de papas e que tinha a mãe desse mês abreviado pedido que ele a pusesse ao sol para se aquecer, mas que quando ela se aquecia o patife fez um grande aguaceiro que a matou. O que, quanto a mim, réprobo também nestas ligações, é uma mitificação não só da observação do clima, mas, igualmente, associação às brincadeiras (peças, dir-se-ia no Brasil) carnavalescas.
Seja como for, o calendário e a agressividade da temperatura e pluviosidade acham-se reunidos numa só fala tradicional atribuída na Beira Baixa ao mês mais curto.
A mim chamam-me arreganhado,
Mas deixai vir o meu amigo Março
Que de mim tomou quatro
(mas tomou só três)
Que não ficará ovelha nem farrapo
Nem pastor, se fosse fraco.
Uma constante se nota, a de fazer coincidir dias de empréstimo com dias sem préstimo.

Sem comentários: